quarta-feira, maio 31, 2006

Animação nos anos 70

Vasco Granja - "Então pequenino, como te chamas?"
Miúdo - Dizia o nome.
VG - "E que idade tens?"
M - Dizia a idade.
VG - "Então e gostaste dos desenhos animados que mostrámos agora do polaco Miroslav Kusturica?"
M - Acena com a cabeça, dizendo que sim de forma pouco convincente.
VG - "Então e gostas dos desenhos animados do búlgaro Pavlov Meszaros?"
M - Fica silencioso, com uma expressão entre o embaraçado e o atordoado
VG - "Então e do romeno Miklosj Dragulescu?"
M - Continua silencioso, ainda com uma expressão de profundo embaraço, e começa a ficar encarnado...
VG - "E então pequenino, diz lá de que desenhos animados gostas mais?"
M - Começa a desbobinar: "do Pernalonga, do Dáfidâque, do bipebipe..."
VG - "Ah pois, esses hoje não temos para mostrar, por isso vamos antes ver uns lindos desenhos animados do soviético "Dmitryi Kurchatov..."

Obrigado, Luís Varella Marreiros, por me teres feito rir quando me mandaste isto... Para além da graça com os nomes (houve um Meszaros que foi guarda-redes do Sporting, lembram-se?), hoje a animação da geração XXI é mais do género que a ilustração revela aqui em cima...

Dar a mão à palmatória

Acabo de saber, via Bloguítica, que Ana Gomes fez um mea culpa em declarações à Rádio Renascença. Um dos "erros graves" cometidos por Portugal em Timor-Leste, segundo a antiga embaixadora em Díli, "foi exportar para lá o nosso modelo constitucional, que não se adapta às condições de Timor". Precisamente o que aqui escrevi há dois dias. Espanta-me, aliás, que este aspecto não esteja a ser focado pelos habituais "especialistas" das questões timorenses que proliferam em jornais e televisões, até porque constitui um dos mais sérios ingredientes da actual crise. Mas congratulo-me por Ana Gomes ter dado enfim a mão à palmatória.

Tertúlia literária (35)

- Qual é o seu poema preferido do Pessoa?
- Amélia dos Olhos Doces.

Timor: mais apontamentos

1. Deveria Portugal enviar Forças Armadas e não apenas a GNR para Timor-Leste? De maneira nenhuma. O grande problema da insegurança no mais jovem país de língua portuguesa exige ser combatido com operações de âmbito policial e não de âmbito militar.

2. Operações militares convencionais estão condenadas ao fracasso em Timor, desde logo pelas características orográficas do país, dominado por cadeias montanhosas. A história da ocupação militar do território pelo invasor indonésio, entre 1975 e 1999, só confirma este princípio.

3. Existem de momento em Díli forças millitares australianas e neozelandesas que não conseguiram travar algumas das acções mais violentas por bandos de desordeiros nas ruas da capital timorense. O fracasso destas patrulhas demonstra bem que a solução da crise não depende de factores militares.

4. A acção da GNR em Timor-Leste deve estar sempre enquadrada pelo direito internacional - e em particular pela Organização das Nações Unidas.

5. No terreno, as forças portuguesas devem cooperar com australianos e neozelandeses. Mas sem ilusões: em termos geoestratégicos, os interesses de Lisboa e Camberra são divergentes. Portugal não pode pode aceitar que a Austrália ou a Nova Zelândia transformem Timor num protectorado, como se fosse a Tasmânia ou as Ilhas Cook. Meio milénio de presença portuguesa em Timor - seguido de quase três décadas de abandono - exige que olhemos para este país com uma atenção muito especial. Nenhum outro povo como o português tem tanta legitimidade para o efeito. E tanta responsabilidade histórica.

6. Em Díli, Xanana Gusmão assumiu enfim a mediação do conflito, reivindicando as áreas ministeriais da Defesa e da Segurança Interna. Um claro indício de que o Presidente da República vai tornar-se o vértice real do sistema político timorense, apesar das limitações impostas por uma Constituição inapropriada à realidade do país.

7. Alkatiri é o grande derrotado. Mas poderá ainda sair airosamente de cena, em obediência ao tradicional princípio oriental de não fazer ninguém "perder a face". A sua inépcia política ficou patente na total passividade que revelou no combate à crise. Devia ter sido ele, e não Xanana, a tomar a iniciativa de exonerar os titulares da Defesa e da Segurança, restabelecendo um clima de confiança no país.

Nem com clearasil

A DECO e a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados lançaram hoje mais uma campanha de denúncia de «pontos negros» nas estradas portuguesas. É meritório. Mas toda a gente já sabe que não há pontos negros nas nossas estradas. Há, isso sim, um gigantesco acne daqueles que, quando desaparecem, é só para deixar buracos.

De repente assustei-me

Com este título do Estadão: «Mundo está perto de ter 1 bilhão de PCs ativos». É que isto com os ciclos históricos nunca se sabe, pá.

A ler

1. Sobre a grave situação em Timor, num prisma diferente do habitual. "Timor, pela CNN", de Manuel Falcão. N'A Esquina do Rio.
2. Também sobre Timor, esta análise que merece uma reflexão atenta. "Uma confusão libanesa", de A. Teixeira. No Herdeiro de Aécio.
3. Sobre Medina Carreira, palavras que eu próprio gostaria há muito de ter escrito. "A matemática é anti-social", de João Caetano Dias. No Blasfémias.
4. Sobre a exposição Rau, no Museu de Arte Antiga. "Desilusão Rau", de Susana Viegas. No Auto-Retrato.
5. Sobre a blogosfera. "O tom dos blogues", de Luís Carmelo. No Miniscente, agora também na barra lateral do Corta-fitas.
6. Sobre a vida, com emoção. "Vidas de Cão", no Cão com Pulgas.
7. Uma surpresa - daquelas que podem acontecer a qualquer de nós a qualquer altura. "Lisboetas", de Pedro Mexia. No Estado Civil.
8. Sobre restaurantes italianos na capital. "Veja Lisboa", uma análise certeira de Agapiano. No Ponto Come.

Sugestão

Na ilustração à esquerda temos a minha sugestão para a base de um novo equipamento da Selecção Nacional época 2006/2007 (a respeitável e "veneranda" bandeira da presidência da republica).
Sugiro ainda umas listas brancas horizontais de forma a incutir um pouco mais de alegria ao meu pessoal lá em casa.

Título invertido

Ainda não percebi por que motivo o programa de Paulo Portas na SIC Notícias se chama O Estado da Arte. Como ele praticamente só fala de política, devia chamar-se A Arte do Estado.

Um bom exemplo

Os deputados, que representam o País, decidiram fazer gazeta para verem a bola. O País agradece este edificante exemplo. E prepara-se para parar também.

terça-feira, maio 30, 2006

Cannes "versus" Hollywood



Tenho uns amigos que juram que o critério "elitista" do júri de Cannes afasta os melhores filmes em concurso. Outros que garantem que Hollywood é incapaz de reconhecer uma obra de arte. Com a atribuição da última Palma de Ouro, este fim de semana, fui conferir que filmes de indiscutível qualidade foram galardoados em Hollywood e Cannes nos últimos 30 anos. Resultado: um empate.
Passo a explicar.
1. Obras-primas galardoadas em Hollywood com o Óscar de melhor filme de 1976 para cá: Annie Hall (1977), O Caçador (1978), Amadeus (1984), Imperdoável (1992), A Lista de Schindler (1993), O Paciente Inglês (1996), Titanic (1997), Chicago (2002), Sonhos Vencidos (2004) e Colisão (2005).
2. Obras-primas galardoadas em Cannes com a Palma de Ouro, no mesmo período: Taxi Driver (1976), Apocalypse Now (1979), Paris, Texas (1984), Um Coração Selvagem (1990), Segredos e Mentiras (1996), Rosetta (1999), Dancer in the Dark (2000), O Quarto do Filho (2001), O Pianista (2002) e A Criança (2005).
3. É certo que Hollywood atribuiu o Óscar a vários filmes que não ultrapassam o patamar da vulgaridade ou são mesmo medíocres. Exemplos: Momentos de Glória (1981), Laços de Ternura (1983), Encontro de Irmãos (1988), Miss Daisy (1989), Forrest Gump (1994), A Paixão de Shakespeare (1998) e Mente Brilhante (2001).
4. Também é verdade, no entanto, que Cannes concedeu a Palma de Ouro a filmes que não a mereciam. O caso mais gritante foi Fahrenheit 9/11, do cabotino Michael Moore (2004). Mas também All That Jazz (1980), Sexo, Mentiras e Vídeo (1989), Barton Fink (1991), A Eternidade e um Dia (1998) e Elephant (2003), entre outros.
5. Parece-me evidente que o júri de Cannes tem sido mais perspicaz a galardoar cineastas norte-americanos do que o de Hollywood. Casos mais notórios: as Palmas de Ouro entregues a Martin Scorsese, que nunca recebeu uma estatueta (por Taxi Driver), e a Francis Ford Coppola (por Apocalypse Now). Obras-primas que passaram ao largo dos Óscares.
6. Também é verdade, entretanto, que Hollywood já galardoou cineastas europeus que nunca conquistaram a Palma de Ouro. O caso mais evidente parece-me ser o de Pedro Almodóvar, Óscar para melhor filme estrangeiro em 1999, por Tudo Sobre a Minha Mãe. E já nem falo do belíssimo Cinema Paraíso de Giuseppe Tornatore (1988).
7. É de bom tom desdenhar dos Óscares. Mas nas últimas três décadas cineastas como Woody Allen, Milos Forman, Clint Eastwood, Steven Spielberg e Roman Polanski receberam a estatueta de Hollywood para a melhor realização. Tudo casos de indiscutível talento.
8. Também não convém esquecer que realizadores como Fellini, De Sica, Buñuel, Bergman, Tati e Truffaut foram galardoados com o Óscar (de melhor filme estrangeiro). O que de algum modo invalida o argumento de que Hollywood fecha os olhos aos grandes talentos universais da Sétima Arte.

Postais blogosféricos

1. O Fumaças, de volta ao activo, passa a figurar na nossa lista de endereços. Também de regresso está O Franco Atirador, igualmente inscrito a partir de hoje na barra lateral cá do blogue.
2. Espreitei o Small Brother. E gostei. Já cá está nos favoritos.
3. A ler: "Um silêncio que nos fala", de João Gonçalves. No Portugal dos Pequeninos.
4. O Arrastão anda ilegível. Literalmente. Ó Daniel, vê lá se dás a volta ao texto!

Tertúlia literária (34)

- Leio só uma página por dia. Mas hei-de chegar ao fim do Ulisses.
- És uma autêntica Penélope...

Eu não acredito

Quem é que meteu na cabeça dos portugueses que temos alguma hipótese da ganhar o Mundial de Futebol? Lá porque temos dois ou três jogadores um pouco acima da média, se passarmos da primeira fase já não é mau. O mais ridículo é que nos pedem para "acreditar", como se isso tivesse alguma importância para os jogadores em campo. É ao contrário, lidamos mal com a pressão, como se viu no Euro 2004. Em vez de acreditar, vou torcer, mas isso é só comigo, não é para transmitir pensamentos para as chuteiras do Figo. E se, por milagre, ganharmos, vou para a rua festejar, incrédulo.

A propósito de protesto

O que é "música de protesto", Francisco? Chamo-te a atenção para o seguinte: o nosso próprio Hino Nacional, tão vibrantemente entoado nos estádios de futebol, começou por ser um tema de protesto contra o Ultimato britânico de 1890. A Marselhesa tem origem semelhante. Queres outro hino de protesto que resiste a todos os ventos e a todas as modas? Le Chant des Partisans, imortalizado por Yves Montand - o mesmo que depois filmou em Hollywood uma fita fútil com Marilyn Monroe. Isto anda tudo ligado. Grande parte da música popular dos nossos dias tem a sua raiz na "canção de protesto" - de We Shall Overcome, de Pete Seeger, a The Times They Are A-Changing, de Bob Dylan, de Léo Ferré a Jacques Brel - sem esquecer os Beatles e os Pink Floyd. Queres canção mais bela do que a Construção, de Chico Buarque? Ou o Cálice, da dupla Chico Buarque-Gilberto Gil? José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto e Jorge Palma - todos se celebrizaram por "canções de protesto". Mas nenhum parou aí. Cada um deles compôs também alguns dos temas de maior lirismo, de maior sensibilidade e de maior elevação artística que desde sempre se produziram na nossa língua.
E já agora: queres mais evidente tema "de protesto" do que o sublime Fado de Peniche (Abandono, na versão oficial) gravado por Amália, com letra de David Mourão-Ferreira? A mesma Amália que também gravou Grândola, Vila Morena e a Trova do Vento que Passa...

Coincidência

Tal como a Fernanda, eu também gosto de gatos e de cães. Por igual, sem distinções de qualquer espécie. Sempre convivi muito com qualquer destes animais. E colecciono inúmeras histórias saborosas em jeito de recordação de todos eles. Não lhes chamem irracionais: são muito mais inteligentes e sensíveis do que muitos seres humanos que conheci.

Pegando na deixa

Confesso que demorei a entender algo que me fez espécie, desde a primeira noite em que entrei no Snob: Como era possível ter conversas supostamente confidenciais, ali todos sentados uns em cima do colo dos outros. Mais tarde percebi: aquilo era tudo tão confidencial como a agenda da Lili Caneças. As pessoas falsamente sussurravam para serem ouvidas e a coisa era mais ou menos como um leilão «O meu exclusivo é mais exclusivo do que o teu».

Eu, se me permitem a viagem pela Memory Lane, pertenci a um outro grupo que berrava ostensivamente pedindo mais Bushmills de malte ao Hernâni no Targus e depois ia engatar actrizes e modelos ao Frágil ou ao Mahjong. Raramente comíamos bifes, era mais pernas.

Mas, se quisermos fazer aquilo a que hoje os marketingueiros chamam o benchmark, sempre preferi O Juvenal. Assume a sua pequenez. É cozy. A comida é melhor, os preços são melhores, o serviço é - indubitavelmente - muito melhor. Não sendo uma catedral, como barafusta o Rui num comentário ao post abaixo, é mais uma capela.

Finalmente, confesso ainda que sempre me encanitou que mal alguém tivesse estatuto para dar à luz uma crónica, logo aproveitasse para falar do Snob, do bife do Snob, do whisky do Snob, como se isso interessasse ou fosse prova de pertença a um clube qualquer restrito que nunca percebi qual era (Nem o Pedro Mexia escapou, malgré lui). Dixit.

Um modelo esgotado?


Os portugueses são conservadores e cheios de hábitos. Apesar desse gosto pela rotina, em certos casos não se percebe a insistência. Exemplo evidente é a Feira do Livro, evento anual que, em Lisboa, se realiza no Parque Eduardo VII. Não sou editor ou livreiro, mas sei que muitas editoras fazem ali um importante negócio (já alguém me disse, não sei se boa fonte, que pode chegar a um terço da facturação anual de algumas empresas).
Este elemento é importante, mas do ponto de vista do consumidor, penso que a Feira do Livro tem um modelo esgotado e que o local onde se realiza não possui condições adequadas. Barraquinhas num jardim pode ser excelente ideia, mas apenas se houver bons acessos, estacionamento fácil e sítios para descanso, sombras em caso de sol abrasador e um plano B para dias de chuva.
Fui ontem à feira e repetiu-se a desilusão sentida em anos anteriores. Com as obras do túnel do Marquês, o acesso aos pavilhões tornou-se complicado. Os transportes públicos estão longe e há falta de bancos para os mais cansados (o parque é a subir).
A diversidade em livros (ponto forte para os consumidores) parece comprometida. Isto é certamente contraditório com o aumento de títulos, aspecto referido por toda a gente do meio editorial, mas o facto é que há uma espécie de desertificação da feira e uma sensação de dejá vu. Talvez os pavilhões sejam acanhados e não permitam mostrar esta oferta acrescida. Os saldos são uma desilusão ainda maior, pois há poucos e com os mesmíssimos livros dos anos anteriores.
Os contactos com autores são feitos em embaraçosas sessões de autógrafos ou em sessões públicas nos pavilhões de cima, onde as condições também não são famosas.
José Eduardo Agualusa dizia, numa entrevista à Antena 1, que este modelo está esgotado e defendeu uma feira que possa ser uma montra da literatura de língua portuguesa, capaz de atrair agentes internacionais e editoras de outros países (Brasil, por exemplo). Concordo inteiramente com esta tese. Para isto se concretizar, o espaço não serve e terá de haver o arrojo de cortar com uma rotina que já não funciona.

Blogues em revista

Estado Civil: "Há momentos em que a felicidade dos outros é como a comida indiana: desaconselhável a estômagos fracos." (Pedro Mexia)

A Memória Inventada: "Rui Costa regressou ao Benfica e eu estou feliz não sei por que razão pois marimbo-me para o Benfica." (Vasco Barreto)

Mar Salgado: "Scolari tinha razão: os Quaresmas e os Mourinhos são imprescindíveis. Para perder." (Filipe Nunes Vicente)

Desejo Casar: "Para Agostinho Oliveira, a explicação para o 'fiasco' da prestação de Portugal no europeu de sub-21, jogado em casa, encontra-se na imaturidade dos jogadores. Eu pensava que a imaturidade era própria da idade sub-21." (Hugo Rosa)

Lugar comum

O Snob já não é o que era.

E por cá? Como é?

Leio na Meios e Publicidade que o Court of Appeal (Tribunal de Recurso) de San Jose, na Califórnia, considerou que os bloggers têm o mesmo direito que os jornalistas a preservar a confidencialidade das suas fontes.

A decisão seguiu-se a uma tentativa da Apple para que um grupo de bloggers revelasse a identidade de alguém, que fornecera detalhes sobre um projecto da empresa.

«O colectivo de juízes decidiu que os blogers não têm obrigação de revelar as suas fontes e podem proteger-se nas mesmas leis que defendem os jornalistas tradicionais, quer na Primeira Emenda, quer na Shield Law da Califórnia», termina a notícia.

Anedota 3

Durante a missa, conversa entre o Padre e o Sacristão:

P: Sacristão, onde é que está a Custódia?
S: Está ali sentada na primeira fila, senhor padre.
P: Não é essa. É aquela onde se põe o senhor!
S: Ah, pensei que era aquela onde o senhor se põe!

Anedota 2

Dois amigos num café:

- Para a semana vou a Paris!
- Levas a tua mulher?
- Por acaso se fores à Madeira levas bananas??!

Anedota 1

Dizia um chefe da pior espécie para um subordinado:

- Aposto em como gostarias de me ver morto, só para teres o prazer de cuspires na minha sepultura!
- Isso não. Nunca gostei de me meter em filas.

Metro sim...mas só no Inverno!

O que andam os publicitários das marcas de desodorizantes a pensar nesta altura do ano? No mês em que tiram férias? No local das mesmas? Na forma de ir? E com quem vão? Não querem saber de targets? A época sazonal é a vossa época alta, rapazes. Viva o calor! Se alguém ligado à área estiver a ler, aproveite... a dica é de graça. Sei de um sítio onde poderiam induzir facilmente milhares de pessoas a comprar os vossos produtos e ao mesmo tempo prestarem um bom serviço a quem frequenta diariamente o metro nesta altura. Muito boa gente, nas quais naturalmente me incluo, ficaria eternamente grata. E porquê? Porque uma pessoa sofre em horas de ponta no regresso a casa. São tantos os braços erguidos que os sovacos não têm alternativa senão expelir o seu odor... E aí, meus amigos, não há fuga possível. Por muito que tentes, desde encostar a cara ao vidro até esfregar o nariz subtilmente com a mão para ninguém te topar, não dá para não cheirar. Aqueles 15 minutos entre o Marquês e o Cais do Sodré são penosos... Nem quero cheirar, desculpem, imaginar quem vem de mais longe! Por isso, caros publicitários, coloquem cartazes por tudo quanto é lado dentro das carruagens. As vendas sobem, a qualidade do ar também e todos sairemos mais felizes para a superfície. Até lá... metro sim, mas só no Inverno!

segunda-feira, maio 29, 2006

Canção de protesto

Assumo que nunca gostei de ouvir os chamados cantores (ou músicos) de protesto. Sérgio Godinho, Paulo de Carvalho, Vitorino, Janita Salomé, Jorge Palma, Brigada Vítor Jara e até os Xutos ou coisas do género. Também nunca me seduziram os cantores de protesto de renome internacional.
Mas amanhã recomendo o lançamento, às 21h00, no auditório da Feira do Livro de Lisboa, de Retrovisor, uma biografia de Sérgio Godinho, editada pela Assírio & Alvim. O autor da proeza (ter mencionado o assunto aqui) é o Nuno Galopim.

BD na Feira do Livro de Lisboa

Serve a presente para informar os interessados das andanças do José Abrantes pela Feira do Livro de Lisboa:
» A 1 de Junho (Dia Mundial da Criança) estará das 10.30 às 18.30, no stand da Gailivro (com pausa para o almoço, tenham pena do artista!) para autografar o livro Morgana e o Poço Misterioso.
» No dia 11, estará entre as 16 e as 18 horas no stand da Asa, para autografar o livro Homodonte e o Ovo Azul.
Não faltem, pois arriscam-se a levar para casa um boneco original na contracapa. À borla!

Ilustração em cima: o José Abrantes visto pelo próprio em plena acção.

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Tertúlia literária (33)

- Ela é uma Fiama.
- Mas ele é um Botto.

Página negra

Ontem resolvi ver grande parte do jogo do europeu de sub-21 entre Portugal e a Alemanha e reparei numa coisa que vai certamente fazer história no mundial de selecções A que se aproxima: o péssimo gosto do equipamento nacional. A cor não lembra ao careca (um bordeaux desmaiado nas camisolas, calções e meias) e a qualidade também deixa a desejar, já que, ao contrário das vestimentas modernas de desporto que todos usam, os nossos jogadores parecem encharcados em suor.
Será que alguém explica aos responsáveis da FPF que a camisola da selecção, seja qual for o desporto, não tem de ser o espelho da bandeira!? Depois do encarnado e verde, estamos no bordeaux. O que virá a seguir: camisola encarnada, calções amarelos e meias verdes? Os italianos (que têm uma bandeira tricolor encarnada, branca e verde) jogam de azul, os holandeses (azul, branco e encarnado) jogam de cor de laranja. Uns são a squadra azzurra e outros a laranja mecânica. Nós vamos levar à Alemanha um bordeaux de terceira qualidade (que também há). E não há nada pior que um mau vinho...

P. S. - Sobre o jogo de sub-21 em si, umas breves notas: Nani não é jogador para ficar no banco naquela equipa. Entrou e combinou com João Moutinho para o golo que nos salvou da humilhação. A jogar de início tinha feito um "tridente" espantoso com Moutinho e Silvestre Varela, ou um "quadrado" se quisermos incluir o Custódio.

A crise em Timor: três apontamentos

1. Mari Alkatiri encontra-se numa posição insustentável. A desagragação da autoridade do Estado, à mercê de actos quotidianos de vandalismo, com imagens chocantes que têm dado a volta do mundo, demonstra que o primeiro-ministro timorense, mantendo a legitimidade formal, deixou de ter legitimidade política para se manter ao leme do Governo. Quanto mais depressa sair melhor.

2. É inaceitável a posição australiana nesta crise, tratando Timor-Leste como um protectorado. Há limites para a ingerência externa num Estado soberano. Camberra excedeu claramente estes limites. Neste particular, esteve bem o ministro português dos Negócios Estrangeiros ao repudiar em termos vigorosos a atitude da Austrália, que revela a tentação de ocupar militarmente Timor.

3. Xanana Gusmão é a chave para a resolução da crise. Mas faltam-lhe poderes constitucionais para o efeito. As últimas semanas têm demonstrado que a Constituição timorense está desajustada à realidade concreta do país: é fundamental revê-la, atribuindo ao Presidente da República a condução efectiva do poder político. Na actual fase, um regime parlamentarista - decalcado do modelo europeu - é suicida para Timor-Leste.

Hoje faz anos

Nascia, em 1874, Gilbert Keith Chesterton. Pretexto para reler a deliciosa sátira «O Homem que era Quinta-Feira».
Já agora, por que não repete a RTP Memória a fabulosa série do Padre Brown?

«Progress should mean that we are always changing the world to fit the vision, instead we are always changing the vision». (G.K.C. 1908).

Saramago jornalista

Dizem-me que o livro de Carrilho mereceu a caução de José Saramago, que lá insere um texto de elogio ao autor. Nada mais apropriado numa obra que pretende denunciar a existência de "mau jornalismo" em Portugal: é que não conheço melhor exemplo do que não se deve fazer em jornalismo do que o ocorrido em 1975, quando Saramago era director-adjunto do Diário de Notícias. Nada do que se faça agora consegue ser tão mau.

Os pesadelos do século XX


A leitura de Mao, a História Desconhecida, de Jung Chang e Jon Halliday, impressiona pela dimensão dos horrores que ali são relatados. Desconhecia a maioria dos episódios da biografia de Mao Tsé-Tung, sobretudo a parte dos anos iniciais da sua vida. Tenho a sorte de estar a ler este livro pouco depois de ter lido Os Ditadores, de Richard Overy, um brilhante estudo sobre os regimes nacional-socialista e soviético. É espantoso como os três piores ditadores do século XX (Hitler, Estaline e Mao) tiveram tanta coisa em comum, das origens humildes à total brutalidade. Os três são originários de periferias dos países que dominaram: Estaline era georgiano, Hitler austríaco e Mao nasceu numa província chinesa afastada dos centros de poder; todos eles falavam a língua dominante com forte pronúncia. São famosas as poderosas ligações emocionais que tinham à mãe e o ódio que alimentavam em relação ao respectivo pai. Eram homens medíocres e pouco corajosos, desprovidos de qualquer talento militar ou intelectual. E, na sua juventude, todos os relatos indicam falta de carisma e até impopularidade. As suas carreiras políticas são totalmente improváveis (sobretudo as de Estaline e de Mao Tsé-Tung). Cada um dos três assume o poder nas organizações políticas que os levam ao poder no final dos anos 20, início dos anos 30 (Mao um pouco mais tarde); depois, transformam estas organizações em partidos totalitários; ao tomarem o poder, parasitam os Estados, criando Estados totalitários. Há outra coincidência: os três tinham defeitos físicos e eram hipocondríacos. Fizeram um uso histérico da propaganda e nunca confiaram em ninguém. Todos acreditavam numa única ideia: o indivíduo não conta e a ideologia é um instrumento. Cada um dos três ditadores matou dezenas de milhões de pessoas, incluindo muitos dos seus próprios súbditos.
O livro de Overy tenta responder à questão que a meu ver é a mais importante: como foi possível que estes homens tenham chegado ao poder. As sociedades alemã e russa estavam em profundo choque e a ideologia serviu para levar as massas a fazerem o impensável. O terror fez o resto. Penso que esta explicação (aqui simplificada) se aplica também à China maoísta.
O nacionalismo é a verdadeira ideologia na origem destes três ditadores. E a alavanca das suas existências alucinadas foi uma sede de poder que nenhuma quantidade de sangue podia jamais saciar.

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Postais blogosféricos

1. A ler: estes textos do Pedro Boucherie Mendes, que tem vindo a analisar, um por um, os jogadores da nossa selecção. Com olhar de especialista e uma escrita impecável.
2. Estes senhores andam há um ano com Insónia. Merecem parabéns.
3. Entradas na nossa lista de favoritos: Faccioso, Lóbi do Chá. E - a cereja em cima do bolo - Na Ponta dos Dedos.

Viu-se...

"Eu não trabalho para ganhar jogos."
Agostinho Oliveira, treinador da selecção nacional sub-21, depois de Portugal ter ficado em último lugar no seu grupo do Europeu

Saudável relacionamento no BBC


Será que esta notícia respeita
o "espírito de cooperação e saudável
relacionamento de trabalho"
que a FPF exige aos jornalistas?

Timor já está a arder?

Ao segundo sinal serão doze horas e trinta minutos.

Notícias inseridas sobre Timor no Google News:
Austrália - 1248.
Portugal - 119.

Assim se vê como já lavámos a alma, a consciência e as mãos.

It's the soccer, stupid!

Jack Welsh veio a Portugal criticar o nosso pessimismo. Vê-se mesmo que o ex-CEO da GE é norte-americano e não percebe nada de futebol.

domingo, maio 28, 2006

Vida de cão

É um cãozito rafeiro, habituado ao convívio humano. Suponho que foi abandonado por um dos condóminos do bloco de prédios onde vivo. O problema é saber qual – há cem apartamentos neste conjunto de cinco prédios. O facto é que o cãozito decidiu ficar à minha porta: há três dias que o vejo por lá, com a sua triste coleira castanha. É já velhote – certamente o motivo por que foi abandonado – mas parece bem de saúde. Anda esfomeado. Mas anda sobretudo com uma imensa fome de carinho. Para um cão, o dono é uma espécie de deus – senhor de todo o bem. Custa imaginar, a um ser dócil e crédulo como este, que o seu deus possa ser tão mau e tão mesquinho ao ponto de abandonar quem sempre se revelou grato e fiel, cúmplice atento de todas as horas.
Observo o rafeirito: olha a toda a volta e fareja, na fútil esperança de encontrar o dono. Tem uma imensa desolação no olhar. Levo-lhe comida, um recipiente com água. Não tarda a matar a fome e a sede, depois mira-me de novo com uma indescritível expressão de ansiedade. Quem disse que os cães não são inteligentes e sensíveis certamente nunca conviveu com eles...
Afasto-me por fim. Ele lá fica no seu improvisado posto, aguardando quem nunca mais virá. E vou reflectindo: como pode uma pessoa ser tão desumana ao ponto de abandonar assim um animal?

A abrir

"Foi decretada a greve geral em Cantão."
(Frase de abertura do romance Os Conquistadores, de André Malraux)

A fechar

"Procuro-lhe nos olhos a alegria que julguei adivinhar, mas não encontro nada que se lhe assemelhe, nada, a não ser uma gravidade dura e, contudo, fraternal."
(Última frase do mesmo romance. Edição: Publicações Europa-América. Tradução: Adelino dos Santos Rodrigues)

Tertúlia literária (32)

- Margarida Rebelo Pinto está no top.
- Não consigo topar porquê.

Adivinha quem foi jantar

Sabe-se agora, graças à excelente manchete do último Independente: o procurador que arquivou o processo contra José Luís Judas em Cascais, por alegada suspeita de corrupção, participou em 2001 num jantar socialista, ao lado do mesmo Judas, de apoio à candidatura de José Lamego no mesmíssimo concelho. Alguém aí falou em independência do poder judicial?

Diz-me com quem andas...

“Enganam-se os que pensam que com leis colonialistas e repressivas nos obrigam a ser portugueses”, disparou ontem Alberto João Jardim, como se fizesse um permanente favor em ser nosso compatriota, antes de se lançar numa nova diatribe contra “Lisboa” e “o continente” em geral. Na sua opinião, por exemplo, a oposição comunista e socialista é composta por “rafeiros e energúmenos”. Nada a que não nos tivesse habituado já. Com a diferença, desta vez, de ter Marques Mendes ao seu lado na tribuna do congresso do PSD/M. Ser presidente dos laranjinhas não devia implicar estes pequenos gestos de vassalagem ao soba madeirense, que hoje só consegue ser notícia pelos seus desmandos verbais. Mas, pelos vistos, implica. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.

Diz-me quem te elogia...

Manuel Maria Carrilho encontrou o mais inesperado dos aliados: Alberto João Jardim. Falando na abertura do congresso do PSD/M – desta vez antecipado para expulsar da direcção o ex-presidente da Câmara do Funchal, que ousou criticá-lo – o líder insular elogiou Carrilho. “Parte do que ele disse [no livro] é verdade”, declarou Jardim, acusando a imprensa do Funchal de “estar a escrever para Júpiter” e a restante de estar “vendida” ao continente, desembestando contra as “mentalidades caninas que são pagas para dizer mal da Madeira”.
Carrilho não diria melhor. Diz-me quem te elogia, dir-te-ei quem és.

sábado, maio 27, 2006

Quando será a nossa vez?!

Em conversa com amigos, comentávamos há dias a nossa infância. Foi "o tempo dos grandes”. Éramos os pequenos com o estatuto que isso implicava. Quantas vezes esperávamos em vão que aquele pedaço de bife ou doce chegasse “vivo” à nossa vez de nos servir. Eu sei que éramos muitos. Que aguardávamos com deferência e secreta ansiedade um pedacito do chocolate que um tio trouxera da Bélgica! O nosso lugar na hierarquia dos privilégios era claro. Os crescidos estavam deveras em primeiro em todos os protocolos. “Se bem me lembro”… na TV só havia 15 minutos de desenhos animados por dia. E vivó velho!
Hoje, cá em casa, não é nada assim com os nossos principezinhos. Com a minha maturidade chegou o "tempo dos pequenos"… que são muito exigentes, diga-se. Têm sempre lugar de honra na sala e no carro até se sentam em tronos! Que nunca lhes falte o melhor pedaço! Ou o iogurte, que vamos comprar à última da hora ao fim da tarde depois de um dia de trabalho. E a última banana do cesto da fruta não será para mim de certeza - nem que seja pelo exemplo que tenho a dar…
Foi então que nos pusemos a pensar: quando será o nosso tempo... de gozar a nossa vez?!

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Tertúlia literária (31)

- Para ti quem foi o maior escritor português do século XX?
- Não aprecio muito literatura portuguesa. Acho-a fraca.
- Mas pensa lá num nome...
- Deixa cá ver: talvez o Borges. Jorge Luís Borges.
- Mas esse não era português!
- Eu não te disse?

Blogues em revista

French Kissing: "A nossa rapaziada, sub-21, que designação curiosa, estatelou-se e nem a um ex-país conseguiu ganhar." (João M. Fernandes)

Tatarana: "A pátria é uma gaja insaciável. Alimenta-se de mitos." (Manuel Jorge Marmelo)

Não Tenho Vida para Isto: "Era uma moça prendada, que andava sempre na linha. Um dia veio um comboio e colheu-a." (Fernando Gouveia)

A Esquina do Rio: "Há cerejas que parecem corações." (Manuel Falcão)

A ler

"Os Escritores Tristes", de Isabela. No Mundo Perfeito.

Sugestão

E que tal se Ribeiro e Castro trocasse a precária liderança do CDS por uma candidatura à presidência do Benfica?

Visita à Casa da Nora

Dizem-me que é um dos restaurantes preferidos de Mário Soares. Se for assim, confirma-se: o ex-Presidente da República é um homem de inequívoco bom gosto. Fica nas Cortes, distrito de Leiria, onde a família Soares tem uma casa-museu, com o nome do falecido patriarca João, pai de Mário. É um antigo lagar de azeite, remodelado, à beira da estrada, com uma ampla esplanada em cima de um pequeno rio. Salgueiros-chorões, uma azenha, um pomar anexo, a sombra fresca das árvores pairando sobre todo o conjunto. Está-se bem na Casa da Nora.
Almocei lá há dias com o Francisco e o Rodrigo. Como aperitivo, veio para a mesa a melhor morcela de arroz que comi até hoje. Seguiu-se uma inesquecível sopa de amêijoas, capaz de figurar em qualquer antologia gastronómica. A ementa tem habitualmente ensopado de robalo, polvo à lagareiro e galo de cabidela; desta vez fiquei-me por um honesto cabrito assado no forno, igualmente digno de elogio. E a refeição terminou da melhor maneira, com um pudim de café a merecer classificação de cinco estrelas. Apetecia prolongar a tarde à mesa, mas desta vez não foi possível. Hei-de voltar com mais vagar à Casa da Nora, que em tempos pertenceu ao poeta Afonso Lopes Vieira. A poesia perdura por lá, hoje transfigurada em ode culinária.

Com dedicatória

Can't Take My Eyes Off You

You just too good to be true
can't take my eyes off of you
you'd be like heaven to touch
I wanna hold you so much
at long last love has arrived
and I thank God I'm alive
you're just too good to be true
can't take my eyes off of you

Pardon the way that I stare
there's nothing else to compare
the sight of you leaves me weak
there are no words left to speak
but if you feel like I feel
please let me know that it's real
you're just too good to be true
can't take my eyes off of you

I love you baby and if it's quite alright
I need you baby to warm the lonely nights
I love you baby trust in me when I say
Oh pretty baby, don't let me down, I pray
oh pretty baby, now that I've found you, stay
and let me love you, baby, let me love you.

(Letra e música: Bob Crewe e Bob Gaudio)

No reino das atoardas

Emídio Rangel copia o pior de Santana Lopes ao vir falar em "dezenas de jornalistas" avençados pela PT. Também Santana, quando se defrontou com João Soares nas autárquicas de Lisboa, veio denunciar a existência de uma lista de "avençados" no então município socialista. Vários de nós lhe perguntámos então por essa lista e o desafiámos a divulgar os nomes. Ainda hoje estamos à espera. Rangel seguiu o mesmo rumo acusatório, geral e abstracto, lançando a frase sonante para o ar. Quando Ricardo Costa lhe pediu nomes, no debate da RTP, o ex-director da SIC lá acabou por mencionar três entre as supostas "dezenas". Azar dele: logo se viu na necessidade de recuar publicamente.
Isto de lançar atoardas vale o que vale. E vale quase nada, para além de levantar alguma poeira. Seria como se um de nós especulasse, em tom grave e de sobrolho convenientemente carregado, acerca de uma hipotética lista de jornalistas "avençados pelo Ministério da Cultura" quando Carrilho ali exerceu funções...

Febre de sexta-feira à noite

Passei ontem pelo Rock in Rio-Lisboa, para ouvir única e exclusivamente Jamiroquai. Para além disso, só vi um mar de gente (chegaram-me a falar em mais de 80 mil pessoas), muita terra, muito pó, pouco estacionamento, alguma gente gira e uma tenda designada de "VIP" que parecia transbordar. Não sendo hoje em dia o espectador-tipo para aquele tipo de "shows", assumo que acabei por ficar para ver e ouvir (mais para ver do que ouvir) duas ou três músicas da tal Shakira, já que Lisboa inteira estava lá caída. E reparei que grande parte das pessoas comentaram mais o facto de a rapariga (colombiana, ao que parece) ter "desfrisado" o cabelo do que a sua música propriamente dita (que nem comento, pois não é da minha especialidade). Pois bem, é esta a sociedade que temos, a do tal País a duas velocidades. De um lado Chelas puro e duro: igual aos filmes e às séries, com gangs e jovens armados com pitbulls, com gente à janela a ver e a comentar quem passa. Do outro, um parque que dá pelo nome de Bela Vista, que só vive e respira de dois em dois anos, mas que é a imagem do Portugal de sucesso.

sexta-feira, maio 26, 2006

Por favor, ajudem-me a perceber

Fui hoje a Madrid e posso, agora regressado, responder ao post do Pedro lá mais em baixo: Não, os espanhóis não nos estão a ligar a ponta de um chifre.
Mas o que preciso mesmo é de alguém que esclareça uma questão que me atormenta.
Se no "El Pais" a secção de Desporto abria com um artigo sobre ciclismo, se não vi bandeiras em varanda alguma, se ninguém me falou de futebol, das duas uma: Ou a Espanha ficou fora do Mundial, ou nós é que somos (como direi) *****ladores precoces.

Numa antecâmara

- Assessor é com ésse ou com cedilha?
- Com cê de cão e cedilha, acho. Não sei bem. Mas que interessa isso?
- Tens razão, não interessa nada. O importante é que vamos sacar o tacho.
- A propósito, tacho escreve-se como?
- Com xis, acho. Por mim, estou-me nas tintas. Não há nada mais chato do que a ortografia!

Hoje é sobre jornalistas II

Com formação em gestão de hotéis, quis o destino que eu me desviasse da “operação hoteleira” e abraçasse a carreira de Relações Públicas de uma conhecida cadeia de hotéis. É assim que por razões profissionais contacto frequentemente com jornalistas e órgãos de comunicação diversos. É uma actividade que critico e respeito, onde encontro profissionais que admiro e onde afinal conheci amigos. Confesso até que tenho alguns ídolos dentro do meio e o primeiro dos quais vem da minha infância: trata-se do meu grande herói, o repórter Tintim.
Na prática da minha profissão, viajo bastante por Portugal, convivendo inevitavelmente com muitos dos meus colegas em diferentes hotéis da cadeia que represento. Colegas com diversas responsabilidades, diferentes graus académicos, estatutos profissionais e sensibilidades. A maior parte das vezes almoço ou janto nos refeitórios da empresa onde sem dúvida contacto o “país real”. No meu convívio diário com a malta, o futebol é sempre um tema universal e aglutinador. Mas há outros assuntos de conversa que se revelam arriscados (ou impossíveis)… Por exemplo "a direita", "a Igreja","a Monarquia" são assuntos que prudentemente evito debater por mero instinto de sobrevivência. Com demasiada facilidade os lugares-comuns, a ignorância ou o puro ressentimento tendem a emergir em inconscientes e gratuitas agressões.
Agora encontrei um tema novo a juntar a estes que enunciei. O assunto é precisamente este: os jornalistas. Já não tinham grande fama, mas o “nosso” Carrilho veio à praça pública lançar a grande suspeita. E logo o pessoal recupera velhos ódios e ressentimentos à mesa do café. Vêm as velhas teorias da conspiração, com chorudos cheques e máfias actuantes: os partidos, as grandes empresas e os poderosos que mexem os cordelinhos numa teia de insondáveis desígnios. Ninguém escapa com vida. Nem o crítico de cinema. Na “idade da desconfiança” o homem aproveitou a onda e pôs o fogo na mecha. Por certo está satisfeito.

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Tertúlia literária (30)

- Não quero ser intrometido, mas você está a ler esse livro do José Rodrigues dos Santos de pernas para o ar.
- Não há problema: é assim mesmo. Estes jornalistas, quando escrevem, aplicam sempre a técnica da pirâmide invertida.

Timor: aplauso ao Governo

1. Levantam-se já umas vozes na blogosfera apelando à suspensão dos laços de cooperação entre Portugal e Timor-Leste. Vozes de esquerda, sobretudo – o que me parece revelador de uma compreensível má-consciência histórica. Foi a esquerda radical que em 1975 entregou os timorenses nos braços do invasor indonésio, nada fazendo nos anos imediatos para minorar o drama de um povo que se considera nosso irmão.
2. Agiu bem o Governo em ignorar estas vozes, remetendo para Timor-Leste mais de uma centena de efectivos da GNR. Um envio que aliás já tinha sido pedido, poucos dias antes de rebentar a actual crise, em entrevistas do primeiro-ministro Mari Alkatiri (ao Diário de Notícias) e do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta (ao Público).
3. Estive em Timor há dois anos e pude verificar como a presença da GNR era muito bem acolhida pela generalidade dos timorenses. Dadas as responsabilidades históricas de Portugal no jovem país, esta cooperação é moralmente obrigatória e politicamente recomendável. Criticá-la em nome da necessidade de conter despesas ou pelo facto de Díli se encontrar a 15 mil quilómetros de Lisboa é pura miopia política. A defesa dos interesses estratégicos de Portugal não se esgota no perímetro da Europa comunitária: pelo contrário, estende-se a todos os países que partilham os nossos mais profundos valores culturais, expressos na língua portuguesa.
4. A defesa destes interesses estratégicos implica a urgente criação de um contingente militar no âmbito da CPLP, capaz de acorrer a situações de emergência sempre que para tal for solicitado por um dos países membros, no estrito quadro da legalidade internacional.
5. País entalado entre duas potências regionais (Indonésia e Austrália), Timor-Leste adoptou a língua portuguesa como idioma oficial e o Direito de raiz portuguesa como matriz jurídica. A ligação histórica a Portugal (e, por extensão, ao conjunto dos países que integram a CPLP) é um elemento estruturante da identidade nacional timorense. Temos a obrigação histórica – que devemos encarar como um imperativo político – de não virar novamente costas a um povo que esquecemos demasiadas vezes no passado. E de acentuar a cooperação com Timor em diversas áreas – a começar na educação e formação de quadros, onde o balanço destes últimos quatro anos é largamente positivo. José Sócrates, felizmente, não ouviu o apelo daqueles que o incentivam a governar com vistas curtas no domínio das relações externas, tomando a decisão mais correcta. Os timorenses agradecem. E as centenas de portugueses que lá residem – apostando em Timor como terra de futuro – também.

Informação em crise

Já disse e repito: é impressionante a passividade como a gravíssima crise timorense está a ser recebida pela generalidade dos órgãos de informação nacionais. Há meia dúzia de anos, seria impensável que os principais jornais, rádios e televisões deixassem de enviar repórteres a Díli para cobrir os acontecimentos. Em tão pouco tempo, tornou-se flagrante a falta de investimento em reportagens próprias, que fariam toda a diferença: excepto a Lusa e a RTP, que mantêm delegações em Timor, estamos dependentes de agências internacionais de informação, abdicando de um olhar português sobre esta nova onda de sobressalto em Timor. Um sintoma claro da crise que por aí grassa. Pudessem os repórteres ir a convite de uma entidade oficial, poupando o dinheirinho da viagem às entidades patronais, e não faltaria um avião cheio...

Micro-causa das quinas

Poderá o Sindicato dos Jornalistas emitir uma posição sobre o aparente entorse ao trabalho dos jornalistas que fazem a cobertura da preparação da Selecção para o Mundial de 2006?

Fitinha parlamentar

"Esteja caladinho e oiça!"
Primeiro-ministro dirigindo-se ao líder parlamentar do CDS-PP no debate de hoje no Parlamento

O dislate da semana

"Continuo a acreditar [no apuramento] tal como o Einstein o fez."
Agostinho Oliveira, treinador da selecção nacional sub-21, após duas derrotas consecutivas. Público, 26 de Maio

Um aviso sério

José Sócrates que se cuide: o barómetro (sem link disponível) que o DN hoje publica constitui o primeiro aviso sério de que a rota do Executivo tem de ser alterada. As sucessivas trapalhadas protagonizadas por ministros como Correia de Campos (a propósito do encerramento de maternidades), Manuel Pinho (a propósito do fabuloso-megaprojecto-que-nunca-chegou-a-ser em Sines), Mário Lino (mais iberista do que um madrileno) e Freitas do Amaral (a propósito de tudo e mais alguma coisa) abalaram a credibilidade do Governo. Ou muito me engano ou a palavra remodelação começará, a partir de agora, a inscrever-se nas prioridades do primeiro-ministro. O cansaço de certos membros do Executivo é um excelente pretexto para mudar alguma coisa, sob pena de as partes não tardarem a contaminar o todo...

Novas ligações

A Terceira Noite, de Rui Bebiano. A Esquina do Rio, de Manuel Falcão. O Mundo Perfeito. Desde hoje na barra lateral do Corta-Fitas.

A ler

1. Este oportuno artigo de Pacheco Pereira sobre selos, que "são história condensada".
2. O que o Francisco José Viegas escreve sobre as repugnantes praxes académicas.
3. Tudo no Cão com Pulgas, um blogue que nunca me canso de visitar.

Afinal há mais que um peronista

Era verdade. Jornalista "que não respeite o espírito de cooperação" vai para a rua. Faz parte de um pomposo "Plano de trabalho" da FPF para os jornalistas. O excerto é retirado daí. Com a devida vénia à escola e argumentos.

"NOTA: A Assessoria de Imprensa da Selecção Nacional – Clube Portugal, como responsável pela emissão das acreditações para o estágio a realizar em Évora, reserva-se o direito de retirar a acreditação a qualquer membro da Comunicação Social que não respeite o espírito de cooperação e saudável relacionamento de trabalho que presidiu à elaboração desta regulamentação. A Assessoria de Imprensa da Selecção Nacional – Clube Portugal reserva-se, igualmente, ao direito, que lhe é assistido pela FIFA, de apresentar reclamações ao FIFA Media Comittee sobre qualquer membro da Comunicação Social que não observe respeito pelas regras estabelecidas,
podendo sugerir que lhe seja retirada a acreditação para o Mundial 2006"

Alô, alô Espanha

Será que os espanhóis estão a par da atenção que há meses a nossa Assembleia da República lhes dá? É verdade, o Governo e os nossos deputados andam a digladiar-se por causa do lugar do rectângulo no quadrado!!!... Aqui ficam algumas tiradas. No debate mensal de Março, o primeiro-ministro proferia "eis a palavra de ordem do novo partido sexy: Tragam as espanholas!" para acusar o nacionalismo do CDS no caso do encerramento da maternidade de Elvas. Em Abril era o centrista (?) Telmo Correia que clamava "Basta lla" contra o iberismo do ministro dos Transportes, Mário Lino. Hoje, Sócrates, depois de orgulhosamente se referir aos espanhóis como "nuestros hermanos", bradou "Espanha, Espanha, Espanha! É a nossa prioridade!". Em resposta outra vez ao CDS, claro.

Tácticas Peronistas

O nosso seleccionador nacional assumiu há uns anos a sua simpatia pela personagem de Peron. Na altura ninguém ligou muito. Mas a cada dia que passa se notam mais as consequências desta maneira de ser. Os jornalistas desportivos lá sabem nos buracos em que se metem, mas não me parece aceitável que se passe isto.

P.S.: Já agora gostava que alguém me confirmasse se é verdadeiro o boato que diz que os jornalistas acreditados no estágio foram ameaçados de expulsão pela FPF, no caso de se "comportarem mal".

quinta-feira, maio 25, 2006

Tertúlia literária (29)

- Para mim o Garcia Márquez, o Vargas Llosa e o Carlos Fuentes são imprescindíveis.
- Mas acha mesmo que a selecção da Argentina tem condições de ganhar o Mundial de Futebol?

Roteiros em vez de Presidências Abertas

Mais uma diferença parece ir marcar o(s) mandato(s) de Aníbal Cavaco Silva em relação aos seus dois antecessores. Em vez das "Presidências Abertas" pelo País, que deram muito jeito sobretudo quando era preciso mandar recados ao Governo ou espevitar a opinião pública, Cavaco Silva parece ter encontrado uma outra fórmula: os roteiros. O nome, a manter-se, é muito mais civilizado e dá bem a ideia de como Cavaco não quer fazer da hostilização ou dos levantamentos locais contra uma ou outra medida do Executivo a sua praxis política em Belém.
O primeiro passo do "Roteiro para a Inclusão", tema lançado no discurso do 25 de Abril, é dedicado à luta contra a pobreza e a exclusão. A casa de partida do "roteiro" é em Alcoutim (Algarve) e a casa de chegada em Vila Velha de Ródão (Castelo Branco).

O número dez

Não se percebe a excitação mediática com o eventual regresso de Rui Costa ao Benfica. Parece que a apresentação do jogador aos sócios e aos media será por volta das 20h30, em directo nas televisões, mas já durante a tarde o tema ofuscou praticamente tudo e todos. Isto num dia em que há uma petição popular para um referendo da "Lei da Procriação Medicamente Assistida", a situação está periclitante em Timor-Leste, há um encontro de Sócrates com os partidos (onde ficou decidido que vão 120 GNR para a ilha), uma reunião do Presidente da República com o primeiro-ministro ou até um Conselho de Ministros extraordinário. Tudo a propósito do regresso de um jogador em final de carreira. Ainda se fosse o Figo para o Sporting...

Verdadeiramente ensurdecedor

O pesado silêncio do Sindicato dos Jornalistas e do seu "Conselho Deontológico" a propósito do vendaval levantado pelo livro de Carrilho em que são directamente visados vários sócios da referida agremiação.

Afinal, o que querem as mulheres?

A convite da Federação Portuguesa de Cardiologia, como noticia o insuspeito 24 Horas, «Quinze empresárias portuguesas passaram a manhã de ontem agarradas ao fogão».
Uma delas declarou, sem ambiguidades: «Nós, mães e donas de casa, somos quem decide o que a nossa família come. Por isso temos uma responsabilidade muito grande».
Houve uma altura em que pensei que já percebia as mulheres. Hoje, tenho mais juizo. Freud tinha, indubitavelmente, toda a razão.

Cereja em festa

A "festa da cereja", como se previa, foi um sucesso no Parlamento. Deputados, funcionários e alguns jornalistas não faltaram hoje à prova do saboroso fruto, ali distribuído pelas deputadas socialistas Cláudia Vieira e Telma Madaleno. Houve até reportagem televisiva sobre o assunto, o que só demonstra como a popularidade das cerejas está em alta. A procura foi tanta que uma vetusta alcatifa parlamentar ficou cheia de nódoas desta fruta (que, como é sabido, são das mais difíceis de tirar). Mas não havia necessidade: as duas jovens parlamentares transportaram para São Bento 2700 quilos de cerejas do Fundão e de Resende. Chegaram para as encomendas. E deixaram todos com a boca mais doce. Todos? Todos não: à mesma hora o deputado socialista Manuel Maria Carrilho preferia almoçar com um assessor numa esplanada da Praça das Flores, alheio à iniciativa das suas camaradas de bancada.

Os parlapatões da bola

Estou como o Ferreira Fernandes e o Francisco: gosto muito de futebol mas ando cada vez mais alérgico ao paleio de café praticado abundantemente por legiões de "tugas" muito antes e muito depois dos jogos. E tenho ainda menos paciência para certos parlapatões armados em "especialistas" de bola na pantalha que esbanjam lugares-comuns a torto e a direito, sempre com imenso tempo de antena mesmo quando é óbvio que não percebem peva do assunto.

Cool chic?

Que raio de modas! Já não chega estar sempre a inventar "novos conceitos" gastronómicos (mais velhos que a Sé de Braga), agora também já nos impingem o conceito da praia cool chic. Ela é yoga, balão por cima do mar, jazz sessions ao sabor de caipirinha... Ela é ostras da Ria Formosa! Cuidem-se os que forem para Tavira este Verão! A empresa de "experiências" a vida é bela preparou para os incautos uma praia "très chic!", melhor, "chic a valer", como diria o Dâmaso Salcede.

Ilustração - Um quadro a óleo de John Sloan - South Beach Bathers (1907) - Walker Art Center, Minneapolis.

O sistema de Hollywood

Num programa da BBC, na televisão, sobre a indústria do cinema, alguém afirmava que seis em cada dez filmes perdiam dinheiro e três ficavam ela por ela. Apenas um ganhava, e isso era como encontrar uma mina de ouro. Outro entrevistado dizia que se os produtores colocassem o dinheiro no banco, teriam melhor retorno do que a fazer filmes. Um terceiro depoimento reflectia negativamente sobre a pobreza das histórias fabricadas pelo complexo sistema de crivos de Hollywood.
O programa não iludia a crise do cinema como negócio, mas acredito que o problema vai mais fundo. O sistema de Hollywood secou a criatividade do cinema contemporâneo, matando cinematografias nacionais e numerosos talentos.
Os filmes vistos nas salas portuguesas ou na televisão são invariavelmente americanos e, mais do que isso, têm uma linguagem específica característica do sistema de Hollywood. Existe extrema preocupação por efeitos visuais, o drama ao serviço da espectacularidade cénica e técnica, a história dependente das características das estrelas de serviço. Uma película sem actor conhecido não tem viabilidade neste sistema e os autores dos argumentos possuem escasso domínio sobre o produto final. O inglês tornou-se a única língua narrativa.
Este triunfo universal de um produto tão pouco diversificado é um dos elementos mais visíveis da globalização. Mas se os intelectuais europeus (incluindo os portugueses) criticam tantos aspectos negativos desta (os McDonalds ou a Coca Cola, por exemplo), o fim da variedade no cinema merece geralmente aceitação, encolher de ombros ou contestação das quixotescas políticas europeias de tentar salvar alguma estética local. O cinema contemporâneo feito em Hollywood atravessa um período medíocre, mas esta é uma opinião minoritária.

Ler pode ser prejudicial à saúde


O novo livro de cabeceira
de Manuel Maria Carrilho.

Jornalismo sem memória

"As Redacções perderam a memória e as referências", disse ontem Rui Araújo, provedor do leitor do Público, no Clube de Jornalistas da 2. Uma grande verdade, com perda óbvia para a qualidade jornalística. Quando se menciona hoje com frequência o crescente divórcio entre os leitores e os jornais, este é um aspecto que costuma ser omitido. Mas não devia. Porque boa parte dos problemas começa precisamente aqui.

"Jaquinzinhos" fritos com molho de tomate

Acabo de receber o livro "Jaquinzinhos", de João Caetano Dias, que agora "bloga" no inevitável Blasfémias e confesso que gostei. O estilo é incisivo, a prosa escorreita e faz quase sempre uma análise da actualidade muito descomprometida. Para além disso, é claro, fiquei a conhecer melhor o tal blogue dos Jaquinzinhos, que só consultei fugazmente porque na altura era ainda um aprendiz da blogosfera (acho que ainda sou). O livro tem a chancela da editora Espírito das Leis e apresenta-se como "uma selecção dos melhores textos publicados no blogue sulista, sportinguista e liberal". Só por esta sinceridade valia a pena...
Já agora, eu que adoro jaquizinhos fritos com molho de tomate, sugiro que se acompanhe a polémica entre o JCD e o Domingos Amaral (que faz um importante serviço público na Maxmen), no Blasfémias. Tudo a propósito de um texto do DA no Diário Económico.

Cinéfilo, eu?

Já vi o Código Da Vinci. E não recomendo.

Nada a declarar?

Descobrimos que o controlo nos aeroportos já não está tão rigoroso ao ler a Visão. De acordo com a reportagem, exclusivo Le Nouvel Observateur: «Os brasileiros organizaram-se: partiram para a Alemanha com prostitutas na bagagem».
Acontece que os franceses não têm grande moralidade para críticas. Afinal, os exércitos napoleónicos também viajavam com bordéis na rectaguarda. E há exemplos que a História se encarrega de replicar.

quarta-feira, maio 24, 2006

A intriga

Já que estamos nesta série, e depois da "inveja" e da "mentira", sugiro a leitura deste post do Rui Bebiano sobre a "intriga", no blogue A Terceira Noite.

Tertúlia literária (28)

- Gosta dos romances do Saramago?
- Claro. Mas prefiro sempre na versão castelhana.
- Então porquê?
- Às vezes a tradução para português deixa um pouco a desejar.

A mentira

Um autocarro cheio de políticos bate numa árvore em plena estrada alentejana e muito perto de um monte. O dono do monte, que testemunha o acidente, chega-se perto. Encarrega-se de enterrar todos os políticos. Alguns dias depois chega um investigador, que vê o autocarro todo espatifado, e pergunta ao dono do monte:
- O que aconteceu aos políticos que estavam no autocarro?
- Eu enterrei-os - disse o homem.
- Mas estavam TODOS mortos? - indaga o investigador.
O homem responde:
- Alguns que diziam que não, mas você sabe como os políticos são mentirosos...

P. S. - Quem me enviou isto foi um amigo meu, que por acaso é político há vários anos (participou na AD original, por exemplo). Só que com um sentido de auto-crítica que falta a muitos dos seus companheiros, até porque ele é daqueles que não vive para a política, nem da política... Achei que esta espécie de anedota era oportuna, nos tempos que correm.

A inveja (crónica)

A inveja é uma das mais perigosas paixões humanas, sobretudo porque nunca se apresenta como tal e o seu grau de destruição costuma ser máximo. Também não é um sentimento que os estúpidos dominem, mas atrai sobretudo as pessoas inteligentes. O invejoso não deve mostrar o objecto ou motivo da sua inveja, pois nessa atitude poderá desmascarar-se. A inveja, naturalmente, é típica dos medíocres, daqueles que ficaram abaixo do potencial sonhado, dos que conhecem as próprias limitações, embora nunca o confessem. Mas o que a move é sempre a argúcia e a paciência. A inveja pode ser fascinante, pois os que dominam esta arte têm de conhecer bem os pontos fracos dos homens que odeiam, primeiro passo para sobre eles construirem a lenda devastadora.
Em certa extensão, a inveja usa a força do movimento através de uma subtil mudança na direcção desse mesmo movimento. Um ligeiro desvio da energia pode ser arrasador.
Sendo um dos elementos da natureza humana, a inveja rodeia-nos, sempre disfarçada por sorrisos hipócritas. E sente-se o gozo dos que a praticam todos os dias.

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Amor à arte, amor à vida

A Criança, de Luc e Jean-Pierre Dardenne (2005). Enquanto uns cineastas filmam com amor à arte, outros filmam com amor à vida. É este o caso dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, que no ano passado venceram a Palma de Ouro em Cannes com um filme que parece estilhaçar todas as fronteiras entre a ficção e o real. A Criança relata-nos, sem sombra de banalidade, uma história banal de gente banal numa urbe sem nome. Podia acontecer a qualquer pessoa com quem diariamente nos cruzamos na rua. Nada de efeitos especiais, nada de viagens rumo a galáxias incógnitas: estamos perto da reportagem, com o olhar fixo nas classes desprivilegiadas da periferia de uma grande cidade da qual quase só vemos os pátios das traseiras. É também o outro lado do sonho e do glamour que os Dardenne filmam, tal como fizeram com o inesquecível Rosetta (1999), também Palma de Ouro em Cannes. Herdeiros directos do neo-realismo italiano, mas sem mitificarem as “classes trabalhadoras”, falam-nos afinal – numa linguagem universal, onde nenhuma palavra surge em excesso – dos delicados fios das relações humanas, sempre sob o fio da navalha. E revelam-nos aqui Jérémie Renier, um actor de singular talento: raras vezes tenho visto representar tão bem.
Classificação: *****

Camões não, obrigado

A recusa de Luandino Vieira em aceitar o Prémio Camões alegando «razões pessoais e íntimas» é uma bofetada com luva de boxe assaz inesperada para o Ministério da Cultura.
Ao que parece, o MC afirma que «a opção do escritor será naturalmente respeitada". Nós agradecemos o natural esclarecimento, não fosse passar-nos pela cabeça que o prémio seria outorgado à revelia.

Efeito Carrilho?

«Empresas de construção vão ter cadastro»
Título do Diário Económico

A pátria de Nero Wolfe

Montenegro ascende à independência, rompendo os laços políticos com a Sérvia. Nada sei de Montenegro, mas tenho um carinho muito especial por este país. Eu explico: Nero Wolfe, um dos meus personagens favoritos de ficção, era montenegrino. Radicou-se em Nova Iorque - onde se tornou célebre, como detective e gourmet - mas um dia voltou à terra natal. No romance A Montanha Negra (The Black Mountain, 1954), Rex Stout relata-nos em pormenor este regresso de Wolfe a Montenegro, então integrada na federação jugoslava dirigida com mão de ferro pelo marechal Tito. "Aqui estamos em Montenegro, onde os turcos se agarraram às escarpas durante séculos, sem qualquer benefício", dizia nesse livro o detective ao seu secretário, Archie Goodwin.
Wolfe era de lá. É quanto basta para eu ter este carinho tão especial sobre um país de que nada sei.