sexta-feira, junho 30, 2006

Uma semana?

Caríssimo Paulo Gorjão, uma semana é muito pouco em política. Registo a sua análise, mas não acho que esteja assim em tão grande contradição com a minha.

Freitas do Amaral castigado duas vezes

Freitas do Amaral ingressou no Governo, em Março de 2005, para consolidar um currículo político que estava em pousio desde a sua vinda de Nova Iorque, quase uma década antes, e para refrescar a memória dos portugueses que se haviam desabituado de o ver nas capas dos jornais. A sua inesperada ressurreição na pasta dos Negócios Estrangeiros, que ocupara em eras remotas, constituía uma espécie de prelúdio antes de lançar a putativa candidatura presidencial. Mas Mário Soares trocou-lhe as voltas. Ao atirar-se para Belém no Verão passado, levando o PS a reboque, Soares inviabilizou as ambições presidenciais de Freitas, que já se mostrara disponível numa entrevista ao DN. Sócrates, sem margem de manobra, apoiou Soares. Péssimo negócio: ganhou um candidato com derrota garantida nas urnas e perdeu um ministro dos Negócios Estrangeiros. Freitas desdobrou-se desde então num estendal de disparates: no fundo, implorava que o substituíssem sem demora. Castigador, o primeiro-ministro só agora lhe fez a vontade. E castiga-o ainda de outra forma, nomeando Luís Amado para os Negócios Estrangeiros: seria difícil, no mesmo parentesco político, encontrar um sucessor com um perfil tão diferente do antecessor, nomeadamente no capítulo das relações luso-americanas. Num currículo onde não faltam desaires, Freitas do Amaral acaba de acumular mais um.

A voz do dono

“Esta semana não poderia ter corrido melhor a José Sócrates.” Acabo de ler esta frase. Trata-se do excerto de um artigo de Eduardo Prado Coelho numa das suas enésimas vénias ao poder político de todos os matizes? Nada disso. De uma análise irónica do Daniel Oliveira no Arrastão? Também não. De uma intervenção politicamente correcta de Jorge Coelho na Quadratura do Círculo? Nem por sombras. É a primeira linha do segundo parágrafo de uma “notícia” que a Lusa divulgou às 17.53 de hoje, confundindo informação com descarada propaganda ao Executivo rosa. E afinal porque correu tão bem a semana ao primeiro-ministro? A agência esclarece: “Não só pela concretização de quatro medidas inseridas no plano de bandeira do Governo - cobertura total de banda larga das centrais telefónicas da PT, o correio electrónico virtual Via CTT, o Netemprego e a Empresa On-line - como pelos resultados do relatório de Bruxelas sobre o Governo electrónico.” Com a demissão de Freitas do Amaral, que a mesmíssima Lusa anunciara quatro horas antes, foi mesmo uma semana em cheio. Agora só falta Portugal ganhar à Inglaterra...

Uma derrota pessoal de Sócrates

A saída de Diogo Freitas do Amaral de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros é mais uma derrota pessoal e política de José Sócrates, depois de já ter perdido as eleições autárquicas (Lisboa, Porto, Coimbra e o total do País) e as presidenciais (onde apresentou Mário Soares e viu Alegre roubar o segundo lugar). Mas vamos aos sinais e aos indicadores. Freitas do Amaral, após um apoio claro e objectivo a Durão Barroso nas legislativas de 2002, deu outra das suas reviravoltas e esteve com Sócrates nas eleições do ano passado. O fito era óbvio: O antigo candidato de 1986 aceitou ser MNE para entrar no jogo presidencial (ou para ficar mais perto dele). Soares trocou-lhe as voltas e não houve reedição do Prá Frente Portugal. Depois das eleições de Fevereiro, cedo se percebeu que aquela que é ciclicamente uma pasta que dá visibilidade e transforma ministros apagados em campeões de popularidade estava diferente. A crise nos consulados, a falta de dinheiro nas embaixadas, o Iraque, as idas (poucas) aos conselhos da União Europeia foram cansando o ministro. Há pouco mais de um mês o Expresso noticiou que Freitas estava mesmo cansado. As Necessidades desmentiram, o ministro afinal estava pleno de vigor e nem as informações que corriam nos bastidores da política de que o MNE estava de saída, que provavelmente não chegava à presidência portuguesa da UE (no segundo trimestre de 2007), o abalavam. Depois, Timor-Leste. O primeiro-ministro não desejava isto. Caso contrário, não teria reagido epidermicamente à notícia do Expresso. Recorre agora à prata da casa do guterrismo: Nuno Severiano Teixeira na Defesa, Luís Amado no MNE. Nenhuma solução é pensada, é de recurso perante o problema nas vértebras (na C7, dizem-me) do MNE. O primeiro é um especialista na área da Administração Interna, embora domine e conheça também os meandros militares. O segundo terá de fazer acompanhar-se melhor nas Necessidades. Ou será trucidado pela máquina diplomática. Se esta legislatura fosse um jogo de xadrez, Sócrates perdia agora um bispo para fazer avançar dois peões guterristas...

Serra do Gerês

De saída

Freitas do Amaral abandonou o Governo. Estava escrito nos astros, como no momento próprio aqui se escreveu.

Força Portugal

Que estas meninas amanhã não tenham este sorriso estampado na cara! E porque hoje é sexta-feira.

Não é que vos interesse...

...mas hoje parto em direcção ao Santa Eulália Resort & Hotel SPA. Infelizmente, levo computador. Amanhã à tarde, acreditem que não vou estar a ver o Portugal-Inglaterra.

Batalha épica

Desporto. Emoção. Agressividade. Mestria. História. Uma batalha que foi épica sem se perder o fair play. Inesquecível

Gostei do jantar

O XL mantém aquele estúpido sistema de reserva de mesas que pode ser "chique a valer" mas tem afugentado antigos clientes como eu: ou se chega forçosamente às 20 horas, com "despejo" garantido" a partir das 22 e 45, ou não se encontra um lugarzinho antes desta hora, mesmo que se telefone de véspera. Uma vez mais desisti de lá ir. Rumámos antes ao Casanostra - e ainda bem que o fizemos. Continua a ter uma atmosfera acolhedora, um serviço diligente e uma excelente ementa de pratos genuinamente italianos. O Moët & Chandon foi substituído com vantagem por um prosecco transalpino que ia escorregando em doses generosas. Do carpaccio inicial ao parmeggiano final, o diálogo seguiu em natural crescendo, molto vivace. A sala é exígua (um problema clássico no Bairro Alto) e as mesas vizinhas estão demasiado próximas, o que constitui um inconveniente óbvio nas noites em que o restaurante é menos bem frequentado, o que por vezes acontece. Mas não foi o caso: estivemos lá enquanto quisemos, ninguém nos despejou e a conversa não podia ter corrido melhor.
Tudo isto para dizer que gostei do jantar.

Boa notícia para o V.P.V.

E para todos os fumadores compulsivos que viajem entre Dusseldórfia e Tóquio (não se riam que o Corta-Fitas é lido em todo o Mundo :)
O caderno de Negócios do D.N. noticia que um empresário alemão criou a Smoker's International Airways, para todos os que não dispensem uma cigarrada mesmo em pleno ar. A licença dos dois Boeings fretados vai custar 40 milhões de dólares. A ideia não me parece muito pensada quanto ao plano de negócios, mas o homem lá deve ter feito as contas.

quinta-feira, junho 29, 2006

Declaração ao País

Antecipando desde já a entrada do tema no agenda-setting do Corta-Fitas, aqui deixo a minha posição quanto ao referendo à despenalização do aborto. Tal como fiz no anterior, vou abster-me.
Elas que decidam: Não cada uma por si, mas todas por todas. A minha opinião é irrelevante. E no entanto, sabe quem me conhece, defendo a Vida. Não gosto é de meter-me onde não sou chamado.
Para o bem e para o mal, não sou mulher.

Transparência

O Conselho Europeu decidiu na semana passada abrir abrir certos procedimentos das suas reuniões ao escrutínio da opinião pública. Já li críticas à iniciativa. A meu ver, é urgente que os encontros dos líderes da União Europeia sejam públicos, e não me parece que a abertura deva ser apenas parcial. Em primeiro lugar, o Conselho Europeu já funciona como uma espécie de senado, com 25 membros, num modelo de câmara alta do parlamento. Só não é exactamente um senado porque os “senadores” têm pesos diferentes nas votações (embora todos sejam iguais na capacidade de vetarem uma decisão que afecte os interesses vitais do seu país).
O segundo argumento a favor da abertura dos trabalhos à curiosidade pública tem a ver com a democracia. Existe um défice democrático na UE? Pois bem, obriguem os líderes a funcionar de forma mais democrática.
O argumento contrário, segundo o qual a eficácia do principal órgão da UE será afectada pela medida, tornando mesmo impossível os trabalhos, surge de pessoas que conhecem bem o funcionamento da União. É um argumento forte, mas não me convence. O processo existente é opaco, pois a opinião pública sabe o que se passa na sala através de briefings nacionais. Os jornais grandes cruzam o relato de vários países e ficam com uma ideia aproximada da realidade. Mas, geralmente, há 25 versões daquilo que verdadeiramente aconteceu.
Não seria melhor dispensar esta confusão dos mensageiros e criar um procedimento transparente, mesmo em directo na televisão? Ou isto é utopia?

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Serra do Gerês

Muitas vezes passamos pelas coisas sem as ver...

Fitinha parlamentar

"As populações, em geral, têm sabido compreender e aceitar os pequenos decréscimos de comparticipação medicamentosa e os pequenos acréscimos nas taxas moderadoras."

Ministro da Saúde, Correia de Campos, hoje no Parlamento, respondendo à interpelação do CDS-PP

Tertúlia literária (58)

- Já leste O Leopardo?
- Nem me fales disso. Detesto zoologia.

Post à Mexia

Tornamo-nos adultos quando a frase «espero-te à saida» já não desperta medo, mas antecipação.

O ópio do povo (28)

(...) O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)

Mia Couto, in O Fio das Missangas

Bloco de traidores

Espanta-me que só 27% dos inquiridos classifiquem a política do Governo Sócrates como de centro-direita ou de direita. Mas mais, muito mais espantado, fico com outros dados obtidos na sondagem da Aximage.
Escreve o Correio da Manhã que: «Entre os eleitores do BE, 56,4 por cento afirma que o Presidente fez bem em aplicar o seu primeiro veto político no passado dia 2 de Junho».
Mais de metade dos bloquistas é contra a Lei da Paridade? Ena, ena! A próxima vez que jantar no Agito já tenho tema de conversa.

Uma dor de cabeça para o MAI

Ontem à tarde eu fui um dos milhares de portugueses afectados pelo pobre de espírito que se tentou matar na ponte 25 de Abril. A GNR conseguiu salvar a criatura de si própria ao fim de quatro horas. O episódio criou mais uma dor de cabeça a António Costa, ministro da Administração Interna. É que este senhor está no posto há mais de um ano e ainda não criou esta importante força policial, que resolveria este tipo de problemas num instante.

Sugestão de férias

Ainda não decidiu onde gozará férias este ano? Espreite este blogue, onde vai encontrar uma excelente sugestão feita por uma pessoa de bom gosto.

São Pedro

Esta manhã, num bairro popular de Lisboa, ouvi um homem já idoso dizer à porta de uma mercearia: "Viva o dia de São Pedro!" Não sei bem porquê, mas gostei daquela frase. Talvez por soar àquele jeito doce das comédias protagonizadas pelo António Silva, em perfeito contraste com as palavras agrestes que vamos escutando com demasiada frequência nesta cidade onde já não existem pátios das cantigas.

Parabéns a você

Faz hoje 50 anos que nasceu um rebento de 4,5Kg, o qual seria baptizado Pedro Santana Lopes. O 24 Horas diz que o aniversariante prometeu uma entrevista a propósito da efeméride. Prometeu, mas não cumpriu.
Mesmo assim, o jornal ofereceu-lhe uma incompreensível cronologia biográfica de duas páginas, ilustrada com a foto de PSL em smoking. Isto, meus amigos, é verdadeiro fair play jornalístico.

Adeus Bertrand, até depois

Ao ler esta sensata crónica de Ruben de Carvalho, até me esqueci de que é comunista.
Eu, admito, sinto muito mais constrangimentos emocionais perante esta aquisição alemã da nossa Bertranzinha. E ninguém me tira da cabeça que a culpa foi do Dan Brown.

quarta-feira, junho 28, 2006

Volver

"Frente à destruição e à miséria moral, a arte", disse Pedro Almodóvar ao El País num comentário ao seu último filme. Tive a oportunidade de ir vê-lo no São Jorge, integrado no Lisbon Village Festival, e valeu mesmo a pena! Pena é só vir na próxima rentrée.

As teias da tradução

Se calhar fui eu que fiquei mal habituado, durante anos, ao ler as excelentes traduções de Fernanda Pinto Rodrigues para a Colecção Vampiro, dos Livros do Brasil. Mas não me convencem estas traduções modernaças dos policiais clássicos que a Asa tem vindo a reeditar. Ver toda a gente tratar-se por "tu" na Inglaterra provinciana dos anos 40 retratada por Agatha Christie, por exemplo, não me soa nada bem, embora tecnicamente um you tanto possa traduzir-se por "tu" como por "você". O problema, com estas novíssimas tradutoras muito activas no mercado, não é o domínio da língua inglesa, que costuma ser impecável: é o domínio do nosso próprio idioma, cujas subtilezas andam cada vez mais ignoradas. Num livro que acabei de ler, a idosa e formalíssima Miss Marple, em diálogo com um responsável policial, utiliza a expressão "passar cartão", que nenhuma velhinha daquela época e daquele extracto social empregaria. Páginas adiante, um comissário da polícia diz a um coronel que "a maioria dos presentes estava bastante passada". Soa bem? Claro que não: é linguagem urbana contemporânea, impossível de transpor para a boca de personagens do countryside inglês de há seis décadas. A questão de fundo é sempre a mesma: os padrões de exigência cultural baixaram drasticamente. Até em editoras respeitáveis e conceituadas, como é o caso.

Postais blogosféricos

1. O Nortadas faz três anos. Ao Carlos Furtado e ao resto da equipa, um abraço de parabéns.
2. O Blogoexisto, de João Pinto e Castro, acaba igualmente de festejar o terceiro aniversário. Um abraço também para ele.

Partir pedra

Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu e da Associação Nacional de Municípios, afirmou que os fiscais do Ministério do Ambiente deviam ser "corridos à pedrada" quando aparecerem lá por terras de Viriato. Com esta opinião, digna da Idade da Pedra Lascada, o social-democrata revela-se um genuíno Cro-Magnon. Estranho o silêncio que Marques Mendes tem mantido até agora sobre esta declaração do vice-presidente da Mesa do Congresso dos laranjinhas. Mas talvez nem devesse estranhar: se criticasse Ruas, Mendes ainda se arriscava a levar também com um calhau...

Grande Repórter

Pedro Rolo Duarte, na sua crónica de hoje no Diário de Notícias, escreve: «foi através de um blogue que eu percebi que "o jornalista sueco assassinado" era afinal Martin Adler - e é nesse mundo de opiniões livres que eu encontro a notícia e a homenagem que os jornais portugueses se esqueceram de fazer. Um sinal dos tempos, não restam dúvidas...».
A mim não sucedeu o mesmo. Aconteceu pior. Li na notícia impressa o nome do repórter, numa "breve" escrita por alguém que obviamente não o conhecia, provável adaptação de um take da Lusa. Ao visitar a casa do Francisco, confirmei que era o mesmo que me habituara a admirar nas reportagens da G.R. Não penso, no entanto e ao contrário do Pedro, que a ausência de maior destaque dado à sua morte seja pelo «facto de ser sueco e (...) mais um jornalista assassinado em serviço».
Creio, isso sim, que a grande maioria dos jornalistas pelas mãos de quem a notícia passou e a reescreveram não fazia a mais pálida idéia de quem ele era. O que me parece ainda mais sintomático.

Mediatismos

Marcelo Rebelo de Sousa na Alemanha a comentar o mundial de futebol e a RTP a emitir a partir de lá o programa mensal de comentário político. O mesmo Marcelo a assistir aos treinos da selecção e a fazer crónicas no jornal A Bola. Paulo Portas comentador quinzenal do Estado da Arte e agora, uma revelação para mim, cronista regular do jornal Record.
O que espanta é que nenhum dos dois ao longo dos anos mostrou especial atenção ao fenómeno futebolístico ou sequer foi visto em estádios de futebol. O que explica então que os dois queiram agora surgir a comentar a coisa da bola e a cair num dos erros mais básicos da política contemporânea - a sobrexposição e a necessidade de aparecer em tudo e de ter opinião sobre tudo? Um conselho para cada um: 1) O professor que se dedique mais ao ténis, onde, apesar de tudo, revela dotes de comentário muito mais apropriados. Para além do Estoril Open e de Roland Garros (de onde Marcelo chegou a fazer emissão para a TVI), poderá comentar Wimbledon, Flushing Meadows, Open da Austrália, etc; 2) O Paulo que vá assistir ao primeiro jogo a sério da sua vida. Regresse a Alvalade, onde foi visto em novo acompanhado do pai e de um sportinguista que dá pelo nome de... Jorge Sampaio.

P. S. - Se serve de exemplo, vejam o que aconteceu a um senhor que até chegou a primeiro-ministro...

Carlos & Carlos

O Carlos Leone vai ser pai pela primeira vez no fim de Agosto. Parabéns ao Carlos pelo Carlinhos. Isso, sim, é importante.

Ainda há esperança para o PSD

O laranja é uma das cores da moda este Verão.

O ópio do povo (27)

Zinedine Zidane mostrou ontem o que distingue um grande jogador de um jogador excepcional. Ele é desta segunda categoria. Com a retirada anunciada - ainda por cima renunciou ao cumprimento do contrato com o Real Madrid porque não se quer arrastar no relvados -, Zizou matou o jogo França-Espanha (3-1) com um golo de antologia. Percebe-se agora porque há oito anos chamavam-lhe simplesmente Presidente Zidane. Se todos se arrastassem como Zizou (ou Figo neste mundial)...

Super Muito Homem

É que nem pensem! Depois de terem feito o mesmo ao Batman, o lobby gay já está a tentar abarbatar o Super-Homem, a propósito do novo filme. Que ele é fotografado com poses duvidosas e com um armário atrás e coisa e tal.
«Rapazes», ouçam bem: Que os promotores do filme tenham capitalizado o vosso interesse por um homem em roupa interior reveladora é uma coisa, mas o Super-Homem não é, não foi e não será homossexual.
Já que são tão criativos, por que é que não arranjam os vossos heróis sem dar cabo do imaginário da malta? O Hiper-Trans, o Closet-Man ou o Quarteto Abba são desde já algumas sugestões que podem aproveitar à vontade. Escusam de agradecer.

terça-feira, junho 27, 2006

Na sombra do "Via CTT"

O PSD de Luís Marques Mendes tem resistido à tentação de formar um Governo-sombra (muito ao gosto do PP de outros tempos), mas já vai sendo tempo de começar a fazer alguma oposição sectorial, aproveitando os novos membros eleitos no congresso (onde andam?) e a onda de anúncios feitos pelo executivo de José Sócrates, que urge comentar, contrariar e desafiar, segundo o preceito básico de qualquer oposição democrática que se preze.
Assim, para responder à criação da caixa postal electrónica dos CTT para todos os cidadãos (infoexcluídos ou não, segundo o conceito da "intermediação"), Mendes poderia chamar o antigo vice-presidente de Durão Barroso e mandatário digital da campanha presidencial de Cavaco Silva, Diogo Vasconcelos. Como poderia fazer mais com Paula Teixeira da Cruz, que daria uma óptima ministra-sombra da Justiça ou com os "noviços" Manuel Lancastre (ministro-sombra da Economia ou coisa que o valha) e Pais Antunes (a sombra de Vieira da Silva). Eis o elenco completo (pura ficção), por favor não se riam com alguns dos casos aqui expostos:

PM sombra: Luís Marques Mendes
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros sombra: Vasco Rato (resignou, antes de indigitado)
Ministro de Estado e da Administração Interna sombra: Eduardo Azevedo Soares
Ministra das Finanças sombra: Manuela Ferreira Leite (temporariamente indisponível)
Ministro da Presidência sombra: Pedro Passos Coelho (resignou, antes de indigitado)
Ministra da Justiça sombra: Paula Teixeira da Cruz
Ministro da Agricultura sombra: Arlindo Cunha
Ministro do Trabalho e da Segurança Social sombra: Luis Pais Antunes
Ministro da Economia sombra: Manuel Lancastre
Ministro da Defesa Nacional sombra: Miguel Macedo
Ministro da Cultura sombra: Vasco Pulido Valente (convidado pelo amigo comandante, mas afinal indisponível)
Ministro do Ambiente sombra: José Macário Correia (tem experiência governativa como secretário de Estado)
Ministro das Obras Públicas sombra: Telmo Moreno (jovem autarca modelo)
Ministro da Saúde sombra: Jorge Paulo Roque da Cunha (é médico e tudo)
Ministro dos Assuntos Parlamentares sombra: Pedro Vinha da Costa (Marques Guedes seria a alternativa, antes de defender o Dia do Cão)
Ministra da Educação sombra: Assunção Esteves (Regina Bastos também ambiciona o lugar)
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros sombra: Pedro Duarte

P. S. - Voltando à "Via CTT", parece que o Louçã voltou. Depois de um apagamento relativo (ele de facto era muito mais activo a fazer oposição ao Governo PSD-CDS), aí está o homem a questionar a legalidade da coisa. E quem diria que eu um dia faria um link para o site do BE aqui no blogue, hein?

Tertúlia literária (57)

- Almada é genial.
- Prefiro Cascais.

Ninguém os segura (também)

O responsável por esta descoberta foi o Emídio Fernando, homem da rádio (e não só). E o autor é seguramente um dos melhores cartoonistas do Brasil. País bom de bola e bom de jornalismo.

Importa-se de repetir?

«Babar está ainda hoje bem vivo, fez as delicias de muitas gerações, a minha incluida (se calhar foi por causa dele que já me acusaram de ser traficante de marfim)». João Soares

Outra vitória da lusofonia

Selecção da Ucrânia apurou-se para os quartos-de-final do Mundial de futebol.

O dislate da semana

"Portugal é um país sazonal."
Sousa Cintra, na SIC Notícias (21 de Junho)

Euro? Milhões!

Imaginemos que a notícia, no DN de hoje, de que o Estádio Algarve custa anualmente às Câmaras de Faro e Loulé 17 milhões de euros/ano tinha sido enquadrada numa paisagem mais geral e desoladora.
Que o jornal nos mostrava quanto custam por ano todos os estádios municipais do Euro 2004, que comparava os projectos megalómanos das Empresas Municipais para estes espaços (com palcos para espectáculos rock, hotéis, centros comerciais, centros desportivos para isto e para aquilo) com a realidade opaca e constrangedora que é esta. Que listava o dinheiro que entrou e para onde saiu.
Há muito que deixou de estar em causa quanto custou esta brincadeira onanista. Agora está em causa quanto custa e como pode deixar de custar.
É por estas e por outras faltas de estratégia, transparência e planeamento a longo prazo que, quando me falam de regionalização, puxo logo da pistola.

Adenda: Um anonymous chamou a atenção e com toda a pertinência. O valor referido no corpo da notícia de 1,7 milhões deve ser o correcto e o do título (17) errado. Seja como for, cerca de 350 mil contos ano em moeda antiga é um balúrdio.

Momento International Geographic

Os alemães não são para meias medidas. Como a sua mascote para o Mundial foi um fracasso, decidiram matar o urso que a inspirou. Coitado do Bruno.
O Pedro Sousa Tavares desenrola a lista de animaizinhos que terão constituído a ementa do bicho nos últimos dias e levado a que fosse abatido. Ok, pronto. Mas quem é que nunca comeu uma cabra na vida, hem, que atire o primeiro cartucho.

Postais blogosféricos

1. A Joana Amaral Dias, o Nuno Ramos de Almeida, o Ivan Nunes e o António Figueira reuniram-se para fazer um novo blogue: o Caderno de Verão. Nota original: promete durar só 60 dias. Veremos...
2. Já lá vão três anos desde que o João Paulo Meneses fundou o Blogouve-se. Mas em vez de receber prenda, decidiu oferecer uma: o "livro virtual" Os Textos do Blogouve-se, uma antologia da prosa que entretanto ali publicou. Vou ler.
3. Pensador nas mais diversas áreas (incluindo a grande-área do futebol), José Medeiros Ferreira sugere aqui que a Marinha passe a patrulhar a albufeira de Alqueva para evitar a contaminação das águas. Talvez seja uma ideia menos excêntrica do que parece à primeira vista.
4. Gosto da Crónica do Migas. A partir de hoje na nossa lista de favoritos.

Petição à Câmara de Lisboa

Na minha qualidade de cidadão lisboeta, venho propor por este meio à Câmara Municipal que o encalhado túnel do Marquês de Pombal passe a chamar-se Túnel José Sá Fernandes. Vocês sabem porquê.

Venham mas é os "choques eléctricos"!

Hoje de manhã, tive de apanhar um “transporte alternativo” em substituição do metro para Avenida da Liberdade. Não vou perder tempo a contar o surrealismo da desorganização deste serviço... Mas acabei comodamente sentado à frente num autocarro de turismo, bem perto do condutor, um senhor de provecta idade, de bochechas coradas e tez curtida por muitos anos de sol mediterrânico.
Eis senão quando, ao final da Rua da Prata, nos sinais antes da Praça da Figueira, o condutor vira-se para os passageiros e pergunta com uma sinceridade desconcertante: “Esta carreira costuma ir por onde? Vira já aqui à esquerda nesta praça?”
Agora falem-me da banda larga, e dos choques tecnológicos que eu acredito!

Banda larga na província

- Ding, dong.
- Quem é?
- Bom dia minha senhora. Vim instalar-lhe a banda larga.
- Ah! Olhe que o meu Manel ainda está em casa. Você até parece um rapaz jeitoso, mas eu já não tenho idade para essas coisas. Não leve a mal. Olhe, ali no 21 há uma viúva, experimente que a esta hora ainda não tomou os comprimidos.
- Não, ouça, a banda larga é para poder aceder à Internet.
- Não pode voltar depois das cinco? É quando o meu Manel vai à Casa do Benfica jogar dominó, ver a bola e beber umas minis com os amigos. Eu sei que às vezes vão à casa de alterne das brasileiras por cima do restaurante chinês, foi por isso que lhe disse que também tinha necessidades mas a verdade, olhe, é que já nem me apetece essas coisas. Tenho muito que fazer, sabe?
- (silêncio) Nunca ouviu o nosso Primeiro-Ministro falar no choque tecnológico? Isto é para democratizar o acesso à rede.
- Ah! Ele também é muito jeitoso, mas dizem para aí umas coisas. Olha-se para ele e vê-se logo que não é verdade, foi o que eu disse à minha amiga Prantelhana. Agora de choques é que não gosto nada.
O senhor é doutor, não é? Tem ar de ter estudos. É triste ver assim os doutores agora a bater às portas. O meu filho desistiu e foi para bate-chapas mas andava lá só para beber e andar atrás das cachopas, sai ao pai dele coitado.
- Pois. Hmmm... eu volto então noutro dia, está bem?
- Isso, isso. Venha cá na quarta-feira que o meu Manel vai à caça. Depois sou eu que tenho de esfolar e tirar as entranhas aos coelhos. Se tiver uma máquina de esfolar a bicharada é que lha compro logo. Adeuzinho.

segunda-feira, junho 26, 2006

Tecnologicamente chocado

Tive que ouvir duas vezes na SIC Notícias para confirmar. Hoje, José Sócrates declarou em Canhestros, no Alentejo, que a banda larga é tão importante para a sociedade dos nossos dias, "como foi a electricidade para a do século XVIII e para a do século XIX".

A bola na blogosfera

"Portugal ganhou o jogo contra a Holanda apesar da cabeça perdida do Costinha e graças à muita cabeça de Scolari."
(José Medeiros Ferreira, Bicho Carpinteiro)

"Figo agiu como sempre: um líder em campo e o melhor jogador português desde Eusébio."
(Sérgio Lavos, Auto-Retrato)

"Assim vale a pena, mesmo que os holandeses protestem o jogo pelo facto de Portugal ter jogado sempre com dois jogadores a mais - Scolari aos berros em Nuremberga e Nossa Senhora do Caravaggio a fazer figas em Farroupilha, lá na serra gaúcha."
(Francisco José Viegas, A Origem das Espécies)

"Tenho pena - muita pena, mesmo - dos críticos de Scolari."
(Tomás Vasques, Hoje Há Conquilhas)

"Afinal, parece que o Scolari não é assim tão mau. Os liberais do Norte deviam seguir o exemplo do Maniche e começar a creditar na meritocracia."
(Luís M. Jorge, O Franco-Atirador)

"No grupo de Scolari há sempre um homem que está em todas as convocatórias: Jorge Nuno Pinto da Costa. E não é um fantasma, mas sim o amuleto."
(Pedro Boucherie Mendes, Aos 35)

Tertúlia literária (56)

- Como vamos de amores?
- Estou na fase Vergílio Ferreira. Comigo é Para Sempre.
- Eu estou na fase Fernando Namora. Comigo é só Domingo à Tarde.

Cenas da vida conjugal

- Pode ser agora?
- Agora não, que está a dar a novela. Depois...
- Depois há o debate do futebol. Só se for a seguir...
- A seguir não, que vai falar o doutor Pacheco Pereira. Já sabes que gosto sempre muito de o ouvir.

A mulher que matou Salazar

Santa Comba (ver o meu post anterior) lembrou-me Salazar e este recordou-me a história que me contou o Filipe Vieira de Castro, arqueológo subaquático extraordinaire.
O Filipe conhece a mulher e jura a pés juntos que o que ele conta é verdade: Ela (vamos chamar-lhe simplesmente Isabel) trabalhava no Forte de Santo António do Estoril. Um dia, involuntariamente, parte uma cadeira de lona. Com vergonha, decide fechar de novo a cadeira e encostá-la algures, fazer de conta que nada aconteceu.
Quinze dias depois, o Ditador sofre o acidente que lhe provocaria a morte. Durante anos, até ao 25 de Abril, a mulher vive assombrada pela culpa. Depois da revolução, o conhecimento dos seus actos suaviza-lhe a consciência.
Ainda vive, diz o Filipe, a mulher que matou Salazar. Uma personagem que fez História e que a História ignora. Caso para dizer: Se não é verdade, é bem achada.

A sangue-frio

Para não variar, explora-se a questão impossível de responder, a propósito do nosso serial-killer. O qual, salvo opinião do "Inspector" Varatojo, não creio que seja o primeiro, apesar do que têm dito.
Aqui, uma jornalista do Correio da Manhã , conterrânea do Chefe Costa, conta como apanhou boleia com o assassino e a vulgaridade das suas conversas. E o DN falou com companheiras do homem na sua visita a Fátima.
Um banal militar-polícia reformado. Uma figura da terra com as suas idiossincracias, como tantas das que consigo se cruzavam nas ruas de Santa Comba Dão.
O retrato do Mal não é passível de fotografia. O coração das nossas trevas não é visível à mesa do café. Um dia, estas pessoas são «normais. No dia seguinte, descobrem-se «monstros». É esse contraste que choca pelo que tem de inexplicável.
The horror, the horror, murmurava Brando em «Apocalypse Now». Quem sabe o mal que se esconde no coração dos homens?, questionava um velhinho comic book. Não nós, com certeza. Nós nunca saberemos. Nem psiquiatras, nem profilers, nem especialistas genéticos. Ninguém. Só aqueles cuja última centelha de vida desapareceu já, embora vivam ainda. Os danados. Os assassinos entre nós.

Há muito, muito tempo


















Era eu uma criança II

P.S. Foto retirada da biografia
dos deputados da VII Legislatura (1996)

Que bom...

Depois da passagem aos quartos-de-final, António-Pedro Vasconcelos "já acredita" na selecção nacional de futebol. Os nossos jogadores não devem caber em si de contentes...

Urgente: pedido de esclarecimento

É pá, camaradas de blogue, comentadores anonymous ou não, alguém me explica de uma vez por todas: Afinal Alkatiri fica ou faz-se à vida? Xanana resigna ou antes pelo contrário? Ramos Horta também já se demitiu ou ainda falta muito?
É que não há meio de perceber isto e ler jornais não me tem ajudado. Alvíssaras serão dadas a quem me desobnubilar o cerebelo. Um grande bem haja.

Um merecido aplauso a Scolari

Muito se escreveu e disse a condenar e a julgar as opções deste homem. Scolari sempre me pareceu um líder forte e com bom senso. Aglutinador. Escolheu a sua equipa. Com legitimidade fez da selecção uma equipa, a nossa.
Agora é fácil dizê-lo, mas parece-me oportuno referir que só uma UNIDA equipa de alma ENORME teria aguentado os consecutivos assédios assassinos dos armada holandesa… Esse facto é consequência da sua liderança. É da responsabilidade do treinador. O que os nossos rapazes correram e como se desmultiplicaram!
A ver vamos até onde os nossos "Tugas" poderão chegar.

O ópio do povo (26)

Análise dos jogadores portugueses, um por um, no jogo contra a Holanda:
Ricardo - Mais intranquilo do que nos jogos anteriores, fez a equipa tremer com duas desastradas saídas dos postes. Redimiu-se com uma grande defesa aos 57 minutos. Tem a tal estrelinha da sorte...
Miguel - Recebeu uma missão difícil: travar Robben no corredor esquerdo holandês. Cumpriu com êxito. E fez constantes incursões ofensivas, integrando-se muito bem no nosso ataque. Uma grande exibição.
Fernando Meira - Esteve mais sólido do que nas partidas anteriores. Muito concentrado, muito batalhador. Em clara subida de forma.
Ricardo Carvalho - Continua muito seguro: é o verdadeiro maestro da nossa defesa. Joga com a pose de um aristocrata e a eficácia dos blindados britânicos na batalha de Tobruk.
Nuno Valente - Deixou-se antecipar aos 36 minutos por Van Persie, o melhor dos holandeses. Única falha digna de registo numa actuação esforçada, que só pecou por excesso de timidez no apoio ao ataque.
Costinha - Ainda na primeira parte, desviou a bola com a mão. Um gesto irreflectido que lhe valeu o segundo cartão amarelo - e a consequente expulsão. Podia ter comprometido a vitória portuguesa.
Maniche - A FIFA considerou-o o "homem do jogo", com toda a justiça. Marcou mais um golo decisivo. E esteve perto de marcar logo a seguir. Foi um dos mais combativos. Em excelente forma física e psicológica.
Deco - Foi dele que partiu o passe que permitiu o golo. Muito marcado, teve ontem menos liberdade para mostrar o seu excelente futebol. Acabou expulso por acumulação de amarelos.
Figo - Jogou à esquerda, jogou à direita, conduziu o ataque, apoiou a defesa. Esteve em todas. E foi vital para enervar os holandeses. É o grande patrão da equipa.
Cristiano Ronaldo - Bons pormenores técnicos enquanto esteve em campo, participando na jogada do golo. Ficou fora de combate aos 33 minutos, vítima de uma entrada violenta que lhe provocou um grande hematoma na coxa direita. Saiu em lágrimas, prova inequívoca do seu profissionalismo.
Pauleta - Autor de um excelente remate que quase deu golo ainda na primeira parte. Mas caiu em excessivas situações de fora-de-jogo. Foi bem substituído quando já só havia dez portugueses em campo.
Simão Sabrosa - Substituiu Cristiano Ronaldo, entrando bem no jogo, com sucessivos raides perigosos nas duas faixas. Confirma-se: tem valor suficiente para ser titular da selecção.
Petit - Rendeu Pauleta para compensar a expulsão de Costinha e acabou por ser um "trinco" mais influente e eficaz. Muito concentrado e batalhador, nunca se deixou atemorizar pela "fúria" holandesa.
Tiago - Esteve poucos minutos em campo, no lugar de Figo. Ainda a tempo de protagonizar dois lances com perigo junto da baliza da Holanda.

Anonymous, festejai!


Regressou o tempo da Cereja.

O ópio do povo (25)

Foi um dos jogos mais electrizantes que vi até hoje: valeu sobretudo pela emoção. Valorizado pela actuação de grandes jogadores e estragado pelos absurdos critérios disciplinares de um árbitro soviético, indivíduo sem categoria que semeou cartões amarelos por tudo e por nada, expulsando quatro jogadores. Mas, até por isto, acabou por ser uma das vitórias mais saborosas da selecção de Portugal, que ontem à noite venceu a Holanda (1-0) em Nuremberga, qualificando-se para os quartos-de-final do Mundial. Os portugueses nunca viraram a cara à luta, revelando estofo de campeões neste jogo de nervos, muito táctico, infelizmente demasiado violento. É certo que alguns dos nossos pisaram o risco, mas também é verdade que o habitual fair play holandês desta vez ficou em casa, como bem se viu pela entrada violenta sobre Cristiano Ronaldo, que cedo se viu forçado a abandonar o campo. Scolari deu mais um desgosto à Liga dos Amigos de Pinto da Costa: acaba de cumprir o desígnio traçado, colocando já a selecção portuguesa entre as oito melhores equipas do mundo. Os que diziam que Irão e Angola foram adversários demasiado fáceis, dirão agora o quê da Holanda?

domingo, junho 25, 2006

O ópio do povo (24)

Quem tem Figo, tem tudo. Mas, como sempre, acho que não vamos longe. É festejar enquanto podemos.

A Igreja que eu conheço I

Há dias declarava eu num comentário a um “post” do Nuno Sá Lourenço que tenho tido ao longo da vida a sorte de conviver com uma Igreja Católica as mais das vezes actuante, sóbria e valorosa, com leigos de uma generosidade infinita, e clérigos que se têm revelado para mim inspiração e testemunha de um caminho de vida em santidade. Nesse sentido, pareceu-me importante concretizar um pouco mais. Os exemplos com que me tenho cruzado são tantos que me é impossível listar e com justeza fazer referência a todas as pessoas e obras que conheço. No entanto, nestes tempos de descrença e desconfiança, parece-me de grande importância trazer à superfície alguns exemplos de heroísmo e excelência de cidadania que os “media” bem pensantes, por um ataviante pudor laico, teimam em ignorar.

Assumo a simpatia por esta igreja peregrina dos dias de hoje. Despojada do poder, mas muito mais consciente, evangelizada e com cariz de “contra-poder”. Talvez um pouco como no tempo dos primeiros cristãos. Esta Igreja, possuidora de uma mensagem revolucionária de libertação, cresceu e multiplicou-se sem protocolos vazios ou gratuitos formalismos. Hoje a evangelização é uma dura batalha a encetar pelos cristãos, que terão que pregar perante o ruído ensurdecedor desta cultura Neo-liberal do sucesso "a todo o custo" e lucro individual. Contra as trevas e alienação do imediatismo do consumo e do hedonismo individualista. Desagregador.
Em prol da felicidade e liberdade do homem, a igreja dos dias de hoje fornece cada vez mais activos grupos e movimentos de diferentes sensibilidades culturais e políticas. Das simples mas dinâmicas paróquias às comunidades de desenvolvimento espiritual e organizações de intervenção social, a igreja de hoje é um sério exemplo de pluralidade democrática e cidadania actuante. No entanto esta acção deverá ser apenas fruto da inspiração que para nós cristãos provém de uma mensagem muito clara: A realidade de Jesus Cristo, filho de Deus que entregando-se à morte por amor fraternal supera as trevas para sempre em favor dos homens. Estabelece-se o lugar da esperança. Esta é para nós a revolução. Paralelamente temos o segundo e fundamental o mandamento que distingue e caracteriza esta religião: Amai-vos uns aos outros como a vós mesmos. É neste exercício de aproximação ao divino que se deverá pautar a vida dos cristãos; acto de libertação só plausível pela relação aprofundada e exercitação espiritual de uma relação verdadeira com Deus.

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A Igreja que eu conheço II

Como atrás descrevi tenho o privilégio de conhecer bem alguns exemplos vivos de autênticos heróis e heroínas da vida real e quotidiana. Indivíduos de acção, voluntários ou profissionais que num exercício diário de entrega e imitação de Cristo servem com todo o seu amor o próximo e a comunidade em que vivem. Nesse sentido parece-me da minha obrigação elementar dar testemunho em próximos posts de três exemplos que conheço bem de perto: O “Projecto Homem” da Associação Vale de Acór em Almada, do Padre Pedro Quintela e sua equipa, instituição criada para a recuperação de toxicodependentes por onde centenas de rapazes e raparigas já tiveram passagem libertadora. Outro será o projecto do nosso Padre Armindo, o sonho da reabilitação do Bairro do Fim do Mundo, na Galiza aqui na paróquia do Estoril, pela construção da Igreja e Centro Social de Nossa Senhora da Boa Hora.
Finalmente apresentarei os Casais de Sta. Isabel, iniciativa apadrinhada pelo Cónego Carlos Paes, prior da paróquia de S. João de Deus para a criação e desenvolvimento de equipas de catequese para casais “recasados”. Um projecto integrador da Igreja que somos nós, já disseminado em muitas “equipas” (uma das quais a minha mulher e eu orgulhosamente integramos) por este país fora.

Conheço estes três projectos de perto assim como algumas das pessoas que aí empregam as suas forças, o seu tempo e vontade, quando não quase toda a sua existência. E sei que há muitos e muitos mais. São milhares de vidas anónimas de pessoas que agem e se entregam diariamente pelos outros. Com muita devoção e oração superam as suas limitações, sem lamentos e sem descanso, numa imitação de Jesus Cristo em prol de um mundo melhor, mais digno, livre e justo. E rezam terços a Nossa Senhora, sim senhor! Como eu os admiro e invejo. Estes que me fazem todos os dias acreditar um pouco mais no homem e na religião que professo.

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Dúvida assistencial


Não tenho a certeza de que o jogo a que estou a assistir seja futebol.

Tertúlia literária (55)

- Os médicos adoram escrever.
- Daí o sucesso daquele romance, o Doutor Jivago.

Conversa de táxi

- Leve-me ao Palácio de Belém, por favor.
- Palácio de Belém? Não sei...
- Não sabe onde é o Palácio de Belém?!
- Desculpe lá, mas que palácio é esse?
- Ó homem, é onde trabalha o Presidente da República.
- Ah, é ali ao pé dos pastéis e onde há uma esquadra... Já sei, já sei!

Com dedicatória

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

(Alexandre O'Neill)

Já não são clandestinos

Com toda a franqueza, não me choca nada esta overdose de Hino e Bandeira a pretexto do futebol. Chocava-me, isso sim, a situação anterior: o Hino e a Bandeira serem praticamente clandestinos em Portugal.

Mãe coragem

Hoje vou almoçar com uma mulher cuja história de vida é um soco no estômago.
Poucas horas antes de ir a casa dela para uma sardinhada, a convite da própria, contaram-me que há uns anos perdeu a família toda - marido e dois filhos adolescentes - num acidente de viação. Só ela sobreviveu. Quem está com ela não percebe que a tragédia passou por ali. É alegre, divertida e muito activa. Voltou a casar mas não teve mais nenhum filho.
A vida desta mulher é o meu maior pesadelo. E, no entanto, ela não deixou que isso a destruísse. Uma lição de vida.

P.S. - Um abraço para o Francisco

sábado, junho 24, 2006

Mas que mal lhe terá feito!?

«...é um serzinho antipático, arrogante, insuportável de vaidade».
Miguel Sousa Tavares sobre Salman Rushdie, no Expresso.

E ainda, na mesma crónica: «Só um grande povo, como os ingleses, se disporia a gastar uma fortuna, anos a fio, para proteger esta pérola preciosa dos delírios de «sharia» do tresloucado "ayatollah" Khomeiny (que Alá o guarde em paz!)».

Pese embora a dimensão do ataque, parece-me destinado a ficar sem réplica.

O ópio do povo (23)

Acabo de ver o México-Argentina e, apesar de estar fervorosamente contra os argentinos, digo com toda a objectividade que poucas vezes vi um árbitro tão mau num Mundial. Perdoou tudo aos argentinos. O Heinz devia ter sido expulso em vez de só levar amarelo. Houve vários cartões amarelos que ficaram por mostrar por faltas duríssimas dos argentinos. No final, creio que dentro da área argentina, um jogador da Argentina agrediu, sem bola, um mexicano. Ao fundo, vê-se o árbitro a olhar e a não fazer nada. Não fixei o nome dele, mas creio que ouvi dizer que era suíço. Entra campeonato, sai campeonato, andam sempre a dizer que a FIFA vai endurecer as punições contra faltas deste tipo e, na competição mais importante, o que se vê é isto.

Canções brasileiras: as dez mais

O Duarte mencionou aqui há dias um disco desse génio da música universal que foi Antonio Carlos Jobim - autor de partituras tão fabulosas como as de Cole Porter ou Irving Berlin. E adiantou que Lígia, de Jobim, é talvez a canção brasileira de que mais gosta. Acontece que é também um dos meus temas favoritos de todos os tempos. Tenho-o em várias gravações, incluindo num disco de Stan Getz - o inesquecível The Lyrical Stan Getz.
Muita gente não sabe que existem duas versões de Lígia. A original, de Jobim, e uma outra, a que prefiro, com versos acrescentados por Chico Buarque, acentuando ainda mais a magoada ironia das palavras.
Mas se tivesse de eleger a "minha" canção favorita, entre as brasileiras, a escolha recaía no Samba da Bênção (Baden Powell/Vinicius de Moraes). É um tema que me tem acompanhado anos fora, nas mais diversas circunstâncias. Uma espécie de banda sonora da minha vida.
Além destas duas, deixo aqui as restantes oito canções que formam o "dez mais" dos meus gostos em música brasileira. Vão por ordem alfabética, pois é-me praticamente impossível ordená-las de outra forma:
- Chega de Saudade (Jobim/Vinicius), na voz inconfundível de João Gilberto
- Eu Te Amo (Jobim/Chico Buarque)
- João e Maria (Chico Buarque)
- Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá)
- Pela Luz dos Olhos Teus (Vinicius)
- Romaria (Renato Teixeira), interpretada por Elis Regina
- Valsinha (Vinicius-Chico Buarque)
- Vambora (Adriana Calcanhotto)