domingo, abril 30, 2006

Entretanto, no Darfour

Um conflito esquecido está a incendiar um território árido e pobre, sem qualquer relevância para os interesses dos países ricos. Chama-se Darfour e a comunidade internacional devia agir nestes casos.
A rebelião teve origens pouco claras (que eu entenda) e foi iniciada há três anos. Penso que os rebeldes estariam a contestar a divisão dos parcos recursos do Sudão; mas, como é normal em África, podia haver razões mais subtis, étnicas e tribais, ou interesses estreitos de líderes. O que se conhece melhor é que o Governo sudanês retaliou sobre a população do território com invulgar brutalidade, criando uma milícia, os Janjaweed, cujas acções já mataram pelo menos 200 mil pessoas, devastando aldeias e forçando à fuga muita gente desarmada. O conflito no Darfour já produziu uma grande colheita de desgraças e pelo menos 2 milhões de refugiados. A violência ameaça outros países pobres da região, como Chade ou República Centro Africana.
Neste momento, discute-se um plano de paz e há notícias de que os sudaneses aceitaram desarmar os Janjaweed. No entanto, não há garantias de que o problema seja resolvido. Nos Estados Unidos, decorrem pressões para que se mobilize uma intervenção externa, mas ninguém tem ilusões: americanos e europeus enviaram soldados para o Kosovo para evitar o que se apresentava como sendo um genocídio (que não era), mas nunca farão o mesmo no Sudão, onde decorre um genocídio a sério, mas onde nenhum dos seus interesses está posto em causa.
Uma vida no Darfour tem pouco valor. Mas o pior, o verdadeiramente trágico, é que o Darfour não tem relevância para os nossos interesses e o mundo rege-se por interesses, não por valores.

Futebol de antologia



O adversário remata fraco e denunciado. O guarda-redes agacha-se e faz a concha com as mãos. Pelas regras da tribo do futebol não havia grande coisa a esperar dali. Mas como o guarda-redes em questão é o RICARDO... é servido FRANGO DE RATA! Confesso que há muito não me ria a ver um jogo. Depois lembrei-me que ele é o número 1 das quinas...

Tertúlia literária (5)

- Paulo e Virgínia.
- Orgulho e Preconceito.
- Sangue e Arena.
- Crime e Castigo.
- Nove e um quarto. Vamos embora que se faz tarde.

Papoila saltitante

Finalmente uma boa notícia para o Sport Lisboa e Benfica: Luís Filipe Vieira admitiu não se recandidatar à presidência do clube.

Um político sem relógio (1)

José Alberto Pereira Coelho, um histórico militante do PSD com assento no Conselho Nacional social-democrata, quer ascender à liderança do partido. Está no seu direito. Para isso, precisa no entanto de aprender algumas regras básicas. Uma delas é honrar com um mínimo de civilidade os compromissos que assume. Não foi o que sucedeu ontem. Os jornalistas foram convocados para uma conferência de imprensa do candidato, na sede nacional do PSD, com início marcado para as 19 horas. Mas a essa hora a porta da sede estava fechada e nada se sabia de Pereira Coelho, que pelos vistos não usa relógio. Soube-se depois que estaria fora de Lisboa, "talvez em Santarém", acelerando a caminho da capital. Esperei meia hora na rua, com um repórter fotográfico do jornal. Às 19h30, perante a ausência de notícias do putativo candidato ao lugar de Marques Mendes, chamei um táxi e fui embora. Há limites para a falta de consideração pelos profissionais da informação, sobretudo por parte dos políticos, que são os principais interessados em ver divulgados os seus pontos de vista. Meia hora de tolerância, num caso destes, já é demais...

Um político sem relógio (2)

Claro que para os políticos mudarem de atitude é necessário os jornalistas assumirem posições firmes na defesa do seu direito de não serem desconsiderados por parte de quem pretende desempenhar um cargo público. E de serem apoiados, nessa atitude, pelos seus responsáveis hierárquicos. Descortesias como a de Pereira Coelho não merecem outra atitude. E já agora fica também o aviso a Marques Mendes, outro social-democrata que faz gala em não cumprir horários. A competência - ou a ausência dela - também se avalia por coisas destas.

O bombista-suicida

Um livro: O Médio Oriente e o Ocidente – O que ocorreu mal? (Bernard Lewis, edição Gradiva). A melhor introdução à história dos países islâmicos disponível no mercado editorial português. Com a vantagem acrescida de ser mais do que uma simples introdução. É uma análise detalhada das razões históricas que conduziram a civilização muçulmana – outrora uma das mais florescentes do planeta – à estagnação dos últimos séculos. Especialista deste tema, Bernard Lewis escreve sem sombra de preconceito sobre os herdeiros espirituais de Maomé. Mas não deixa de assinalar o seguinte: “Se os povos do Médio Oriente continuam pelo caminho actual, o bombista-suicida pode tornar-se uma metáfora adequada para descrever toda uma região, apanhada sem escapatória num círculo vicioso de ódio e vingança, frustração e autocomiseração, pobreza e opressão.” Palavras lapidares, escritas em 2001. E hoje mais actuais que nunca.
Classificação: ****

Frases de filmes (6)

"Nunca odeies os teus inimigos. Isso afecta o teu discernimento."
Michael Corleone/Al Pacino
em O Padrinho III (1990)

Pistas de reflexão

Três textos importantes, que justificam reflexão na blogosfera:
1. Sobre o absurdo a que chegámos no "jornalismo antecipativo", que confunde factos com a suposta antevisão dos mesmos. De João Pedro Henriques, na Glória Fácil.
2. Sobre outro absurdo, desta vez no domínio da rádio, que ignora a música portuguesa por vezes em percentagens escandalosas. De João Paulo Meneses, no Blogouve-se.
3. Sobre a queda progressiva da qualidade da informação da SIC, que chegou a ter uma das melhores Redacções do País e onde ainda hoje trabalham excelentes profissionais do jornalismo. De Nuno Azinheira, no DN de ontem.
Voltarei eu próprio a qualquer destes temas, juntando-me ao debate.

sábado, abril 29, 2006

Mais ligações

ABC, de Paulo Pinto Mascarenhas. Blogouve-se, de João Paulo Meneses. A Invenção de Morel, de José Mário Silva. Portugal dos Pequeninos, de João Gonçalves. Com todo o mérito, passam a figurar na lista de endereços aqui ao lado.

Tertúlia literária (4)

- Álvaro de Campos ou Alberto Caeiro?
- Prefiro o Jorge Coroado, que escreveu agora um excelente livro sobre os bastidores da arbitragem.

O restaurante e o pintor

Já me tinham falado do restaurante, mas só ontem lá fui, com um grupo de gente amiga. Chama-se Os Bichos, (Rua Poiais de São Bento, 38, Lisboa). É uma casa pequenina, mas com uma ementa que se recomenda, baseada sobretudo em pratos de raiz alentejana. Hesitei entre empadas de Nisa, carne de alguidar com migas e tomatada de bacalhau, acabando por escolher este último prato, que me pareceu o mais original. E fiz bem: estava óptimo, o que me leva a dar os parabéns às irmãs Anabela e Susana Bicho, proprietárias do estabelecimento. Mas o melhor da refeição foi ver na mesa ao lado o grande Júlio Pomar. Em excelente forma, aos 80 anos, continua a apreciar os sabores da vida. E a pintar melhor que nunca.

Já não há pachorra

Para as frases sempre verborreicas do eterno padre Melícias. Uma autêntica "picareta falante", agravada pelo uso imoderado do latim: quase faz Guterres passar por mudo.

O dislate da semana

"Em democracia se ganha e se perde."
Guilherme Lemos, candidato (derrotadíssimo) à presidência do Sporting, 28 de Abril

As palavras dos outros

"O caminho mais curto entre a ideologia e o poder é a corrupção."
Millôr Fernandes, Veja, 19 de Abril

25 de Abril!


Ora deixa lá ver... hmmmmm... OK... parece-me bem... está decidido! Este ano não celebraremos os 32 anos do 25 de Abril!!!

Fotografia: Rodrigo Cabrita

P.S. - Aconselho a lerem a crónica do Ricardo Araújo Pereira na Visão sobre o 25 de Abril na Madeira... Muito bom!

sexta-feira, abril 28, 2006

Jornalistas patriotas

O jornal "Meios & Publicidade" andou a perguntar a jornalistas se era possível misturar nacionalismo e jornalismo.
Uma sondagem a propósito "da recente visita do primeiro-ministro, José Sócrates, a Angola, que levantou a questão do posicionamento dos jornalistas face a assuntos de interesse nacional". Importa aqui esclarecer que a questão foi levantada à conta de um trabalho meu sobre direitos humanos em Angola - em plena visita oficial - criticado por um sub-director de um semanário que me reprovou por falta de sentido de Estado.
O inquérito revelou que "55 por cento dos profissionais que fazem parte do painel defendeu que patriotismo e jornalismo são conceitos conciliáveis". Mas o mais assustador foi a percentagem de respostas afirmativas à pergunta se as questões de "interesse nacional" se devem sobrepor aos critérios editoriais: 42 por cento dos inquiridos optaram pelo "sim, mas apenas em casos excepcionais".
A minha experiência em Angola leva-me à seguinte conclusão: Quanto maior o patriotismo, menor o jornalismo.

Luta de classes


"Há a primeira classe, a classe executiva e... hum a outra".

José Sócrates, na Assembleia da República, esta quinta-feira, quando questionado pelo CDS sobre a razão de os membros do Governo terem de viajar em classe turística, mas com um regime de opting-out em que o Estado compensa a TAP pela diferença e eles, afinal, passam para a primeira classe. Ou será classe executiva? Não sei bem...

Tertúlia literária (3)

- Costuma ler o quê quando vai de metro?
- O Metro.
- Só?
- Às vezes também o Destak.
- Nunca um livro?
- Não sabia que eles também ofereciam livros no metro.

Como nos filmes

Gosto do bar do Hotel Ritz, sobretudo aos fins de tarde. Com a sua atmosfera de anos 50, é um dos melhores recantos de Lisboa. Tem um charme inultrapassável. Fui lá esta semana. Bebericava um sumo de tomate temperado e trincava umas castanhas de caju sem me apetecer abrir o jornal. À minha volta, gente conhecida. Um dirigente socialista com notórios interesses empresariais conversava com visitantes estrangeiros. O director de uma das principais agências de comunicação portuguesas pontificava numa mesa muito engravatada. O patrão de um influente órgão de informação trocava confidências com uma das suas mais competentes jornalistas. E o pianista tocava La Vie en Rose. Por momentos pensei que a música não podia ser mais apropriada ao cenário circundante. Parecia uma cena de filme. Deixei-me ficar um pouco mais. Como se o tempo pudesse parar.

O enigma

Quem será o antigo jornalista e ex-assessor governamental que está a prestar uma "preciosa" ajuda ao inefável Zé Beto na corrida pela liderança laranja? Pode dizer-se que a surpresa por esta descoberta foi tão grande como saber que a mesma figura esteve na cerimónia de cumprimentos ao novo Presidente da República no Palácio da Ajuda? Logo ele que foi responsável por tantas manchetes anti-Cavaco... Que lata.
Uma ajudinha: as iniciais dele são PG. Já agora, para que serve a ajuda "preciosa" do homem que está hoje em dia tão próximo de alguns serviços bem informados? Ou muito me engano ou alguém bem colocado está a brincar tanto com o partido da São Caetano à Lapa como está a brincar com o do Caldas, ao lançar candidaturas imberbes.

Não há coincidências?


Muita gente ainda anda desconcertada com o discurso proferido pelo Presidente da República nos 32 anos do 25 de Abril. Queriam que falasse das contas públicas, dos relatórios do Banco de Portugal ou da OCDE, que apontasse o caminho ao Governo ou que, pelo menos, puxasse as orelhas aos deputados faltosos. A verdade é que Cavaco Silva preferiu demonstrar, à sua maneira, que a justiça social não é património da esquerda e pediu um compromisso cívico para a inclusão social. Com a participação de todas as forças políticas e num ambiente de concertação social.
Entretanto, na defesa do estafado Estado Social, Sócrates foi esta quinta-feira à Assembleia da República apresentar não só as cinco propostas para uma reforma da Segurança Social, como também falar da "evolução dramática da natalidade", do "reforço da protecção na invalidez e na deficiência". Protecção a ser alargada "às crianças e jovens órfãos". Entre as cinco medidas consta também o patamar máximo para as pensões pagas pelos sistemas públicos. Tudo claro, reforçou o primeiro-ministro, com muita abrangência e se possível com uma ajudinha da concertação social.
É claro que isto ainda não significa uma adequação da agenda política do Governo à do Presidente. Até porque o pedido de Cavaco Silva para começar a tentar encontrar soluções para reduzir o dualismo social ou o "Portugal a duas velocidades" leva tempo a realizar e não passa só por um apertar dos escalões das reformas, passa pela redução das distâncias entre litoral e interior e passa, sobretudo, por "não pedir mais sacrifícios a quem viveu uma vida inteira de privação". E isso Sócrates ainda não pode prometer.
Mas será mera coincidência que num dia o PR fale de um "compromisso cívico para a inclusão social" e que, dois dias depois, o primeiro-ministro apresente de rompante as várias mexidas na Segurança Social, muitas delas ainda não devidamente estudadas mas prontas a levar à AR, sempre com muito cuidado de arranjar consensos (que a maioria absoluta até dispensa) e de ter alguma sustentação social para as medidas? Francamente não sei, fico à espera que os mesmos que descobrem vocações cesaristas no PR me digam, mas lá que o PM anda a tomar muitas notas no seu moleskine, lá isso deve andar...

As palavras dos outros

"Quando uma pessoa é obrigada a viver na companhia dos nossos políticos chega-se, ao fim e ao cabo, a perder toda a fé e uma mínima esperança de melhoramento."
D. Pedro V, em carta ao tio, o príncipe Alberto de Inglaterra (1859)

Novas ligações

Mais Actual, de Rui Costa Pinto. A Sexta Coluna, de Eduardo Nogueira Pinto. Quatro Caminhos, de Ana Cláudia Vicente. Papagaio Morto, de Leonardo Ralha. Welcome to Elsinore, de Carla Carvalho. Tudo blogues com nome próprio. A partir de agora na nossa lista de endereços.

Quinta Feira Santa XXXVII

Sem querer bater mais "no ceguinho", soubemos hoje que cerca de metade dos deputados não justificaram a sua falta de Quarta-Feira Santa (o que está certo, não vale inventar) e que dentro daqueles que o fizeram, destaca-se entre várias razões o "motivo inconfessável".
Caramba! Dá para pensar em cada coisa!!!

quinta-feira, abril 27, 2006

Aposta

Aníbal Cavaco Silva não fica mais de cinco anos em Belém. Aposto com quem quiser.

Tertúlia literária (2)

- Olha, a loura que era morena agora também tem olhos azuis!
- Imposição da editora. Vai publicar mais um romance.

Blogues em revista

Sobre o Tempo que Passa: "Como dizia Ortega y Gasset, todas as revoluções são pós-revolucionárias. Medem-se menos pelas intenções dos primitivos revolucionários e mais pelas acções concretas dos homens concretos que fazem a história, sem saberem que história vão fazendo." (José Adelino Maltez)

Canhoto: "O que são livros de ponto e faltas ao pé do vazio a que se assiste em momentos nobres da vida parlamentar como os debates com o primeiro-ministro?" (Pedro Adão e Silva)

Tomar Partido: "Ainda não percebi por que é que José Sócrates fala sempre tão irritado no Parlamento." (Jorge Ferreira)

Tristes Tópicos: "A abnegação é um estado possível de felicidade. A habituação é outro." (Helena A. B.)

A Praia: "O sexo não é muito importante para a maioria dos casais que conheço. O desporto realmente importante é esticar a corda." (Ivan Nunes)

Conversa de barbeiro

- Isto é que vai uma crise por esse mundo fora! O amigo já viu como os árabes andam assanhados?
- Por mim deixava esses gajos matarem-se uns aos outros. Era remédio santo. Cortava-se o mal pela raiz. Ouça o que eu lhe digo: a culpa de tudo o que se passa é deles!
- Mas depois, com eles mortos, quem é que mandava o petróleo para cá?
- Ah, o petróleo... Tem razão. A gente precisa que os gajos escavem os poços lá na terra deles. Sem isso os nossos transportes não funcionam.
- Lá tínhamos que andar todos à pata...
- Deviam era limpar o sebo ao raio dos judeus, que chateiam meio mundo. Ouça o que eu lhe digo: a culpa de tudo o que se passa é deles!

A eterna Alida Valli

O cinema europeu produziu menos estrelas do que o americano. Mas algumas delas são inesquecíveis. Foi o caso de Alida Valli, agora falecida. Beleza, sofisticação, um certo ar de mistério e sobretudo um imenso talento caracterizavam esta italiana que protagonizou filmes durante mais de seis décadas. Vi-a em várias obras-primas - do Sentimento, de Visconti, à Estratégia da Aranha, de Bertolucci, passando por um filme emblemático dos anos 50, hoje incompreensivelmente quase esquecido: O Grito, de Antonioni. Mas a mais memorável das suas interpretações foi no papel de Anna Schmidt, em O Terceiro Homem, de Carol Reed (1949). Uma película que tem uma das melhores cenas finais de toda a história do cinema. Altiva, orgulhosa, Alida Valli deixa o cemitério de Salzburgo e caminha estrada adiante, indiferente à boleia que Joseph Cotten lhe oferece, enquanto escutamos o sublime tema musical extraído da cítara de Anton Karas. E assim a víamos até se perder na linha do horizonte. Entrando directamente na galeria das figuras eternas da Sétima Arte.

Uma boa notícia

A ministra da Cultura decidiu manter João Bénard da Costa à frente da Cinemateca Portuguesa.

Bela oposição

É incrível que partidos como o PSD e o CDS/PP, ambos envolvidos em eleições directas para a liderança, só consigam gerar candidatos de baixo calibre para concorrer com Luís Marques Mendes e José Ribeiro e Castro. E que os verdadeiros opositores internos não saiam da sombra e antes alimentem uma série de jogadas de bastidores que em nada credibilizam os partidos em causa. Ou alguém acredita que no PSD não haja um candidato melhor que o inefável Zé Beto? E que no CDS aquele que já foi em tempos conhecido como "deputado-Clearasil" seja, para além dos candidatos locais, o único com capacidade para ir a jogo? Com uma oposição assim, que se leva a si própria tão pouco a sério, José Sócrates pode estar descansado. Estou plenamente de acordo contigo, Susana.

quarta-feira, abril 26, 2006

Чорнобиль


Estive em Chernobyl em 1997 com o antigo Presidente Jorge Sampaio, no segundo ano de mandato deste, e admito que a experiência marcou-me bastante. Partimos cedo de Kiev e a chegada à central propriamente dita foi vivida com apreensão por todos quantos iam a trabalhar ou a acompanhar a visita presidencial à Ucrânia. Muitos, lembro-me bem, perguntaram ao ministro da Ciência, Mariano Gago (o mesmo de hoje, curiosamente), se a visita não acarretava danos para a integridade física de cada um. Foi-nos dito que não, o tempo que ali passaríamos não era o suficiente para isso, nem os níveis de radioactividade estavam assim tão elevados no posto de observação para onde seguimos.
A verdade é que durante a visita vários de nós íamos sempre de olhos postos no aparelhómetro que media a radioactividade. E assistimos atentos às explicações sobre os perigos que advinham da deterioração do sarcófago construído sobre o reactor e que naquela altura (pouco mais de dez anos depois do acidente) já estava em avançado estado de degradação. Na altura, Sampaio ouviu dos responsáveis ucranianos a necessidade de haver ajudas internacionais para reforçar a estrutura de betão do sarcófago, construída nos dias seguintes ao acidente de 26 de Abril de 1986 por homens corajosos que ficaram sujeitos aos mais altos índices de radioactividade. Na volta da viagem, a bordo do avião presidencial fretado para o efeito, o Presidente Sampaio confidenciou-me que iria escrever ao então Presidente Bill Clinton sobre o assunto. Há semanas tive a oportunidade de comentar estas e outras coisas com um Jorge Sampaio já em fim de mandato e o sentimento foi o mesmo. Quem lá esteve não esquece.
Aquele dia passado na central nuclear e, sobretudo, a visita que fiz a Pripyat, com mais uns tantos jornalistas e repórteres fotográficos, como o Rui Ochoa, fica para sempre. Na cidade-fantasma de Pripyat (num raio de três quilómetros da central) viviam a maior parte dos trabalhadores da central de Chernobyl e as suas famílias. Quem foi a Pripyat (na foto), ultrapassou a cerca e circulou pelas ruas fica com algumas imagens terríveis guardadas na memória. Jardins de infância abandonados tal como estavam nos dias que se seguiram ao acidente (sim, porque as autoridades soviéticas demoraram a avisar as populações e a ordenar a evacuação), escolas viradas do avesso com os livros no chão, lojas de electrodomésticos intactas, casas com as janelas abertas e as cortinas a abanar... E nem uma pessoa, numa cidade-dormitório com alguns milhares de habitantes. Só nós.
Quando saímos por breves instantes da navette sentimos um arrepio na espinha. Falo por mim, mas quase de certeza que todos o sentiram. Olhava-se em volta e era uma calma de morte.

Tertúlia literária (1)

- José Rodrigues dos Santos ou Rodrigo Guedes de Carvalho?
- Prefiro a Manuela Moura Guedes.
- Mas ela não escreve romances...
- Por isso mesmo.

Não foi para isto que Cavaco foi eleito

Alguém deve andar muito enganado lá pelos corredores de Belém. Nestes primeiros tempos de Presidência, Cavaco Silva foi a um hospital, visitou militares e mostrou-se preocupado com a inclusão.
Três tiros na água. Até pode ser essa a presidência com que Cavaco Silva sonha para si, mas não é essa a magistratura de influência que os portugueses lhe vão cobrar. Os eleitores que o colocaram no palácio cor-de-rosa não querem que o novo Presidente ande a falar de Wellfare State.
Os eleitores de Cavaco deram-lhe a vitória por duas razões muito simples: Por quererem alguém que perceba de números a vigiar Jósé Sócrates. Por pretenderem em Belém alguém com autoridade para puxar as orelhas aos políticos, quando a ocasião se apresente.
Foi para isso que foi eleito. Se fosse para visitar hospitais, tratar de honras militares ou chorar ao lado dos desfavorecidos teriam eleito o bonacheirão do senhor Mário Soares. Alguém deve andar mesmo muito enganado lá para os lados de Belém. Ou nas nuvens...

Cortar é com ele...


Nuno Sá Lourenço em breve no Corta-Fitas.

Sá Pinto - O "Último dos Moicanos" ?


Soubemos agora que Ricardo Sá Pinto não mais jogará futebol profissional.
O conselho disciplinar da liga atribuiu dois jogos de castigo ao jogador em consequência de algum impropério dirigido ao fiscal de linha no passado jogo entre o Sporting e a Naval em que o seu (meu) clube foi literalmente vilipendiado pela equipa de arbitragem. Sá Pinto tinha anunciado o final da carreira para o final desta época. Não sendo politicamente correcto, (e correndo o risco de ser mal entendido) quero deixar aqui expresso a minha admiração por este jogador extra - ordinário, que primou a sua arte com paixão e emoção, além da técnica, contra o "calculismo" e a "gestão da carreira" tão na moda e que ameaçam estrangular o circo do Futebol. Provavelmente, ganhou um lugar especial na história do NOSSO CLUBE, e um lugar no coração de todos os Sportinguistas.

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O prazer do charuto

É um inequívoco sinal dos tempos. Volta e meia, uns sujeitos promovidos a "figuras públicas" confessam aos jornais, com tiques de novo-riquismo, que nada lhes dá "mais prazer do que fumar um bom charuto". Leio sempre estes perfis jornalísticos com alguma perplexidade. Será mesmo possível que nada na vida lhes dê "mais prazer" do que "um bom charuto"?

Dicionário de politiquês (XVII)

Pragmatizar. Verbo preferido de um político especialista em ser de esquerda às segundas, quartas e sextas, e de direita às terças, quintas e sábados. Aos domingos, descansa. Sonhando fazer uma coligação consigo próprio.

Cavaco e o cravo

Regresso a Lisboa, após um período de férias, e verifico que o grande foco de polémica nestes dias foi o facto de Cavaco Silva não ter posto um cravo vermelho na lapela durante a sessão solene comemorativa do 25 de Abril. Como se não houvesse problemas sérios no País. Eis Portugal no seu melhor.

terça-feira, abril 25, 2006

O primeiro de muitos

A jornalista Maria Inês de Almeida lançou ontem o seu primeiro livro, que se chama "Canto e Castro - Vou Contar-te Uma História". A apresentação foi no foyer do Teatro da Trindade e coube a Francisco Moita Flores e a José Eduardo Agualusa. Prémio Valorsul para trabalhos na área do Ambiente com uma excelente reportagem sobre o tratamento do lixo em Lisboa, Maria Inês de Almeida estreia-se agora nos livros, com uma biografia do actor recentemente falecido. Parabéns Inês e que seja o primeiro de muitos... Pelo que sei o próximo está já a ser preparado e será de um genéro radicalmente diferente. Assim é que é.

segunda-feira, abril 24, 2006

O cinema independente

O festival de cinema independente Indie Lisboa é o óptimo inverso do esmagador pensamento único que caracteriza o cinema de Hollywood. Sou apreciador do cinema clássico americano, mas acho que a máquina industrial entrou numa fase de acentuada decadência, pois os filmes deixaram de ser grandes histórias para se tornarem grandes proezas técnicas ou boas ideias transformadas em algo de mais pequeno, para poderem girar em torno de um actor vedeta. Progressivamente, estão a perder-se as interpretações e os argumentos.
Por isso, eventos como o Indie Lisboa são tão importantes, pois vão contra a corrente.
Vi vários filmes, mas queria destacar dois:
Rockumentário, de Sandra Castiço, uma média metragem documental, e A Sagrada Família, uma longa metragem de ficção, do chileno Sebastián Campos.
O filme português é uma curiosa transgressão na companhia de uma banda rock, os Bunnyranch. Penso que Sandra Castiço faz aqui o retrato melancólico do País real, com enorme carinho pelas personagens que filma. Por vezes, tive a sensação de que tudo aquilo era ficcionado, de tal forma as figuras me pareciam improváveis. Há um momento tocante, quando Kaló (a figura principal) diz qualquer coisa como isto (e cito de cor): é preciso ter simpatia pelos perdedores. A ideia resume o filme, que no fundo tenta mostrar aquilo que no nosso País querem que continue invisível, varrido para debaixo do tapete, para não ferir as susceptibilidades pequeno-burguesas. Pena o som directo ter baixa qualidade, inevitável num filme de pequeno orçamento.
Classificação: ***
O filme chileno é muito literário e roda em torno de uma família. É uma história sobre o poder, na perspectiva de luta entre gerações, choque da modernidade e tirania do sexo. Sebastián Campos consegue uma brilhante análise onde o espectador adivinha muito mais do que vê na realidade. E toda a paixão é filmada com uma espécie de brandura, sem nunca cair no sentimental. Há crueldade, traição, inveja e, apesar de tudo, amor. Contradições, no fundo, porque as pessoas nunca são lineares. Os diálogos estão escritos de forma brilhante, quase numa oralidade que dá ao filme um tom de documentário, forçando o espectador a viver aquele universo. Por vezes, A Sagrada Família tem uma aspereza difícil de suportar, mas sempre sem o exagero em que tudo aquilo cairia, se fosse um filme de Hollywood. Os actores são excelentes e o maior defeito talvez seja o final, onde o realizador não nos surpreende inteiramente.
Classificação: ****

A arte do conto: Eduardo Antonio Parra


Integrado na colecção Ovelha Negra, que tem excelente grafismo, a Oficina do Livro publica Terra de Ninguém, de um jovem autor mexicano, Eduardo Antonio Parra, que me parece ser um verdadeiro mestre na arte do conto. Parra, nascido em 1965, é do norte do México e conta histórias sobre personagens da fronteira com os Estados Unidos e os conflitos que se vivem naquela geografia extremamente violenta. Neste livro, que recebeu o Prémio Juan Rulfo, o meu destaque vai para o conto que tem o título A Vida Real, onde o autor, em estilo simples, conta uma história profundamente comovente, que é também uma brutal tragédia. Infelizmente, a literatura portuguesa não tem grandes tradições no texto de pequena dimensão, penso que por razões de mercado, muito mal explicadas. Não é o caso da língua castelhana, onde Juan Rulfo, Jorge Luis Borges, Jorge Onetti, Julio Cortazár ou Garcia Márquez inspiraram novas gerações de escritores, os quais cultivam a linguagem contida e precisa, além de uma ternura imensa pelos perdedores.

Na mesma colecção e editora, a novela “As Batalhas no Deserto”, de outro mexicano, José Emilio Pacheco. Também autor de contos, Pacheco (1939) é um dos mais importantes escritores latino-americanos da actualidade.

domingo, abril 23, 2006

Um mito

Existe um bizarro mito, segundo o qual os americanos estão geralmente muito mal informados sobre o exterior do seu país. Com base em provas anedóticas (Bush perguntou ao Presidente brasileiro se havia muitos negros no Brasil), esta fantasia é muito popular na Europa. Há dois dias, o coordenador das organizações de espionagem americanas, John Negroponte, fez um discurso público onde afirmou que a burocracia que se dedica à recolha de informação estratégica emprega “100 mil patriotas”, espalhados por 16 entidades. Os Estados Unidos gastam anualmente 44 mil milhões de dólares em espionagem, um terço do PIB português. Isto representa quase 150 dólares por cada americano. O orçamento da comunidade de espionagem dos EUA equivale a metade do orçamento total da União Europeia. Negroponte disse outra coisa interessante: admitiu que o Irão está longe de conseguir reunir material físsil suficiente para uma bomba atómica. Talvez “no início da próxima década” o consiga fazer.

Ex-Presidente

Será que o nosso tio Sam vai dedicar mais tempo ao seu desporto favorito, agora que está mais livre?
(Dezembro 1999)
Foto: Leonardo Negrão

sábado, abril 22, 2006

O regime político


O episódio do absentismo parlamentar, que teve direito a suplemento em votação patética, revela o enorme mal-estar da República. Esta atitude dos deputados parece ser sintoma de que não se levam a sério. E têm razão para isso. A maior parte da legislação que o País adopta vem de Bruxelas. Basta fazer uma visita ao Parlamento Europeu para compreender onde está o verdadeiro poder legislativo. Não admira que a nossa assembleia tenha aquele ambiente tépido, de modorra provinciana e absentismo larvar.
No entanto, e apesar do poder que possui, o Parlamento Europeu é escolhido através de eleições com enorme abstenção, que os media apenas respeitam no caso de se discutirem assuntos da paróquia. Os partidos enviam deputados de valor, mas em cada lista há sempre um ambicioso que vai “descansar” para Bruxelas ou um desbocado de quem a direcção se quer desembaraçar. Os cabeça de lista são segundas linhas, pois o trabalho no PE torna-se minucioso e aborrecido, exigindo habilidade, ao envolver diferentes partidos, delegações nacionais, ideologias, personalidades e culturas.
Os partidos não estão em crise na perspectiva do eleitorado os substituir por populistas, extremistas ou demagogos. Mas a crise dos partidos tem a ver com sua crescente dependência dos interesses de grupos (este problema é sobretudo grave nos Estados Unidos), o que dá enorme poder às oligarquias.
A fragilidade do regime democrático contemporâneo é que, de facto, a política tende para a mediocridade. Provavelmente, este é um problema mais geral, que começa na chamada “comunicação social” e acaba na cultura. Os media tradicionais estão cada vez mais previsíveis e descerebrados, reflectindo uma sociedade alienada e superficial. A informação está disponível, o difícil é ir além do verniz diáfano que paira sobre as coisas.

Responsabilidade...



Nos últimos tempos, as minhas leituras tenderam para o tema do Séc. XIX em Portugal. Fascinei-me com a intriga e vida de José Vieira de Castro em "Glória" de Vasco Pulido Valente, deliciei-me com a colecta da Maria Filomena Mónica de "As Farpas" de Eça de Queiroz, e acabei de ler ontem a Biografia de D. Pedro V da mesma historiadora. Parece-me que os nossos ilustres jornalistas e observadores de política nacional só têm a ganhar em estudar bem esta época fascinante. Emergidos de uma desestruturante tragédia que foi o terremoto de 1755, os recursos da expansão maritima tendem a acabar. Prevalece a precariedade das vidas; as pestes, uma pobreza endémica. Generalizando, um povo miserável, ignorante e dependente, uma classe média "boçal" (nas palavras de MFM) um clero inculto e acossado, as elites decadentes são o pano de fundo para a instauração de uma nova ordem que é o regime constitucional e representativo. E por aí entramos no Séc. XX. Pergunto: Quantas mais gerações serão necessárias para resolver tantos anos de fome e ignorância? Tem sido essa a prioridade dos nossos governos? O investimento no ensino, na responsabilização, a cidadania, a ética têm sido as nossas prioridades? Qual é a nossa (de cada um) responsabilidade?

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O exemplo vem de cima

- Mandei chamá-los aqui à escola porque o vosso filho tem um problema grave de comportamento. Falta sistematicamente às aulas.
- Não sabemos o que havemos de fazer, senhora professora. Ele agora só nos diz que quando for grande há-de ser deputado...

Cinema negro revisitado

Não é um filme para todos os paladares. Mas é, sem dúvida, uma grande e singular homenagem ao cinema norte-americano. Num registo irónico, exemplarmente bem escrito e bem interpretado por um fabuloso naipe de actores. Falo de Golpe Frio, uma película de Harold Ramis, que já em 1993 nos tinha oferecido essa obra-prima chamada O Feitiço do Tempo. Compare-se com Uma História de Violência, de Cronenberg, que deixou embasbacada a nossa crítica cinematográfica, e repare-se na diferença: Golpe Frio (como sucedeu há dez anos com Fargo) vai certamente transformar-se num filme de culto. Porque tem ingredientes clássicos, que sobrevivem a todas as modas e a todas as piscadelas de olho a uma certa crítica anestesiada, que julga os filmes apenas em função dos nomes dos realizadores. E tem John Cusack, uma espécie de Bogart do avesso que confirma ser um dos grandes actores do nosso tempo.
Classificação: ****

"A Ronda Nocturna" em americano

Leio num jornal de referência que a RTP2 exibe um programa sobre "o quadro The Night Watch, de Rembrandt". Bush pode não ganhar no Iraque. Mas a batalha cultural e linguística está mais que ganha pelos americanos ao nível planetário. É o que todos os dias se vê em pequenos exemplos como este.

Chegadas e partidas

O Contra-Indicado, um blogue de que gostávamos, terminou no dia em que assinalou o primeiro aniversário. Mas nem tudo são más notícias: registamos a chegada da Calma Penada, de Paulo Cunha Porto, do Papagaio Morto, do Leonardo Ralha, e da Cidade Vaga, de Miguel Cardina. Além disso o Zé Bourbon Ribeiro volta à carga, agora metido na Ordem e Progresso, com cheirinho a Brasil. Que bloguem muito. E bem.

sexta-feira, abril 21, 2006

Jantar de apoio a Soares Franco


Segundo o Horácio de Sá Viana Rebello, a candidatura Soares Franco 2006 vai fazer um monumental jantar de apoio no Centro de Congressos da FIL, dia 26 (quarta) às oito da noite. As reservas para mesas de dez pessoas estão disponíveis através do número 91 334 43 60.
Conheço alguns sportinguistas genuínos na candidatura de Abrantes Mendes, mas parece-me que não há hipótese. Os sportinguistas preferem sempre o seguro ao desconhecido, porque já viveram muitas aventuras com "unhas" e miragens. E ter na lista (como Felipe Soares Franco tem) nomes como Miguel Ribeiro Telles, José Eduardo Bettencourt, Moniz Pereira, Menezes Rodrigues, Diogo Vaz Guedes, Filipe de Botton, Rogério Alves, entre outros, convenha-se que conta muito. E faz a diferença.

É tudo uma questão de dinâmica


Esta quinta-feira não foi só o quórum da Assembleia da República que foi "dinâmico". A votação em si também foi bastante "dinâmica".

Eles vivem

Descansem aqueles que ficaram a chorar com o fim do Acidental, pois o PPM voltou com o ABC. Gosto do nome, até porque sou fã (e já fui um leitor muito assíduo) do jornal espanhol com o mesmo título. Em nome da pluralidade, faz todo o sentido o seu regresso. Vamos ver no que dá e se o José Pacheco Pereira também se atira ao novo blogue... como fez com a revista Atlântico.

Há quem não durma no PS

Para compreender o que vem aí no PS, é ler "Democracia, Política e Populismo", por Paulo Gorjão.

Puro esterco

Vi ontem o pior filme desde que me lembro de ir ao cinema. É uma coisa tão nojenta que nem merece ver o nome aqui reproduzido. "Produtor executivo" deste esterco ainda em exibição: Quentin Tarantino. Um cineasta que parece ter ainda por aí um vasto clube de fãs. Que lhes faça bom proveito.

As palavras dos outros

"Nos regimes aristocráticos, o grande esforço era obter, senão já o favor, ao menos o sorriso do príncipe. Nas nossas democracias é alcançar o louvor do jornal. Para conquistarem essas dez ou doze linhas benditas, os homens praticam todas as acções - mesmo as boas."
Eça de Queiroz

Escola de Lavores

Elas merecem uma referência muito especial. Porque lançaram recentemente um blogue que é um caso sério de qualidade. Elas são a Susana, a Dina, a Ana, a Luísa, a Madalena e a Marisa. A turma da Escola de Lavores, que promete passar com distinção em todos os exames. Por mim, dou-lhes nota máxima.

Blogues em revista

Bandeira ao Vento: "O fundamentalista é aquele que respeita todos os direitos dos outros, à excepção dos fundamentais." (José Bandeira)

Bichos Carpinteiros: "Agora que, finalmente, os manuais escolares vão ter um tempo de vida mais longo, só falta mesmo que as pessoas tenham mais do que um filho para que a medida possa ter alcance." (Joana Amaral Dias)

A Origem das Espécies: "Ainda ninguém se riu da guerra de números sobre a descida do desemprego. Só o Instituto do Emprego murmurou, baixinho, para não estragar a festa: 'Há é menos inscritos nos centros de emprego'..." (Francisco José Viegas)

Tomar Partido: "A vantagem dos blogues é poder dizer o que a Comunicação Social não diz ou o que a Comunicação Social gostaria que ninguém dissesse. É poder dizer o que o poder gostaria que se esquecesse ou que não se soubesse." (Jorge Ferreira)

Amor e Ócio: "Ter um blogue é mais barato do que fazer terapia." (Rui Baptista)

Deputados "rebentam" voto electrónico

Esta quinta-feira o insólito voltou ao plenário da Assembleia da República. Durante a votação da Lei da Paridade, que não aconteceu na semana passada pelos motivos sobejamente conhecidos, o PS e o Bloco de Esquerda só conseguiram 111 votos favoráveis. Contra 90 do PSD, CDS, PCP e Verdes. Acontece que a lei precisava de uma maioria qualificada (116 votos) e o presidente da AR, Jaime Gama, chegou a dar a votação como perdida para momentos depois se gerar o costume por aquelas paragens: A confusão total.
A lei, depois de "verificadas" as presenças dos senhores deputados e de abalada toda a confiança no voto electrónico, é afinal aprovada com 122 votos "sim" do PS e BE e com 96 "não" dos restantes partidos. O CDS apela agora ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, para que mande o diploma para fiscalização no Tribunal Constitucional, o PSD cala-se para já (até é melhor porque se o líder parlamentar Marques Guedes não tivesse sugerido a junção das contagens electrónica e manual, a lei tinha chumbado mesmo) e os comunistas já comentam nos bastidores que quem não quiser cumprir a paridade (um terço de mulheres, pelo menos) na elaboração de listas para a AR, autarquias ou Parlamento Europeu é só invocar a baralhada desta votação.
O voto electrónico, esse, morreu. Vamos voltar ao braço no ar, ao senta e levanta das cadeiras, à contagem por filas. Muito mais seguro, certamente. Até porque os olhos não enganam e o sistema electrónico da AR, velho e caduco (tem apenas três aninhos), não estava habituado a tanta gente em plenário...

Barcelona by night III

Barcelona by night II

Barcelona by night

quinta-feira, abril 20, 2006

Jornalismo impregnado de telenovela

Morre um jovem actor, em circunstâncias trágicas, e logo a TVI transforma a dor em espectáculo mórbido, transmitindo em directo o funeral com recurso até a imagens colhidas de helicóptero. "Numa apoteose de jornalismo impregnado de telenovela", na sábia definição usada, a propósito de um caso bem diverso, por Roberto Pompeu de Toledo na Veja desta semana. Em Portugal, como no Brasil, a tendência é esta.

O bom exemplo espanhol

Zapatero, por quem não tenho particular simpatia, acaba de revelar um exemplar gesto democrático: deu uma extensa entrevista (de cinco horas!) ao jornal que mais tem criticado a sua acção à frente do governo espanhol. Pedro J. Ramirez, director do El Mundo, perguntou o que quis. Zapatero respondeu o que lhe apeteceu. Seria fácil um casos destes ocorrer em Portugal? Todos sabemos que não.

Registo

Estamos desde hoje no Blogómetro. Entrada directa no 85º lugar dos cem blogues mais lidos em Portugal. Fica o registo.

Muro das "lamentações"

Vem aí o Verão. Com ele os festivais. Este foi no Sudoeste. Não lhe chamaria o muro das lamentações, porque ali o baixo ventre não se lamenta. Alivia-se! Temos, pois, um novo lugar de culto por aquelas bandas onde podes rezar, perdoem-me, urinar à vontade. Que bom é não ter de ficar em filas enormes... Mas, bom mesmo, é no dia a seguir, com temperaturas a rondar os 40 graus, o odor que por lá se mantém... Perímetro de segurança: Aconselho uns bons cinco metros!
Bons Festivais!

P.S. - Eu tinha uma casa de banho no centro de imprensa! Ah, ricas vidas! A única vantagem é que não tinha de ficar à espera, no resto, tudo se assemelhava às outras.
P.S (1) - Lamentavelmente, ia-me esquecendo... também tinha cerveja à borla!

Fotografia: Rodrigo Cabrita

Há Música a Mais?

Há música a mais? Concordo com a ideia. O silêncio é de ouro, música a mais é ruído. No escritório? No táxi? No Carro? Na cozinha? Torna-se ruído e é canseira.
A música devia ser para ouvir só quando nos apetece e com “cerimónia”. Com o desejo em ponto “rebuçado”. O resto é “enchimento”. Alienação, desperdício. É saudável ouvir o silêncio e a solidão… em paz.

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Que é feito de si, Francisco Louçã ?

Sendo eu anticomunista primário e, evidentemente, também antifascista primário, tenho que reconhecer que o PCP defende aquilo defende quando os governos são de direita ou quando são de esquerda como este de maioria absoluta do PS pretensamente é. Isso não me faz ter qualquer simpatia por comunistas ou por Jerónimo de Sousa, porque quando começo a cair para aí lembro-me logo do apoio que dão a ditadores assassinos como Fidel Castro e passa-me logo. Agora o Bloco de Esquerda é outra coisa. Onde está a berraria indignada de Francisco Louçã, que descobria um escândalo por semana nos governos do PSD/CDS e agora anda caladinho que nem um rato com as alterações às reformas dos funcionários públicos, o desemprego recorde, uma economia a andar para trás, o aumento do IVA, a colocação de dirigentes socialistas na direcção de empresas públicas e no Tribunal de Contas, a política da ministra da Cultura, a encenação das "reformas", o crescimento dos gastos do Estado, etc, etc, etc ? Dois pesos e duas medidas e os trabalhadores que se lixem. Já nem consciência crítica da esquerda os bloquistas conseguem ser. Têm saído pessoas do Bloco, mas os nossos queridos jornalistas, sempre ávidos quando há qualquer divergência interna no PSD, CDS ou PCP, não ligam nenhuma. Como, aliás, nunca ligaram aos problemas internos desta estranha aliança entre trotskistas do PSR, stalinistas-maoistas da UDP e dissidentes do PCP, que só num país politicamente atrasado como Portugal consegue convencer pessoas com mais de 25 anos.

quarta-feira, abril 19, 2006

O futuro da Europa (III)


Muito interessante o debate interno no blogue Blasfémias sobre o Tratado Constitucional (TC) europeu.
Penso ser oportuno debater a questão, até porque nos encontramos em período de reflexão sobre o assunto e, dentro de um ano, começará a ser evidente que tipo de solução política existe para a rejeição do documento em referendos na França e Holanda.
O ponto essencial desta discussão é o facto do statu quo não satisfazer os interesses dos europeus. O actual quadro institucional não permite contemplar as ambições da União Europeia. Muitos críticos da UE censuram a sua falta de expressão externa, a insegurança, a ausência de uma política comum de imigração. A Europa é tão fraca que em caso de crise internacional, não terá condições materiais para participar numa operação de combate ao lado dos americanos. No Afeganistão, por exemplo, os europeus têm uma missão de paz e qualquer expansão para províncias mais complicadas depara com grandes limitações. A luta antiterrorista constitui um exemplo ainda mais gritante, onde uma lacuna institucional está a criar problemas para todos.
O TC tem várias vantagens, sendo uma das mais importantes a simplificação do extenso labirinto legal dos tratados europeus. Como é que se pretende, por um lado, aproximar a UE dos cidadãos e, por outro, preferir o statu quo?
Não imagino qual será a solução encontrada para ultrapassar esta crise. Parece-me evidente que, sem um novo tratado unificador, a UE vai estagnar ou, no mínimo, entrar num período decepcionante e medíocre.
Como bem exemplifica o “dilema do caramelo”, de Blasfémias, a Europa tem grandes vantagens para todos. Nenhum europeu abdica do privilégio de passar fronteiras sem ter de prestar contas à polícia; muitos portugueses compraram casa com juros mais baixos porque o País entrou na zona euro; a generalidade das empresas portuguesas tem um mercado potencial de 450 milhões de consumidores; e os supermercados estão cheios de produtos mais baratos.

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Contradições à portuguesa

Portugal é um Estado laico que dedica uma devoção muito especial aos feriados religiosos, talhados para ninguém fazer nenhum.

Bloco teme pelo regresso do Presidente-Rei


Curioso que nos últimos dias tenho ouvido uma série de responsáveis políticos, incluindo quase todos os líderes parlamentares, dizerem que existe uma tendência "anti-parlamentarista" muito enraízada na sociedade portuguesa. Onde, como se manifesta e quem a promove é que ainda não se percebeu muito bem. O destinatário-alvo mais fácil é o do costume: a comunicação social. Só que não o dizem, ficam-se pelas entrelinhas, nas sussurros de bastidores e vem tudo a propósito, claro, do episódio de quarta-feira passada, quando 107 deputados (mais 13 que estavam em missão no estrangeiro) se dignaram a faltar às votações no Parlamento para irem mais cedo de férias de Páscoa.
Mas a melhor tirada sobre o tal "anti-parlamentarismo" que abunda por aí e que persegue os deputados, exemplares a todos os títulos só que apanhados num lamentável equívoco, é a de que corre no sangue de muitos de nós uns glóbulos brancos de Presidente-Rei. "Há sempre um sidonismo escondido no anti-parlamentarismo", garante Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda. E esta?

Sonex

A produtividade do nosso País está em baixo, todos nós sabemos... Mas resta saber se é só de agora ou se vem de longe.

2004
Foto: José Carlos Carvalho

Dúvida metódica

O Parlamento é o espelho do País ou o País é o espelho do Parlamento?

A "oposição" eclipsada

Muito já se comentou, na blogosfera e fora dela, sobre a Quarta-Feira Santa sem quórum que devia envergonhar toda a instituição parlamentar. Mas há que estabelecer diferenças entre as bancadas: com justificação ou sem ela, faltaram nesse dia 25% dos deputados do Bloco de Esquerda, 33% dos deputados do PCP, 40% dos deputados do PS e 41% dos deputados do CDS. O comportamento mais vergonhoso foi o dos parlamentares do PSD: dois terços da bancada laranja (50 em 75) eclipsaram-se de São Bento. Conclusão óbvia: com esta dinâmica "oposição" bem pode José Sócrates ficar descansado para o resto da legislatura. A reeleição está garantida.

A direita confusa

O aplauso que uma certa direita portuguesa tem dispensado a Silvio Berlusconi revela bem a confusão de conceitos que vai pairando nesta nossa época de águas turvas. A direita dos valores nada tem a ver com Berlusconi, personagem que não se recomenda a título algum.

Uma nova editora

O meu amigo Horácio Piriquito, antigo parceiro de lides jornalísticas, acaba de dar mais uma prova do seu espírito empreendedor: lançou a Booknomics, nova editora especializada em temas económicos, em parceria com Jaime Cancela de Abreu. Livro de estreia: Petróleo - Qual Crise?, de José Caleia Rodrigues. Um tema infelizmente muito actual. Lá fui ontem, à FNAC do Chiado, onde decorreu a sessão de apresentação da obra, a cargo de António Neto da Silva. Votos de muito sucesso à nova editora.

terça-feira, abril 18, 2006

"Quarta-feira das trevas"


"Foi a quarta-feira das trevas". A frase é de Narana Coissoró, sobre as faltas dos deputados nas votações da semana passada. Narana, velha raposa da política, regressou hoje às lides num colóquio do Parlamento sobre "Ética e Política" e garantiu que quando era vice-presidente da Assembleia da República ficou encarregue de analisar as justificações que os deputados davam para faltar às sessões. E pasmava-se.
A tarefa desempenhada durante "cinco ou seis anos" consistia na análise do chamado "trabalho político" que era constantemente invocado pelos deputados. "O odioso", como chegou a dizer, acabou por ser um "cavalo de batalha" que não valia a pena pôr em campo. E porquê?
Deu como exemplo a final da Taça UEFA, em Sevilha, há três ou quatro anos, quando um grupo de deputados de vários partidos (incluindo o actual primeiro-ministro e o actual líder parlamentar do PS, como fez questão de frisar) invocou o "trabalho político" para ir ver a performance futebolística do FCP na capital da Andaluzia. "Eu vi-os sentados no estádio e depois recebi a justificação de trabalho político"... Mesmo assim, não conseguiu recusar as justificações para as ausências porque, segundo disse, o então presidente da AR (e deixou expresso que falava de Mota Amaral) "não estava interessado" no assunto. Palavras para quê? É o País das trevas, pois então.

O futuro da Europa (II)


A radicalização política no Médio Oriente constitui um argumento a favor da adesão da Turquia à União Europeia. O Governo israelita deve estar amargamente arrependido de não ter negociado mais com a Fatah e com Mahmoud Abbas. Em resultado da frustração dos palestinianos, a chamada “resistência islâmica”, Hamas, ganhou as eleições. A radicalização do Irão é ainda mais perigosa. Após anos em que os reformadores não obtiveram nenhuma concessão do Ocidente, a elite religiosa decidiu desembaraçar-se deles, substituindo-os por uma nova geração de políticos forjados na revolução islâmica. Estes radicais, muitos deles fanatizados, viveram os horrores da guerra com o Iraque e culpam o Ocidente pela derrota então sofrida. Não admira que tentem construir bombas nucleares.
Estes dois exemplos ilustram as possíveis consequências de frustrar as expectativas dos turcos. Se não houver uma razão forte para a Turquia ser excluída, a única interpretação, do ponto de vista turco, é admitir que o Islão constitui a verdadeira causa da exclusão (o que nunca será admitido pelos europeus). Dito de outra forma, excluir a Turquia da adesão à União Europeia sem invocar os critérios de Copenhaga equivale a confirmar as previsões dos radicais islâmicos, para quem o Islão é incompatível com as ideias ocidentais. A Europa terá mais a perder do que a ganhar. A economia turca será bastante moderna na altura da adesão e o Governo de muçulmanos moderados está a fazer reformas corajosas. Uma mudança de atitude por parte da EU seria uma oportunidade política para os fanáticos.
Nos últimos 500 anos, a Turquia (o Império Otomano) participou activamente no jogo político das potências europeias. No século XVIII, os otomanos entraram num declínio irreversível e os europeus de hoje deviam meditar na história de Selim III, um sultão que tentou modernizar o país e acabou por pagar com a vida. O sultão reformista foi também poeta e ousou desafiar os dirigentes religiosos e militares. Acabou deposto por uma coligação de conservadores e o seu sucessor chacinou os reformistas que o tinham apoiado. Em 1808, o próprio Selim, prisioneiro em Istambul, foi estrangulado.

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Angústia existencial

Terão a bomba em Teerão?

Com a mão na boca

Alguém devia atrever-se a dizer um dia ao Grande Escritor Lobo Antunes que é muito feio tapar a boca com a mão durante as entrevistas televisivas em que o senhor aparece sempre com um ar muito maçado, tornando ainda mais imperceptível aquilo que vai dizendo.

Asneiras ao volante

Longe de mim desvalorizar o comportamento inaceitável de milhares de portugueses ao volante. Mas está muito longe de se provar que somos os piores condutores da Europa - ou até do mundo, como tantas vezes se escuta ou se lê. Olhemos para os nossos vizinhos: durante a Semana Santa contabilizaram-se 96 mortos e 50 feridos graves nas estradas espanholas. Números trágicos, sem dúvida. E que demonstram bem que as asneiras rodoviárias não se praticam apenas cá na parvónia.

Cortar fitas em Fortaleza

Nem em férias houve quem perdesse a leitura dos nossos textos. A prova ficou à vista, na semana passada, pelo acréscimo de leitores de Fortaleza, no Brasil, registado na nossa caixa de entradas. Algum deles seria deputado?

As palavras dos outros

"Hoje fazem-se jornais para quem não gosta de ler jornais e escrevem-se romances para quem não gosta de literatura."
Clara Ferreira Alves, Única, 14 de Abril

segunda-feira, abril 17, 2006

"O Código Da Vinci": outro recorde

Fiquei a saber que o objecto mais esquecido pelos passageiros do Eurostar, o comboio que liga Inglaterra e França através do túnel da Mancha, é O Código Da Vinci. Nos últimos 18 meses, mais de mil exemplares do best seller (ou "besta célere", como dizia o saudoso Alexandre O'Neill) foram abandonados nas carruagens - mais do que o sucedido, no mesmo local e no mesmíssimo período, com vulgares luvas e cachecóis, ou até do que os livros do Harry Potter. Fico satisfeito. Deixar O Código Da Vinci a meio é um sinal inequívoco de que os gostos literários europeus estão a tornar-se cada vez mais requintados.

Home sweet home

De volta a casa, ligo a TV e dou logo de caras com Bárbara Guimarães. Que, hiperbólica como sempre, entrevista na SIC Notícias a "grande actriz Cucha Carvalheiro". É bom perceber que tudo está no seu lugar.

Reconhecíveis pelo som

Pronto para regressar à pátria, ainda no aeroporto de Amesterdão, percebo que a turba lusitana não anda longe. Pelo som. Será impressão minha ou os portugueses falam mais alto do que a grande maioria dos restantes europeus?

Banho de civilização

Nada como uma viagem pela Europa, com algumas horas passadas em aeroportos, para pôr em dia a leitura dos jornais de referência do velho continente. Fico a saber muitas novidades. Três em cada dez russos ignoram que o seu país foi o primeiro a mandar um homem - Iuri Gagarine - para o espaço. O derrotado primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi insurge-se contra putativas fraudes eleitorais que, a terem existido, seriam uma prova mais da incompetência do seu governo - motivando aliás um pronto desmentido do ministro do Interior, Giuseppe Pisanu. O El Mundo revela que 43 por cento dos espanhóis insultam o computador no local de trabalho. E Sandi Toksvig garante na sua coluna do Sunday Telegraph que 70 por cento das mulheres preferem o chocolate ao sexo. Eis o que chamo um banho de civilização.

Para a próxima peço Coca-Cola

Voo Amesterdão-Estocolmo da KLM, refeição a bordo. Peço vinho branco: servem-me uma zurrapa da África do Sul. Voo Estocolmo-Amesterdão, também refeição a bordo. Peço vinho tinto: chega um banalíssimo líquido do Chile, que não deixou saudades. Em pleno espaço comunitário, Portugal perde oportunidades de divulgar um dos seus principais produtos de qualidade - o vinho - a favor de concorrentes com menos pergaminhos mas mais agressividade comercial. Moral da história: para a próxima peço Coca-Cola.

Um exemplo a seguir

O maior trunfo actual de Schiphol são as excursões que o aeroporto organiza aos passageiros em trânsito que queiram conhecer Amesterdão e disponham de um par de horas para o fazer. Vantagens de ter um aeroporto próximo da cidade, que bem poderiam ser aproveitadas também pelo da Portela. Quando entrar em funcionamento o da Ota é que não há excursão possível, dada a distância a que aquilo se encontra de Lisboa...

Este aeroporto é um luxo

Schiphol, em Amesterdão, continua a justificar o título de melhor aeroporto europeu. Passei por lá duas vezes numa semana e senti-me num hotel de cinco estrelas. Além de bares e restaurantes, e de todo o género de estabelecimentos comerciais, tem serviço de hidromassagem, parque de diversões infantil, casino e até uma ampla "sala de reflexão" onde vi vários hindus de barba e turbante que pareciam estar mais a dormir uma boa sesta do que a reflectir... O requinte vai ao ponto de haver agora uma exposição temporária no aeroporto com quadros do Museu Rijks, intitulada "Discípulos de Rembrandt". Um verdadeiro luxo.

Aerial – O Retorno de Kate Bush


Tinha que escrever sobre isto: Um dos maiores prazeres de que tenho usufruído nos últimos meses, é a audição do último disco da cantora (poeta, compositora e pianista) Kate Bush. Há muitos anos que um álbum de música dita “popular” não me entusiasmava tanto.
Como tantos outros descobri esta cantora britânica em 1978, através do seu álbum de estreia “The Kick Inside”. Um daqueles raros discos em que cada uma das suas 13 faixas (lembram-se das “faixas”?) devidamente divulgada na rádio era digna de lançar a artista nas tabelas de vendas. Foi o que aconteceu ao tema Wuthering Heights.
Kate Bush, oriunda de uma família de músicos, é antes de uma “invulgar voz”, uma excelente compositora, com muito bom gosto nos arranjos musicais. Uma artista completa, que acompanha a sua poesia ao piano com invulgar competência.
Depois do seu primeiro álbum, “The Kick Inside” acompanhei os álbuns seguintes com expectativa muito alta, Lionheart (1978), Never for Ever (1980), The Dreaming (1982), Hounds of Love (1985), The Sensual World (1989), mas confesso que à parte algumas inegáveis pérolas, mais nenhum álbum me convenceu inteiramente. Parece-me agora, à distância que as suas melodias foram anoitecendo, desvanecendo em cada vez mais complexos e abstractos temas e ritmos pesados, que sempre houve quem o fizesse melhor. O seu ultimo The Red Shoes (1993) nunca conheci.
Depois de treze anos de absoluto silêncio, Kate Bush surge, corajosa quarentona, com um poderoso duplo CD: Este Aerial é uma obra prima em dois discos (A Sea of Honey e A Sky of Honey) de 40 minutos cada, à boa maneira do antigo vinil.
Envolvidos em vozes de crianças e cantos de pássaros, sons de ventos: “(...) Is that the wind from the desert song? Is that an autumn leaf falling? Or is that you, walking home? Is that a storm in the swimming pool? (…) “ somos levados tema a tema por “recordações” fantásticas, como em “A Coral Room”. Visitamos Joana D’ Arc no campo de batalha em “Joanni”: “All the banners stop waving, And the flags stop flying, And the silence comes over, Thousands of soldiers, Thousands of soldiers (...)”. Em PI somos literalmente hipnotizados com um poema feito de números declamados aleatoriamente... Quase oitenta minutos de gozo, e às vezes de arrepiar.
Pesquisei sobre a cantora na net. Fiquei a saber que nada se sabe da vida particular e que não fala à imprensa sem ter alguma coisa para dizer. Assim é que é: A sua música é que nos interessa!

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A parede (crónica)


Excelentes textos, na blogosfera e na Imprensa, sobre o Pogrom de Lisboa de 1506. Nuno Gurreiro, Francisco José Viegas, nos blogues Rua da Judiaria e A Origem das Espécies (que me perdoem os autores, mas ainda não aprendi a fazer links) escreveram sobre o tema; na Imprensa, destaque para os textos de Ana Marques Gastão, no DN, e Rui Pereira, no Público. (Estarei certamente a omitir alguém).
No ano passado, visitei a sinagoga da cidade onde costumo passar férias, em Szeged, na Hungria. É uma das maiores da Europa Central, construída em 1903, no gueto judeu da cidade, então um dos melhores bairros. Só à saída reparei nas paredes do átrio. Era uma lista de nomes, dos mortos no Holocausto. Mais de 700, dos três mil deportados que tinham rezado naquela sinagoga. Só ao ver a lista caí em mim ou percebi (bem longe, apesar de tudo, da compreensão efectiva daquele horror) o que representava a parede. Famílias inteiras, médicos e operários, donas de casa e crianças de colo, comerciantes, artesãos, veteranos da Primeira Guerra e meninos da escola. Cada nome, uma pessoa como eu.
É impossível imaginar o que é um pogrom. Li nas notícias os horrores das limpezas étnicas da Jugoslávia ou do genocídio do Ruanda; li livros sobre o Holocausto e ouvi testemunhos na televisão, conheço pessoas que conhecem alguém que morreu no campos de extermínio ou escapou por pouco. Mas a razão recusa-se a compreender. Os sobreviventes que moravam em Szeged emigraram quase todos para Israel. Dos 150 mil judeus de Cracóvia, sobreviveram algumas dezenas. E em cada uma das pequenas cidades da Europa Central faltam pessoas, como se houvesse mais sombras e fantasmas nas ruas, como se estes lugares tivessem perdido um braço. Restam memórias frágeis, como aqueles nomes que o tempo apaga.
Por isso, talvez não chegue acender velas na Quarta-feira para que Lisboa e Portugal não esqueçam a terrível mancha. Devia talvez existir um monumento, nem que seja uma parede.

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Casa vazia

Em política, tenho conhecimentos suficientes para manter uma conversa com o meu barbeiro, mas a ausência de deputados, na semana passada, não me surpreendeu. Ela revela o enorme afastamento que existe, na nossa democracia, entre eleitores e eleitos: se um deputado sentisse que seria penalizado por faltar a uma votação, nomeadamente que os seus eleitores pediriam responsabilidades na eleição seguinte, ele não faltaria; muito menos iria ao parlamento apenas para assinar o livro de presenças. Há demasiados deputados na Assembleia da República. Do total de 230, mais de cem não passam de figuras sem importância na tomada de decisões. Assisti a reuniões de comissões especializadas (onde está o verdadeiro poder deste parlamento) e lembro-me de ficar chocado com a ignorância de alguns deputados sobre os assuntos que eram ali discutidos. Se existe gente a mais, se estão ali só para fazer número, porque não um parlamento só com 120 ou 150 deputados? Os que ficassem teriam salários mais altos. Quanto ao argumento de que os pequenos partidos não tinham eleitos, penso que isso não seria tão líquido, se acabassem as listas distritais e houvesse uma única, nacional. Desde quando é que o cabeça de lista por Viseu é mesmo de Viseu? O facto é que as quotas, as intrigas partidárias e os maus salários estão a afastar as melhores pessoas da política. Há um nivelamento por baixo, que se vê bem nestas ocasiões. Desta vez, a opinião pública deu pelo absentismo parlamentar por ter havido falta de quorum, mas é muito frequente estar a casa quase vazia, apenas com o número indispensável para haver quorum, e ninguém dar por nada.

domingo, abril 16, 2006

Corta-fitas

Corta-fitas

Maquilhagens

Nada como uma boa maquilhagem para nos sentirmos mais novos...
Jorge Coelho e Pacheco Pereira, antes da gravação do programa,"Quadratura do círculo".
(Novembro 2005)
Foto: Leonardo Negrão

sábado, abril 15, 2006

Boa Páscoa




1) Aqui está Paulo Portas a entrar no Parlamento, esta quarta-feira, no dia em que se deu a infeliz coincidência de não haver deputados suficientes para fazer aprovar as leis sujeitas a votação; 2) a pedir a caneta para assinar o livro de presenças; e 3) num cumprimento de circunstância e breve troca de palavras com o deputado António Carlos Monteiro, também do CDS. A indumentária é a que foi descrita em posts anteriores. Total de tempo no plenário: um minuto.

Fotografias: Rodrigo Cabrita

Apoiar Rui Rio

A propósito de poder local, embora bem menos fotogénico do que o do post anterior do Francisco, eu acho que devia haver um movimento nacional de apoio a Rui Rio. De facto, fora a honrosa excepção de Pacheco Pereira (e mesmo assim com menos frequência do que seria necessário), não vejo nenhum dos comentadores não-alinhados com os socialistas apoiar o modo como Rui Rio tem governado o Porto, do seu exemplar comportamento contra as forças do futebol, dos media e da "Cultura". Ou o modo como, estando-se nas tintas para tacticismos políticos e sondagens, fez o que achou que tinha a fazer no mandato anterior e foi reeleito subindo a votação, indiferente a todos aqueles que, agora calados e sem memória, lhe vaticinavam coisas terríveis por ter enfrentado Pinto da Costa e mais não sei quem. Em Portugal, não basta andarmos sempre a dizer que não temos gente de qualidade e a criticar quem mostra que não a tem. Aqueles que, como Rui Rio, mostram qualidade, devem ser apoiados, devem sentir que há quem note a diferença, que gostaríamos de ter mais como eles.

sexta-feira, abril 14, 2006

Sugestão para um "upgrade" da oposição de centro-direita

Não se trata de uma sugestão para o CDS ser um partido mais sexy, porque a Tânia Cameira é do PSD. Sim, do PSD. Enfermeira de profissão e presidente da Junta de Freguesia de Marmeleiro, Guarda. Sem dúvida seria um upgrade para o partido se esta militante laranja e dirigente local fosse para a São Caetano à Lapa...
A fotografia (do Rodrigo Cabrita) foi tirada durante a campanha das eleições presidenciais de Janeiro.

Trabalho político


A cena que se passou esta quarta-feira na Assembleia da República merece algumas observações, porque é do mais lamentável que se tem visto. Só que era previsível.
Primeiro, atente-se ao facto de, durante essa tarde, portanto antes das votações que iriam decorrer entre as 18h e as 19h, terem passado pelo hemiciclo 194 deputados, 114 dos quais pertencentes à maioria do PS, 52 ao PSD, dez ao PCP, nove ao CDS, sete ao Bloco e dois aos Verdes. Os 114 deputados socialistas, mais um ou outro de outros partidos, teriam sido mais que suficientes para assegurar as 116 (metade dos 230 deputados mais um) presenças para que houvesse quórum nas votações (que incluiam a transposição de várias directivas comunitárias).
Acontece que nada disto se passou, só 110 lá estavam. Durante a tarde houve um regabofe de entradas e saídas de deputados que iam assinar o livro de presenças e... ala que se faz tarde. Estava lá e vi. Alguns chegaram a ir pedir o livro de presenças à mesa da presidência da AR porque já não estava lá em baixo, junto às bancadas. Paulo Portas, por exemplo, antigo presidente de um "partido de Governo", como gostava de dizer, e ex-ministro de Estado e da Defesa Nacional, esteve exactamente um minuto no plenário. Leram bem? Um minuto. Entrou, distribuiu alguns cumprimentos de circunstância com o seu fatinho cinzento claro (que nem comento), assinou o livro (para o qual até teve de pedir uma caneta emprestada) e saiu. Segundo consta, foi fazer "trabalho político"
Ora é justamente este argumento que os deputados irão usar para escaparem às "multas" que constam do seu estatuto e que supostamente Jaime Gama quer fazer aplicar. Faltaram porque estavam em "trabalho político", ainda por cima as votações acabaram por não ser à hora marcada (18h) e só começaram depois das 19h. A maior parte dirá que estava já com compromissos inadiáveis com os seus eleitores, com os militantes do partido, etc. Como a figura do "trabalho político" não carece de prova, a palavra dos deputados irá fazer "fé". E Jaime Gama poderá ter dificuldades em descontar-lhes no ordenado os pouco mais de 170 euros.
É preciso alterar isto, voltar a mexer no estatuto dos deputados, apertar a malha. Olhe-se para a Casa dos Comuns em Inglaterra, sempre cheia, com deputados que até se sentam nas escadas em dias de debate entre o primeiro-ministro e o líder da oposição. Aqui não, para muitos (não para todos) ser deputado é estar à espera de qualquer coisa. Uns esperam que os ventos voltem a estar de feição, outros esperam poder pensar mais alto, outros esperam conseguir ser sempre bem comportadinhos para voltarem a entrar nas listas. Mas nós desesperamos perante situações destas.

Crónica tagarela


A tagarelice nacional, que Mário de Carvalho tão bem satiriza no seu romance “Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina”, parece-me ser consequência directa da fragmentação mediática e do aumento da velocidade da informação.
“Não há tempo” é uma das expressões que mais ouvimos entre as pessoas que vivem ao ritmo de hoje. Parece que as nossas vidas se tornaram mais condensadas e dispersas, indisponíveis para o viver. Os namoros, as conversas, o convívio, o passeio pela fantasia, a simples flutuação no devaneio íntimo, tudo isso se perdeu na existência de um contemporâneo. Como diria Norman Mailer, somos cada vez mais feitos de plástico, seres duráveis, mas sem distinção.
A blogosfera é um curioso fractal desse mundo: tudo aqui é efémero e rápido; quando aumentam as audiências, cai o tempo médio da leitura; os posts desejam-se imediatistas e direitos ao ponto, a caminhar para o soundbyte; os debates são terra-a-terra..
O palavrear apimentado, mas vazio, faz as delícias da sociedade da comunicação. Como tudo é rápido, consumido em fastfood, um político tem de ser mestre na frase quadrada e desmiolada. A fragmentação do mundo digital mudou os políticos, tornou-os mais conscientes da imagem pública e menos preocupados com a substância das suas ideias. Eles são de facto ilusórios produtos de marketing. E isto abre caminho ao poder das oligarquias, assente na tagarelice das massas, na esperança de haver uma espécie de perda de memória colectiva. Por isso o futebol é tão útil, porque no próximo campeonato podemos esquecer o actual.
E, para que percamos suavemente a memória, inventaram o blitz publicitário, que nos faz sentir mais jovens do que somos e belos como nunca fomos.
E todo o barulho à nossa volta serve para calar os nossos pensamentos.
Enfim, o falar por falar não tem mal em si, excepto na circunstância de ser a única coisa que nos resta.

Ilustração: pintura de Henri Matisse

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quinta-feira, abril 13, 2006

A tragédia europeia

Há uma direita portuguesa que defende o modelo liberal e a sociedade conservadora, o que não deixa de ser uma notável mistura ideológica. Esta nova direita gosta de fustigar os europeus e defender tudo o que vem dos Estados Unidos, nomeadamente criticar a UE e elogiar a estratégia iraquiana da administração Bush. A ideia é a seguinte: no Iraque, as coisas compõem-se e, na Europa, decorre uma tragédia. O artigo de Luciano Amaral no DN é, a todos os títulos, sintomático do que me parece ser um típico erro de perspectiva.
A análise centra-se nos problemas da França, Itália e Alemanha e parte do pressuposto não explicado, segundo o qual o “projecto europeu” foi raptado por dirigentes “radicais” que pretendem construir uma Europa contra os Estados Unidos, em vez de se limitarem ao projecto original de uma zona de livre comércio. Ora, a Europa não está a ser construída contra os EUA e o projecto original não visava apenas o livre comércio.
No que respeita aos problemas do trio de países, a interpretação esquece vários pontos. Concordo que nestas eleições, em Itália, a escolha era péssima, com duas opções lamentáveis. Mas a política italiana sempre foi assim, com a diferença de que desta vez havia alternativa.
Em França, a situação parece bloqueada, mas isso é uma ilusão; haverá eleições em 2007 e, seja a esquerda ou a direita a ganhar, sabemos que haverá uma nova geração de políticos após essa votação.
Na Alemanha, a grande coligação serve para executar reformas limitadas, por consenso. A definição só virá depois, presumivelmente com poderes acrescidos para Merkel.
Ou seja, não há uma tragédia europeia, mas sim uma mudança europeia.

Diga lá camarada

Deixem o camarada respirar...
Foto: Leonardo Negrão

quarta-feira, abril 12, 2006

Timbres

Presidente da República Cavaco Silva, toca roca (instrumento musical de timbre melódico refinado), durante uma visita ao Hospital Dona Estefania.
Foto:Leonardo Negrão