quarta-feira, janeiro 31, 2007

O Alcazar de Caracas

O tenente-coronel Hugo Chávez tirou de vez a máscara: passa a governar por decreto durante os próximos 18 meses, tempo suficiente para introduzir as alterações na Constituição que lhe permitam tornar-se presidente vitalício da Venezuela. De caminho, transformou a Assembleia Nacional numa caricatura de parlamento, forçando os deputados a descerem à rua para o aclamarem em públicos hossanas, consagrando aquilo a que chamam "revolução socialista".
"Heil, Hugo", destacou em manchete o vespertino venezuelano Tal Cual. Aposto que dentro de pouco tempo este jornal já não se publicará - como a generalidade do que resta da imprensa livre do país.
Qualquer semelhança entre a "democracia" venezuelana e uma ditadura não é pura coincidência. O general Alcazar, do Tintim, não faria melhor.

As palavras dos outros

«A esperança é um instinto que só o raciocínio humano pode matar. Os animais desconhecem o desespero.»
Graham Greene, O Poder e a Glória

Estrelas de cinema (4)

AS BANDEIRAS DOS NOSSOS PAIS *****

Clint Eastwood regressa ao estilo épico, desta vez para nos lembrar o que foi a conquista da ilhota japonesa de Iwo Jima, paga a peso de sangue num período decisivo da II Guerra Mundial. A memória do grande cinema americano passa por aqui – um cinema que oferecia espectáculo mas que também se dirigia à inteligência e não apenas à emoção de cada espectador. No caso deste filme, contemporâneo do absurdo esforço bélico desenvolvido pelos americanos no Iraque, não faltam pistas de análise: a guerra, mesmo quando inevitável, é sempre uma das mais tristes páginas da história humana; nada é mais ambíguo do que um rótulo de herói; nada é mais volátil do que os amores e desamores da “opinião pública”; os guerreiros de sofá jamais falam do que sabem.
Herdeiro espiritual de John Ford, Eastwood é um cineasta conservador – na linguagem cinematográfica e também numa certa ideia de América que remonta ao tempo dos pioneiros: mais pura, mais limpa, mais livre. E ainda na forma como ama os actores, tornando-os muito mais do que peças da engrenagem industrial pós-moderna: este elenco que respira talento do primeiro ao último fotograma é um dos melhores ingredientes do filme, que justifica nota máxima. Acabado de estrear mas já um clássico.

Com Zé Nero no porão


“O seu nome não consta da minha lista!”. As palavras do funcionário, tipicamente português na sua arrogância de quem detém um pequeno poder, causaram-me um misto de perplexidade e divertimento. Estive para lhe dizer que tinha sido o próprio primeiro-ministro, um rapaz a quem já adivinhava grande futuro desde os seus alvores albicastrenses, quem me tinha telefonado a insistir para que acompanhasse a sua comitiva na viagem à China. Mas é claro que ele não acreditaria. Ao contrário das dezenas de empresários, políticos e jornalistas que, alinhados em filas certinhas, ele ia chamando para o avião, sempre evitei os holofotes mediáticos.
Como explicar-lhe, com os motores já a roncar, o meu longo conhecimento dos ensinamentos de Mao Zedong, como descrever-lhe o pôr-do-sol em Beijing, como contar-lhe em breves momentos os sonhos de toda uma geração? Não havia tempo a perder! Agarrei num cabo atado ao avião e, com uma agilidade insuspeita para o meu 1.60 m por 85 kg, icei-me para o porão das bagagens. Depois, introduzi-me na cabine e consegui um lugar deixado vago por um empresário têxtil que (soube mais tarde) teve que ficar em Portugal porque o sistema de controlo de idas à casa de banho das suas operárias tinha avariado, pondo em risco o futuro da fábrica.
A viagem para cá correu bem, tirando um problema: fiquei sem mala, ou antes, com a mala do tal empresário do norte que ficou na pista a ver navios. Ficarei esquisito, com estes fatos dois números acima do meu tamanho.
* José Nero Fontão julga que Beijing é a Cidade Proibida

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Afinal este é que é o post zen


A lembrar o amigo João Villalobos. Mesmo sem ser possível dar umas valentes braçadas.
Mais massage and body treatments. Sensuous, mysterious. The spa experience.

Post zen

No meio de coisas mais ou menos sérias, deixo aqui a voz meio rouca da Carla Bruni que canta, no meio de livros, na Rive Gauche, partes do seu novo disco.

Um cronista de regresso ao futuro


Falta memória nas Redacções portuguesas. Falta memória na blogosfera portuguesa. Por isso, aceitei comovido o convite que esta rapaziada do Corta-Fitas me fez para trazer um pouco da minha experiência ao convívio dos leitores. Sou do tempo em que o Jornalismo era uma Profissão honrada, em que as notícias eram escritas nas toalhas de papel de uma qualquer tasca do Bairro Alto, não raras vezes manchadas por uma nódoa do tinto que saltava do jarro de barro ou da gordura de uma batata frita mais vivaça. Em que os cotovelos traziam para o jornal as migalhas do papo-seco que nos matava o bicho em tertúlias boémias, entre mulheres de vida difícil, onde a Liberdade do pensamento não se deixava aprisionar pela Censura dos esbirros que então campeavam e que, há que dizê-lo, continuam por aí, ainda que travestidos de democratas.
Dou início a esta colaboração com o relato da viagem à China que vou fazer em companhia do primeiro-ministro. A coincidência não poderia ser mais feliz. Também eu fiz parte de uma geração que sonhou com a Revolução Cultural, em mandar pela janela os nossos anquilosados docentes universitários, em denunciar aquela tia reaccionária, em pôr a canga no chefe de Redacção. Durante duas longínquas semanas, partilhei os ideais com o Durão, com a Maotzé Morgado, o Saldanha, o Pacheco, o Coelho, o Lobo Xavier, o Carlos Andrade, o Albano e o Arnaldo Matos e tantos outros. Uma “geração de ouro” da qual me afastei rapidamente ainda hoje não sei porquê. Medo, comodismo, desilusão? Se calhar tudo isso e ainda o facto de ter casado cedo com a minha Célia, já então jornalista de causas, e ter que sustentar a casa em vez de andar em manifs. É portanto esta viagem à China que, na medida das minhas possibilidades e evitando o tema dos Direitos Humanos, irei doravante relatar.
* José Nero Fontão é o único jornalista português que jogou majong com o Bando dos Quatro

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Com jeito

Melhor que o Manuel Pinho apanhado a alta velocidade só mesmo o Manuel Pinho com queda para captar investimento estrangeiro. Logo desta maneira e num País que é conhecido pela mão-de-obra barata. Quem tem jeito não esquece. Pinho acelera a alta velocidade para ser remodelado.

Gatos do "sim"

O Gato Fedorento também já colocou o seu vídeo tipo-You Tube na RTP1, no seu programa de horário nobre. A grande pergunta, para quem viu, é esta: Ricardo Araújo Pereira, que dá a cara pelo "sim" nesta campanha, faz de Marcelo enquanto humorista ou para ridicularizar o "não" moderado do professor? Quem viu e ouviu bem o texto percebe o que digo. É caso para dizer "gato escondido"...
Ainda assim, como diz a malta da bola, o sketch é genial. Agora, o que tinha graça era que Marcelo Rebelo de Sousa respondesse no Assim Não com um vídeo de resposta a Ricardo Araújo Pereira, tal como fez com Francisco Louçã.

Vai ter filas como na Gulbenkian...

O Ministério das Finanças anda atarefado.
Achou que devia fazer uma exposiçãozita.
Adivinhem sobre o quê...









A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) vai realizar uma exposição itinerante subordinada ao tema da Educação Fiscal.
A exposição estará patente no Átrio do Ministério das Finanças, todos os dias úteis, das 8.00 às 20.00 horas, de 1 a 28 de Fevereiro de 2007. Em seguida, irá percorrer o País.
Trata-se de uma campanha de educação cívico-fiscal para jovens e de consciencialização para adultos, com que a DGCI pretende contribuir para reanimar o sentido ético e de responsabilidade da sociedade e explicitar os factores que intervêm no contrato social entre o Estado e o cidadão

Tertúlia literária (140)

- Dizes que nunca lês... Posso emprestar-te um livro?
- Claro que sim. Desde que seja o de cheques.

A nova política

Muito se tem falado nas últimas semanas dos vídeos de Marcelo Rebelo de Sousa no You Tube, da resposta de Francisco Louçã pela mesma via e do que tudo isso representa em termos de revolução na forma de os políticos comunicaram com as suas audiências, o eleitorado, os portugueses. A verdade é que, a uma velocidade vertiginosa, o próprio Governo - tão modernaço que é - já percebeu que não pode ficar para trás. Para a viagem ofical à China, que decorre neste momento, Sócrates lançou uma espécie de portal intitulado "Missão China 2007", onde colocou um vídeo com a abordagem inicial à visita e que já tem actualizações diárias, com entrevistas (por exemplo a Henrique Granadeiro, presidente da PT). Para hoje está prometido até um blogue feito por pessoas que fazem parte da comitiva.
Pela amostra, parece-me que líderes políticos como Marques Mendes, Jerónimo de Sousa ou José Ribeiro e Castro têm de se mexer. Ou perdem a onda...

Um "post" intimista

De madrugada, acordei espontaneamente, alerta. Pode ser a qualquer hora, estará tudo a postos? Sou o primeiro a levantar-me, e percorro a casa, morna e sonâmbula. Ouvem-se respirares desalinhados da minha gente. Aninhados ainda, dormem um sono profundo, ingénuo e inocente. Pela grande janela da cozinha observo o dia que se abre, em tons rosados, todo transparente, implacável. Daqui por mais umas horas, estará cada um, miúdos e graúdos, nas escolas ou trabalhos, uma vez mais empenhados nas suas vidas, nos seus pequenos mundos, pequenas lutas e demais seduções ou conquistas.
Entretanto, é aqui em casa que uma pequena revolução se prepara. Encontramos a cada canto uma parafernália diversa que nos anuncia para breve um pequeno Natal. O berço, pintado de céu azul e nuvens brancas, está ali a um canto do nosso quarto. Há mais agitação, risos e nervos, pois. A mais pequena pede mais atenção. A mala está pronta. O telefone toca constante, a família e os amigos querem saber. Ao jantar, a mãe, que já cede à emoção, pede-nos subliminarmente que preparemos os nossos corações. Entre mais uma almôndega e mais puré, os mais velhos aparentam confiança, imunes. Coisa de adolescentes. O facto é que um pequeno e absoluto rei está a chegar. Que tudo baralha e dará de novo. Graças a Deus.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Materazzi, outra vez

O italiano voltou a levar uma cabeçada. O vídeo tem relato brasileiro, o que dá ainda mais côr a este circo



Este tipo faz-me lembrar os bons velhos tempos dos épicos duelos Fernando Couto-Mozer ou Paulinho Santos-João Pinto. Ao pé destes, o Materazzi é um menino de coro...

O fogo e as cinzas


VIAGEM A ITÁLIA, 1954. Um casal britânico ruma a Itália para vender uma propriedade de um falecido tio dela. Da propriedade avista-se a baía de Nápoles e a massa imponente do Vesúvio. Dez anos antes registara-se a última erupção digna de nota do vulcão, entretanto adormecido – metáfora perfeita para caracterizar a relação conjugal de Katherine e Alexander Joyce. “Nos teus olhos só vejo cinismo e ironia”, atira-lhe ela, enquanto ele deplora o “ridículo romantismo” dela. Logo no primeiro diálogo que travam, algures numa estrada a cem quilómetros de Nápoles, é fácil detectar os sinais de desgaste do casamento, que dura há oito anos. “É a primeira vez que estamos sozinhos desde que casámos”, lembra Katherine (Ingrid Bergman) a Alex (George Sanders), que reconhece serem “estranhos um para o outro”. Tão estranhos que dormem em quartos separados e não parecem partilhar gostos de espécie alguma. Estranho, para eles, é também aquele país meridional, inundado de luz solar, onde os pares se enlaçam, as brigas por ciúme são frequentes e há sempre uma canção romântica a irromper em fundo. É o país que encantou Byron, Ezra Pound e um jovem poeta amigo de Katherine, Charles Sutton, morto anos antes, vítima de tuberculose, depois de lhe dedicar uns versos que jamais se lhe apagaram da memória.
A ficção imita a vida real – ou será o contrário? O casamento entre Ingrid Bergman e Roberto Rossellini estava também à beira do fim quando o cineasta de Roma, Cidade Aberta rodou esta belíssima Viagem a Itália, uma das suas cinco longas-metragens que a actriz sueca protagonizou. Distantes pareciam já os tempos em que a bela Ingrid, deusa de Hollywood, trocara a Califórnia por Roma, rendida à explosão do cinema neo-realista que tinha Rossellini como mentor. Os americanos não lhe perdoaram a traição, os italianos sempre a trataram como estrangeira. E no entanto Ingrid era a força motriz daquela união com Roberto – uma “criança grande”, como ela lhe chamou nas suas memórias. Também no filme é Katherine quem guia: assim a vemos logo nos momentos iniciais. Ela de olhos fixos na estrada, ele de olhos fechados. À mulher, à vida, àquele país onde o “aborrecimento e o barulho andam a par”.
“É necessário que o cinema ensine as pessoas a conhecerem-se”, costumava dizer Rossellini, cultor de uma arte sem artifícios. Não conheço outro filme que exiba com tanta sensibilidade as surdas tensões capazes de abalar qualquer casamento, proporcionando o mais delicado dos retratos de uma mulher apostada em ressuscitar o amor. A mesma que, vendo circular nas ruas de Nápoles várias grávidas e jovens mães empurrando carrinhos de bebés, fala deste modo, com o coração magoado ao pé da boca: “O erro do nosso casamento foi não termos filhos.” Amarga ironia: foi ela quem não quis tê-los.
Viagem a Itália – uma obra que “reconcilia o quotidiano com o eterno”, no dizer de Claude Beylie – está cheia de cenas inesquecíveis. A do breve encontro entre Alex e a triste prostituta que planeara suicidar-se na noite anterior. A magnífica sequência do regresso dele a casa, quando Katherine finge estar adormecida e toda a ambiguidade de sentimentos conjugais se revela ao espectador naquele admirável jogo de luz e sombras. A visita às ruínas de Pompeia, onde ambos caminham sempre separados, sem o mínimo contacto físico, ao encontro dos ossos calcinados de um par surpreendido num abraço eterno, dois mil anos antes, pela lava do Vesúvio. “Encontraram a morte juntos”, surpreende-se ela. O amor também pode ser imortalizado assim.
É em Pompeia que Ingrid e George parecem tornar-se finalmente conscientes de que “a vida é breve” (diz ela) e “por isso temos de aproveitá-la” (diz ele). Mas a ressurreição do fogo que julgavam extinto ocorre no mais imprevisto dos cenários: no meio de uma procissão em honra da madonna que atrai milhares de napolitanos.
“Como podem acreditar nestas coisas? Parecem crianças!”, admira-se o inglês que esconde sempre as emoções.
“As crianças são felizes”, observa a mulher, que acredita em milagres.
E é num milagre que culmina este filme que nos fala sempre da terra enquanto nos mostra o céu. Separados pela torrente da multidão, Alex e Katherine acabam por cair nos braços um do outro. É afinal possível que das cinzas renasça o fogo que arde sem se ver? “Creio porque é absurdo”, dizia Graham Greene. Para quem crê, todos os vesúvios se movem. A qualquer tempo, em qualquer lugar.
Viagem a Itália foi exibida sábado, na Gulbenkian, no ciclo "Como o Cinema Era Belo". A exibir na Cinemateca dias 23 (19 horas) e 27 de Fevereiro (22 horas), no ciclo Rossellini.

O "sim" que vota não, o "não" que vota sim

Se desta vez não houver bandos de pin ups com T shirts a dizer "na minha barriga mando eu" nem distribuição a eito de imagens com fetos mortos já teremos dado um passo decisivo na direcção correcta, nesta campanha sobre o aborto, em comparação com o referendo de 1998. Claro que, entre os que dizem votar sim, há quem persista em fornecer argumentos de bandeja a favor do "não". E também, entre os adeptos do não, há quem esteja mortinho por angariar votos para o "sim". Cada um sabe de si.

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Gostei de ler

1. O PS atrapalha-se a si próprio. De José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro.
2. Cravinho. De Coutinho Ribeiro, n' O Anónimo.
3. Lendo, vendo, ouvindo. De José Pacheco Pereira, no Abrupto.
4. Tão coisa nenhuma. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
5. Vencedores e vencidos. De José Gomes André, no Bem Pelo Contrário.
6. A nova China e o pensar velho português. De Miguel Castelo-Branco, no Combustões.
7. Warm snow. De João Caetano Dias, no Blasfémias.
8. Orgulho suburbano. De JRP, no Comboio Azul.
9. Adeus a um homem bom. De Leonardo Ralha, no Papagaio Morto.

PS: retrato de família

A incómoda Ana Gomes despachada para o Parlamento Europeu, onde aliás se tornou ainda mais incómoda. Ferro Rodrigues desviado para Paris, como representante português na OCDE. Jorge Coelho e António Vitorino subitamente remetidos à actividade privada, longe dos holofotes parlamentares. Manuel Maria Carrilho enviado para a Unesco. João Cravinho com bilhete de ida para Londres, rumo ao Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, deixando também vago o lugar no Parlamento. Quem será a próxima voz autónoma no PS condenada ao exílio interno ou externo a bem da Nação, de uma legislatura sem ondas e da estabilidade do grupo? Dava um belo retrato de família, este PS de José Sócrates. Pena é que uns quantos parentes não possam figurar na fotografia: por mais respeitáveis que sejam os motivos, a verdade é que vários deles estão ausentes e ninguém faz ideia quando voltam.

Manhã sombria


Ao contrário do Dr. Marques Mendes, que está preocupado com os softwares informáticos utilizados pelo governo da nação, o nosso 1º sabe o que quer e as armas que tem. Encontramo-lo na página 5 do Diário de Notícias de ontem, de braços abertos, acolhedores e piedosos, meio sorriso todo maternal numa fotografia inocente. Entre as páginas de insistentes e arrepiantes reportagens sobre o bas-fond do criminoso aborto clandestino, o Eng. Pinto de Sousa comoveu-me por uma vez, maternalmente pregando aos jovens um futuro de progresso social com o aborto comercial, livre e apoiado. Higiénico. O seu empenho no redentor e salvífico referendo à liberalização do aborto é admirável, nada é mais importante para a nação, nos dias que passam. Hoje, no DN temos o Dr. Costa, a tempo e corpo inteiro, entre mais ilegais consultórios de morte estrategicamente denunciados. Nada mais.
O trilho está traçado, basta passar os olhos diariamente nos jornais do costume. Assim, estamos bem entregues à propaganda do regime. O grande irmão que fala a uma só voz projecta-se nos “Meios” chamados de “referência”, num coro uníssono do pensamento oficial. Que definham caducos, quais inúteis caixas de ressonância do poder. A nós, restam-nos os blogues, o trabalho gratuito, a cidadania e a coerência. Principalmente depois de 11 de Fevereiro. Para que não fiquem os nossos filhos e os nossos netos definitivamente entregues ao fado de uma civilização materialista, niilista e decadente.

Foto daqui
Texto publicado também ali

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É uma chatice para a Rádio Renascença...

...que Portugal seja um Estado de direito.


Lisboa, 30 Jan (Lusa) - A emissora católica Rádio Renascença lamentou hoje ser obrigada a passar o tempo de antena do “sim” no referendo sobre o aborto, por considerar que as rádios privadas deveriam ficar de fora desta imposição legal. “Gostaríamos que esta obrigação [legal] não pesasse sobre as rádios privadas, mas pesa e, numa rádio com a identidade da Renascença, pesa naturalmente muito, até porque a nossa posição sobre o aborto e sobre o direito à vida é bem conhecida”, refere a estação numa nota lida hoje, no dia em que começa a campanha para o referendo de 11 de Fevereiro, antes do noticiário das 8:00.
Após a marcação do referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, os responsáveis da emissora católica declararam - também numa nota lida antes de um noticiário - o apoio da Renascença ao “Não”.
No entanto, ressalvaram que esta posição da emissora não afectaria o pluralismo do serviço noticioso da RR.
Na nota lida hoje, a RR promete cumprir a lei dos tempos de antena e disponibilizar uma hora diária aos movimentos e partidos que participam oficialmente na campanha pelo referendo.
“Durante a campanha temos o dever legal de acolher a propaganda de todos. De quem defende o ´não` e dos defensores do ´sim`”, refere a nota, sublinhando que a RR sempre respeitou e respeitará o pluralismo informativo.
A Igreja Católica, maioritária em Portugal, é frontalmente contra a liberalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), que vai ser sujeita a referendo nacional a 11 de Fevereiro.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Pê-esse-dê sem páua póinte

Vejo Marques Mendes na televisão, num encontro com militantes e simpatizantes do PSD, algures no País. Engravatado, formal, inexpressivo: comparado com ele, Jerónimo de Sousa é um prodígio de carisma. Mas o pior é o discurso, é a mensagem que transmite na tentativa de desgastar o Executivo socialista. "É um Governo de um enorme power point. O problema é o power point dos resultados", diz o presidente social-democrata. Escuto e penso: quem lhe dará os tópicos destes discursos? Quem o convencerá de que esta verborreia oca, própria para colorir círculos tecnocratas, é a mais indicada para mobilizar vontades e caçar votos? Não intuirá que para a esmagadora maioria dos portugueses frases deste género não significam rigorosamente nada?
Sócrates também ouve. E se o Estado não fosse laico certamente encomendaria ao padre Melícias uma missa de acção de graças por ter uma oposição assim.

Rádio Clube renascido

Hoje foi um dia importante para o jornalismo português com o relançamento do RCP como emissora essencialmente informativa. "A rádio renasce depois de um período em que esteve quase morta, acomodada às televisões", disse esta tarde o veterano Fernando Correia - uma das vozes de ouro da rádio portuguesa - aos microfones da nova/velha estação, onde será um dos timoneiros diários (enquanto a perdulária TSF não quer, outros aproveitam). Num ano, as rádios portuguesas perderam 300 mil ouvintes. É fácil perceber porquê, dada a mediocridade reinante. Faço votos para que o Rádio Clube Português seja decisivo na inversão desta tendência. Abraços ao Luís Osório e ao João Adelino Faria, director e director-adjunto do RCP, e a todos os restantes profissionais daquela casa.

Postais blogosféricos

1. Um grande abraço ao Luís e ao Carlos pelo terceiro aniversário do Tugir, um dos blogues cuja leitura diária não dispenso. Parabéns!
2. O António também aderiu às tertúlias literárias, como se comprova aqui. Bem-vindo ao clube.

A obra e o criador

Sim consumada a obra sobram rimas/
pois ela é independente do obreiro/
no deitar a língua de fora, no grande manguito aos Autores/
é que se vê se a obra está completa/

Mário Cesariny

Há dias, a propósito da morte do Cesariny, alguém defendeu em conversa comigo que a obra é sempre maior que o criador porque o criador desaparece e a obra fica. Mas achei que era um argumento pobre, que não vai à essência. O que eu descubro nestes versos do Cesariny é outra coisa. Sim, a criação, completa, torna-se independente do autor. Autónoma. Destacada. Outra. Pode assemelhar-se ou ser completamente diferente dele(a), mas seguramente liberta-se (deita a língua de fora e faz manguitos). Assim, manifesta em si mesma que o autor(a) agiu por algo maior (tenha ou não consciência disso). Mas isso não nos permite dizer que a obra é, por si mesma, maior que o criador(a). Isso seria uma “coisificação” da arte. A arte só é grandiosa na medida em que se reporta a algo mais que ela, porque não é ela que é eterna, é aquilo que ela diz. E para mim, o que a “obra consumada” diz é Deus.

Tarde de inverno


Com este frio, o melhor mesmo é trabalhar para aquecer!

Café ao lanche

Cabelos grisalhos e rugas, carinho e café ao lanche. É nisso que penso quando o autocarro da carreira 11 faz o caminho da infância. Sobe a encosta, baloiça no trava e arranca das curvas apertadas, embrulha-me as ideias e agita-me o estômago. Não me dou bem com o movimento. No mar, enjoo; em terra suporto mal os passeios. E é por isso que faço por não esquecer. Vou a caminho da infância, dos braços das minhas tias, do sabor da comida caseira.
Em casa, numa casa que conheço desde sempre, estão as mulheres da minha vida. Já estenderam a toalha e puseram a mesa. O almoço espera por mim no fogão. Ainda quente, feito como eu gosto, numa medida certa de tempero e dedicação. Para o lanche, há café e bolachas da Fábrica Santo António. São as minhas preferidas e as tias lembram-se. Ou sabem. Não há em mim gesto, virtude ou vício que não conheçam.
Servem-me almoço e histórias, mostram as inovações no jardim e os pintainhos novos no galinheiro. E falam do futuro porque há sempre um em casa das minhas tias. Para mudar a cerca ou construir um muro, para apanhar as ameixas ou o feijão. O ritmo das estações, o tempo das azáleas, a altura de dispor as orquídeas ou de podar as roseiras.
O quintal, a casa, os nossos dramas de família, o diz-que-diz. O nosso passado, o que fazemos. Eu, a minha tia Teresa, a tia Conceição, a tia Alice. As primas Adelaide e Vera. Em conversa de domingo, rememorando episódios, de rir ou chorar. Coisas que só nós entendemos. Peripécias, pedacinhos de vida partilhada.
Quem mais se lembra das covinhas que os sorrisos faziam à minha cara ou das vezes que entalei os dedos no Fiat 600 verde alface do meu tio Humberto? Onde irei desencantar um desespero como o que provoquei à minha tia Alice quando perdi os sentidos no chão da sua sala? E a devoção da minha tia Conceição no depósito de cinco contos para ajudar nos estudos em Lisboa?
As histórias fazem os laços, os laços fazem a família. A mim, coube-me esta, com estas mulheres. E, nelas, na sua força e nas fragilidades, sinto sempre que regresso a casa, ao mundo protegido da infância, a esse país de onde emergimos todos. É por isso que apanho a carreira 11, que suporto os balanços do autocarro e faço que não percebo que a paisagem mudou.
As terras foram ocupadas por blocos de apartamentos e construções clandestinas, os carros acumulam-se nas estradas, nos caminhos e becos. Na ronda, a polícia passa multas de estacionamento e, quando desço as escadas para o almoço no aconchego das tias, passo por caras que não reconheço. São os novos moradores.
Da voragem, que subiu pela encosta e engoliu o nosso tempo de colheitas e sementeiras, ficou a memória, a família, a casa dos meus avós, os vizinhos de sempre. E o carinho das mulheres da minha vida. De cabelos prateados, rugas no rosto, o coração no mesmo lugar. À minha espera.

(esta crónica foi publicada no DN-Madeira)

domingo, janeiro 28, 2007

A experiência Calatrava


Há uns tempos escrevi sobre a extraordinária experiência que é frequentar a Gare do Oriente. A fotografia lá em cima é gira, não é? Foi tirada do site da União Europeia, provavelmente co-financiadora deste gigantesco cadinho de gripes e constipações.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível estar porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados. Cabem lá as couves, as batatas, a garrafa de azeite, as laranjas, os queijos e os bolos de azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens. Eu já pertenço à geração tupperware, mas viajei com muitas alcofas em que facilmente lhes adivinhava o conteúdo.
Acontece que há pouco tempo tive que fazer mais uma viagem e reparei numa espécie de "aquário"no piso inferior que serve de sala de espera. O envidraçado deve ser para não estragar a estética. A Expo foi em 1998 e só praticamente nove anos depois se lembram de encontrar uma solução que permita minorar o desconforto dos passageiros: a obra primeiro, os homens depois.
Este post é a propósito de quê? Do frio, claro. A notícia do dia. E de um país que também se faz para fora de Lisboa.

Mais Genesis


Falta pouco mais que um mês e já faço a contagem decrescente para assistir na Aula Magna à recriação de dois históricos espectáculos dos Genesis, Foxtrot (1973) e Selling England by the Pound (1974) feita pelos Musical Box. Tenho os bilhetes bem escolhidos e bem guardados para os dois concertos, nos dias 1 e 2 de Março, quando me irei reencontrar em delírio com umas centenas de doentes "Genesianos" da era Gabriel. Alguns membros desta “irmandade” de fãs, inevitavelmente já os conheço há muito. Será uma vez mais tempo de uma comovida comunhão, revisitando a melhor banda musical dos anos 70. Tempo para cantarmos sílaba a sílaba aqueles loucos e incompreensíveis versos de Gabriel, e acompanharmos emocionadamente as guitarras de Steve Hackett e Mike Rutherfordo, o piano e o órgão de Tony Banks, e a bateria de Phil Collins. Pessoalmente anseio pela hora em que vou ver pela primeira vez na vida a actuação em palco do célebre tema Supper’s Ready, uma peça épica de 19 minutos na qual, segundo reza a história, Peter Gabriel depois de vestir a pele do Narciso (na foto), terminando, qual anjo branco, elevado aos céus cantando os versos finais, retirados do Livro do Apocalipse: Theres an angel standing in the sun, and hes crying with a loud voice, This is the supper of the mighty one, Lord of lords, King of kings,Has returned to lead his children home, To take them to the new jerusalém!!!
Os Musical Box, são uma banda de tributo canadiana, liderada por Denis Gagné e Serge Morissette que, respeitando os mais pequenos detalhes cénicos e a composição complexa e pouco dada a improvisos da banda original, foram "aprovados" e por diversas vezes elogiados pelos elementos da lendária banda. Há uns anos, quando os Musical Box actuaram em Bristol, receberam um espectador muito especial: o próprio músico, cantor e compositor Peter Gabriel que levou os seus filhos para que testemunhassem um pouco da sua própria história!
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PS: Os Genesis que por aí vão andar este ano numa propagandeada tournée são de outra onda. A onda POP do Phil Collins. Isso tem a sua graça mas não gosto tanto, nem tem nada a ver com a música que atrás refiro. Esses "Genesis" bem podiam ter adoptado outro nome, por respeito ao grupo fundador e à sua histórica obra.

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Saudades de Goa

O reencontro com a História proporcionado com a recente deslocação de Cavaco Silva a Goa fez-me lembrar a emoção que eu próprio senti ao desembarcar no aeroporto de Dabolim, em Dezembro de 1994 – 33 anos após a invasão da antiga jóia da coroa portuguesa pelas forças da União Indiana. Cerca de 50 mil lusofalantes vivem ainda em Goa, Damão e Diu, onde se nota um interesse crescente por tudo quanto tem a ver com Portugal. Não o Portugal de antanho, alvo de devotos saudosistas, mas o Portugal contemporâneo, centro difusor de vultos da cultura e de talentos futebolísticos. A carreira de Cristiano Ronaldo, por exemplo, tem sido seguida com imenso interesse pelos jovens goeses, nascidos muito após a nossa expulsão das terras a que Vasco da Gama aportou em 1498. Na capital indiana, infelizmente, há ainda quem franza o sobrolho à simples menção do nome de Portugal, que também encontra algumas resistências muito minoritárias na própria Goa. Mas os laços de sangue que lá deixámos subsistem. Subsiste a religião católica, que os goeses professam convictamente. Subsistem leis, nomeadamente parte do nosso Código Civil de 1867 (entretanto revogado em Portugal já após a invasão) e do nosso Código Penal. E há o peso da História, inapagável. Goa, Damão e Diu permanecem ligados a Portugal através dos naturais do ex-Estado da Índia que aqui residem e que mantêm estreitos elos com os familiares de lá. Nenhuma vontade discricionária de Nova Deli consegue alterar isto. Não admira, pois, que Cavaco e a sua comitiva se tenham sentido em casa ao chegarem a Pangim: foi essa a sensação que também tive. E que me comoveu profundamente. Ao ver a sede do Sporting Club de Goa – sucursal do meu clube. Ao ouvir jovens conversar na rua em português. Ao jantar na casa de uma típica família goesa, no bairro das Fontainhas, onde a marca lusa permanece incólume e os vizinhos comunicam de quintal para quintal no nosso idioma. Ao escutar os apelos insistentes para que lhes enviássemos música portuguesa – fado, em particular. A política centralista da Índia impedia na altura a importação de produtos como o vinho, o azeite ou o bacalhau de Portugal. Exactamente como sucede agora. E no entanto, no Consulado-Geral de Portugal em Goa, o então cônsul António Tânger não tinha mãos a medir na emissão de passaportes. Mesmo que não tencione viajar para Lisboa, o goês gosta de possuir ainda um documento emitido pelo Estado português que lhe confere a nossa nacionalidade. Meio milénio depois, tantos traumas históricos depois, Portugal é mais do que sinónimo de saudade naquelas paragens: é uma ponte permanente com outros mundos. A verdade é esta: por onde passámos, deixámos marca. Uma certa doçura de vida, uma certa bonomia de costumes, um certo sopro de aventura que transportamos nos genes e jamais se apagará.

Tertúlia literária (139)

- Já leste o Equador?
- Cheguei a meio e não consigo passar dali.

Sunday relax

sábado, janeiro 27, 2007

O caso da manta

Aí está: Marcelo Rebelo de Sousa lançou o quarto vídeo no Assim Não e no You Tube. Desta vez chama-se "A Lei Espanhola" e tem novidades no script. Da sala passou para a biblioteca, o cenário de fundo deixou de ser a lareira para se ver agora um imenso friso de livros e mais livros. Nos adereços, destaque para a camisola encarnada e para uma mantinha (a condizer) dobrada em cima do sofá ao lado.
Ao Expresso, MRS revelou hoje que está a pensar continuar com a ideia dos vídeos online durante a presidência portuguesa da União Europeia, no segundo semestre deste ano, e, quem sabe, quando voltar à tona o debate sobre o Tratado Constitucional Europeu. A isto se chama marcação cerrada ao Governo...

Mais uma

À atenção do Tugir: Ségolène Royal cometeu mais uma das suas gaffes. Para ler aqui, ali e acolá. Caso seja eleita nas presidenciais francesas do fim do ano, o que duvido, proponho desde já o cognome de a gaffeuse.

P. S. - Agora fora de brincadeiras, parabéns pelos três anos do Tugir. Keep up the good work

Fica para a próxima


Afinal,não consegui ir à festa da Atlântico. Que pena, pelas 'postas' do Vítor Cunha e do PPM percebe-se que deve ter sido do melhor. See you soon...

Estrelas de cinema (3)


20, 13 ****
Norte de Moçambique, noite de Natal de 1969. No auge da guerra, a consoada costumava ser um período de tréguas entre o exército português e a Frelimo. Não foi assim naquelas horas em que todas as emoções vieram à superfície: a guerrilha atacou em força, sobressaltando os militares portugueses aquartelados nesse mato do fim do mundo, enquanto um drama paralelo se desenrolava na caserna, espaço concentracionário onde ao curso da guerra se somava a tensão sexual que redundaria em tragédia. O realizador Joaquim Leitão e o produtor Tino Navarro oferecem-nos uma obra memorável – a primeira a abordar os fantasmas do conflito colonial sem os estafados lugares-comuns da praxe, sem contrabando ideológico nem ladainhas politicamente correctas: 20,13 tem uma trama muito bem arquitectada e desempenhos notáveis, reunindo talvez a melhor galeria de actores secundários de um filme português. As cenas de “acção” são credíveis, os diálogos não soam a falso, até os sotaques – pormenor sempre descurado nas fitas lusas – são bem trabalhados: é possível ouvir um minhoto, um alentejano ou um ilhéu com as pronúncias de origem, sem o habitual tom declamatório que não convence ninguém. E há ainda um tabu que se desfaz: a homossexualidade na instituição militar. Tema aqui abordado com rara sensibilidade e notável subtileza - nada muito distante de Reflexos num Olho Dourado, a obra-prima de John Huston, baseada na novela homónima de Carson McCullers, que propiciou a Marlon Brando um dos melhores desempenhos da sua carreira.
Houve por cá quem torcesse o nariz ao filme? Claro que sim: certos “críticos” continuam a não perdoar os realizadores capazes de prender a atenção dos espectadores com a narração de uma boa história. Pior para eles: produções como esta revelam que o cinema português está a mudar, reconciliando-se com um público que nunca devia ter afugentado.

As palavras dos outros

"A todas las mujeres hay que pedírsela, porque la que no te lo da, te lo agradece."
Porfirio Rubirosa

(Com a devida vénia à Minha Rica Casinha)

Postais blogosféricos

1. É um novo blogue, com entrada directa para a nossa lista de favoritos: A Rota da Seda, da Margarida Pinto.
2. Também a Geração Rasca entra a partir de hoje, com todo o mérito, nos endereços de blogues que recomendamos.
3. Zona Fantasma, de Luís Rainha e Jorge Mateus: outro novo blogue a seguir com atenção.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Agora é que é!

Como despedida, dedico a mim mesmo esta verdadeira pérola do PAP (Panorama Audiovisual Português). Porfiai!

Indignados

O Paulo e o Rodrigo exerceram o seu direito à indignação, insurgindo-se contra os blogues de esquerda que incluem alguma extrema-direita nas suas listas de endereços. Confesso que também fiquei indignado: por esta não esperava, Joana.

Isto 'tá muito esverdeado

Ele é vídeos do Sporting, ele é gráficos pirosos de leões, ele é reacções ofendidas. Está tudo muito verde aqui. Ora vamos lá equilibrar isto.

Atlântico no Frágil

Logo à noite vou estar ali (acho eu, também disse que ia à festa do 31 da Armada no Stones e não pus lá os pés). Mas sempre é a festa da Atlântico (de Ano Novo?) e o PPM merece. A festa é no Frágil, Rua da Atalaia, 126, Bairro Alto.

Para o Bessa e em força

O Nortadas dedicou-nos este vídeo. Mas nós preferimos este, se não se importam. Já agora, para verem o que a casa gasta, atenção a este aqui em baixo.

Quem disse que está frio?


"Que raio, não se arranjam poi aí umas morenas? É tudo louras", protesta na caixa de comentários um dos ilustres anónimos que nos visitam às sextas-feiras. Sem desprimor para a donzela antecedente, e com o devido pedido de licença ao FAL, aqui fica a Eva Longoria, que até pode ser uma excelente dona-de-casa mas não parece nada desesperada...

Sexta-feira


Sienna Miller.

Jogo sujo

aqui dei sinal de como o debate está a descambar. Desta vez, é do lado do SIM. Isto que o Bloco de Esquerda fez é jogo sujo. Só um ignorante não percebe qual é a mensagem subliminar que está por detrás disto: Que a malta do Não é uma cambada de nazis. Ainda a campanha não começou e já só me apetece fugir. Pessoas que debatem assim fazem de nós, que temos de os ouvir, autênticos homens do lixo.

Sexualmente incorrecto

- Preferes peito ou perna, querido?
- Depende.
- De quê?
- Prefiro o peito da Scarlett Johansson e as pernas da Nicole Kidman.
- Porco machista! Agora, para castigo, vais acabar de trinchar tu este peru...

Momentos Kodak (34)

Estará Ribeiro e Castro relacionado com esta risada? Paulo Portas no congresso do CDS-PP realizado no Centro de Congressos de Lisboa.
(Abril 2004)
Foto: Rodrigo Cabrita

Gato Fedorento, Série Lopes da Silva, "Homem que é expulso de um filme português

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Entrar a abrir

As primeiras frases de um livro são decisivas para nos prenderem a atenção. Houve escritores galardoados que nunca aprenderam esta técnica – Thomas Mann é um exemplo entre muitos. Mas outros, como Graham Greene, foram exímios em cultivá-la. Reparem só no fabuloso início de um dos seus romances menos célebres – Assassino a Soldo: «Matar não significava muito para Raven. Era apenas um novo trabalho. Era preciso ser cauteloso. Era preciso usar a cabeça. Não era um gesto de ódio.»
E por aí fora. O leitor está conquistado: quer saber tudo sobre Raven. E não descansa enquanto não chega ao fim.

A nova blogosfera

Para se ter uma ideia de como a blogosfera está em permanente mutação, é preciso ter em conta que hoje não há só blogues políticos, colectivos, individuais, femininos, de claques de futebol, etc. Agora até há blogues com receitas culinárias, blogues sobre etiqueta e boas maneiras ou, leiam bem, blogues de condomínios... E esta?

Lisboa à deriva

"Vai ser difícil evitar novas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. Ninguém poderá alegar surpresa." Não sou eu que o afirmo: é José Medeiros Ferreira. Fixem estas palavras: ele costuma acertar.

24 horas

O líder do PSD, Luís Marques Mendes, já saiu em defesa do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Carmona Rodrigues. Precisou, mais coisa menos coisa, de 24 horas para o fazer. A isto se chama uma decisão bem temperada.
Marques Mendes apelou à estabilidade na CML e à necessidade de a actual equipa cumprir o seu mandato, sabendo que está vigiado por vários lados neste caso concreto. Pelo PS, pela restante oposição camarária (que é bastante activa em Lisboa, com José Sá Fernandes e Ruben de Carvalho), por Maria José Nogueira Pinto e pela sombra dos santanistas. Até ver, e apesar de não ter gostado do episódio da Baixa-Chiado (que lhe custou os pelouros), Nogueira Pinto tem sido o garante dessa estabilidade. Carmona será presidente da CML até Nogueira Pinto decidir roer a corda com mais violência. Este caso das buscas revelou isso mesmo, tendo sido a vereadora a primeira a afastar a possibilidade de eleições antecipadas na CML.
Esta notícia também é relevante, pois demonstra mais uma vez (como no afastamento de Pedro Portugal Gaspar da Baixa-Chiado) o envolvimento directo de Mendes na crise da CML. Para já está a conseguir domar a fera, mas até quando? É que, se o "circo" der para o torto, também poderá sair ferido.

Episódios da vida parlamentar (2)

Há dias, numa conferência de imprensa, ouvi as seguintes pérolas da boca de uma deputada socialista: “Houveram muitos julgamentos, houveram muitas condenações de mulheres.” Pensei: com exemplos deste calibre, os portugueses hádem ficar cada vez mais instruídos. É esperar para (ha)ver.

Conversas à lareira

Marcelo Rebelo de Sousa voltou à carga no Assim Não e no You Tube com o seu terceiro vídeo sobre a campanha para o referendo. Tal como já me tinham dito: dois vídeos a cada dois dias. Cirúrgico, Marcelo percebeu onde está o futuro e em Portugal acaba por revolucionar em poucos dias a forma de fazer política - repare-se que Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, já lhe respondeu usando a mesma via.
A partir de agora, nada será como dantes. Um político pode perfeitamente passar a usar o You Tube para responder a um adversário, sem qualquer moderação, edição ou selecção. Este fenómeno a que estamos a assistir está a acontecer num dado registo, de campanha para um referendo (ao aborto), mas poderá vir a dar-se fora destes momentos. Por exemplo, numa campanha interna para a liderança de um partido, numa disputa autárquica, como reacção a um processo ou a uma atitude do Parlamento. Quem quiser fazer uma declaração ao País, e não tiver o meio ou o espaço para o fazer, poderá usar uma ferramenta como o You Tube.
Para já, Marcelo está a fazê-lo com conta, peso e medida, defendendo as suas convicções sobre o aborto. E com graça. No terceiro vídeo há até alterações no "enredo". Em vez de sentado no sofá e a conversar com a menina que o entrevista, Marcelo está de pé, à lareira, com o braço encostado e em mangas de camisa. Em vez de dirigir-se à sua audiência como no primeiro ou de simular uma entrevista, desta vez trata-se de uma conversa.
Quem diz que Marcelo não está a preparar-se para, a seu tempo, se lançar noutros voos? O sinal destes dias é evidente. Não é líder do PSD como em 1998 e esse facto não o impediu de querer participar e ter opinião. Como só tinha o palco da RTP ao domingo e a coluna no Sol ao sábado, resolveu criar o seu espaço. As conversas à lareira de sua casa. Não ficou, como tantos outros, resguardado no seu palco, caladinho nos momentos decisivos. Não esperou que a caravana passasse, apanhou-a.

No melhor pano...


O dramático atentado da ETA em Barajas, a 30 de Dezembro, e a consequente derrapagem política de Zapatero, tornaram evidente o alinhamento do El País com o actual Executivo espanhol, bem patente nas manchetes diárias do jornal madrileno de então para cá - quase todas a "puxar" pelo Governo ou a lançar farpas à oposição. Seguem-se exemplos bem elucidativos:

4 de Janeiro
Zapatero expondrá al Congreso da nueva etapa antiterrorista
6 de Janeiro
Zapatero reúne un gabinete de crisis para responder a ETA
7 de Janeiro
Gobierno y ETA habían convenido otro encuentro en enero o febrero / Zapatero: "El proceso ha llegado a su punto final"
8 de Janeiro
El Gobierno ofrece um pacto de mínimos que valga PP y PNV
9 de Janeiro
Zapatero y Rajoy dialogan de nuevo tras el atentado sin acercar posturas
10 de Janeiro
ETA declara vigente el altro el fuego mientras amenaza com volver a actuar
11 de Janeiro
PNV y PSE se unem em la presión para aislar a Batasuna por su apoyo a ETA
13 de Janeiro
El PP boicotea las dos grandes marchas contra el terrorismo de Madrid y Bilbao
14 de Janeiro
Primera entrevista al Presidente del Gobierno tras el atentado / "ETA sólo tiene un destino: el fin"
15 de Janeiro
Zapatero pedirá hoy apoyo al PP para ampliar el Pacto Antiterrorista al PNV
16 de Janeiro
Rajoy se atrinchera contra la oferta de Zapatero de un gran frente anti-ETA
17 de Janeiro
Las exigencias de Ibarretxe y del PP impieden el pacto que impulsa Zapatero
19 de Janeiro
Zapatero sella con Ibarretxe su alianza frente a ETA pese a las divergencias

Dir-se-á: outros jornais fazem o mesmo. É verdade. Mas o El País habituou-nos a uma exigência maior. Por isso a decepção é ainda mais notória.

Portugal no Tube III

Mais um pedaço de Portugal vindo do You Tube. Um bom exemplo de como o radicalismo é a pior das doenças.

Começa a negociação a sério

A importante conferência de amanhã, em Madrid, dos países que já ratificaram o Tratado Constitucional europeu, lança o verdadeiro debate sobre o futuro da Europa. A Espanha está numa posição particularmente confortável, pois ratificou o documento por referendo que registou forte maioria favorável.
Portugal participa como observador e agora torna-se claro que foi um erro substancial não ratificar o documento. O País encontra-se numa espécie de limbo: não chumbou o tratado, mas também não concluiu o processo, pelo que terá pouco a dizer na negociação que se segue.
A Espanha já explicou o que poderá ser a posição conjunta dos 18 países que ratificaram o texto: ninguém ali deseja alterações substanciais. Madrid defende mais política de imigração e de energia, a inclusão dos critérios de Copenhaga (que regulam os alargamentos) e pouco mais. É natural que quem tenha já ratificado queira o mínimo de alterações.
Se Nicolas Sarkozy vencer as eleições francesas (forte possibilidade) já sabemos o que irá propor o novo presidente da França, um mini-tratado, o que significa simplificar todo o documento, limitando-o a duas ou três partes (metade da actual dimensão). A ideia, obviamente, deverá desagradar aos 18, que ficam com forte capacidade negocial se as grandes potências decidirem ir por aí. Se vencer Ségolène Royal, o cenário pode complicar-se, pois a sua posição ainda não é clara e o Partido Socialista está muito dividido sobre a matéria.
Há ainda a terceira possibilidade, de redacção de um novo tratado baseado no actual. Trata-se de uma solução difícil, pois há 18 países que ratificaram e apenas dois que recusaram.
Ao participar na reunião de Madrid, Portugal confirma a sua proximidade em relação à primeira tese, a de haver apenas pequenas alterações. É, no fundo, a posição tradicional portuguesa em matérias europeias: escolher o campo intermédio, onde pareça estar a maioria, e tentar ajustar a sua posição, enquanto a negociação prossegue. Pouca ambição e nada de rupturas. Mas, neste caso, ainda com menos lastro.

Conversa de táxi

- O senhor já viu como estes gajos guiam mal?
- Desculpe, estava distraído, não sei a que se refere.
- A colegas como este que vai aqui à frente. Repare: está quase parado. Parece que anda a varrer os passeios a esta velocidade! Quem é que ele pensa que apanha, a esta hora, aqui na Morais Soares?
- Pois, vai devagarinho...
oinc, oinc (som de buzina)
- Parece que adormeceu, o raio do homem. Se levasse um cliente, o senhor nem imagina, era ao contrário, acelerava que nem um doido, punha-se a voar baixinho. Malditos fogareiros, malditos fogareiros. Ah, como eu odeio esta profissão! Se o senhor aqui não viesse, nem me continha e punha-me a dizer tudo quanto esse meu colega merece ouvir. Fogareiro d'um raio. Viesse aí a brigada de trânsito que te levasse a ti mais a porra da tua mãe!
oinc, oinc, oinc, oinc, oinc, oinc.

Onde está Mendes?

A embrulhada em que se viu envolvida a Câmara Municipal de Lisboa ainda não motivou um único comentário substantivo, que eu saiba, do presidente do PSD, o principal responsável pela escolha daquela equipa autárquica. Marques Mendes não pode ignorar que está em xeque a credibilidade da maior autarquia do País, bem como daquela equipa que serviu de exemplo para afastar aqueles que ele considerava serem maus exemplos. Esta equipa de vereadores tem o dedo do líder do PSD, sabe-se até o que isso custou ao próprio Carmona Rodrigues. O actual presidente da CML viu-se, desde o princípio, completamente manietado pela necessidade de Mendes e do PSD/Lisboa em imporem as suas escolhas, não tendo sequer palavra a dizer sobre com quem poderia ou não vir a trabalhar.
Tudo isto num processo que começou, como se sabe, com os afastamentos de Pedro Santana Lopes, Helena Lopes da Costa e Pedro Pinto da corrida à CML. Três pessoas que, ou muito me engano, ou estarão neste momento a ver no que isto vai dar. Isso é certo. É que, caso Carmona não se aguente à frente da CML, Santana e 'sus muchachos' avançam para o terreno e serão os primeiros a querer, secretamente numa primeira frase, e depois às claras, que haja eleições antecipadas em Lisboa. Um cenário nada utópico nas mentes santanistas e que devia merecer todos os cuidados preparatórios da parte de Marques Mendes.
Não esqueçamos que Marques Mendes entrou, e bem, numa cruzada pela credibilização da vida autárquica, tendo até negado a Isaltino Morais e Valentim Loureiro as candidaturas sob a chancela do PSD, pelo que não se compreende agora o seu silêncio. Não esqueçamos também que este processo das buscas da Polícia Judiciária na CML acontece numa altura em que Carmona Rodrigues já não tem a maioria no executivo, após o episódio que envolveu Maria José Nogueira Pinto, que se recusou a aceitar pressões nunca desmentidas da parte do líder do PSD na constituição da equipa que ia liderar o projecto da Baixa-Chiado. Nogueira Pinto ficou sem os seus pelouros na CML, mas deixou Carmona numa situação extremamente frágil perante a oposição interna. Que não se cansará de pedir a sua saída.

Tertúlia literária (138)

- Pepetela enganou-me.
- Então porquê?
- Pensava que era ela. Mas afinal é ele.
- Ele como?
- Pepetela é nome de gajo!
- Não acredito. Pepetela só pode ser nome de mulher.
- Garanto-te. Termina em ela, mas só agora soube que é um homem.
- Não fazia ideia... Como é que o nome de um escritor pode ter um erro gramatical tão grande?

Adeus e até ao meu regresso

Sobre o caso de Torres Novas

Da barulheira gerada pelo caso da tutela menina de Torres Novas advém pelo menos uma lição: em quase tudo na nossa vida, as respostas maniqueístas revelam leituras emocionais, básicas ou superficiais de onde incorre invariavelmente o profundo erro. Tudo era mais fácil se uma das personagens desta contenda fosse definitivamente perversa e maldosa. Tudo era mais fácil se a razão não estivesse algures no meio de tantos intrincados equívocos. E isso deixa a entusiástica plateia nacional frustradamente perplexa, e desamparada, falha que foi a bengala das certezas.
Ao estado a que as coisas chegaram, o mais difícil é afinal o mais urgente: cumprir os interesses da menina, promovendo-se a sua sã convivência com a família adoptiva e paralelamente a sua gradual aproximação ao pai legítimo, relação sem a qual a criança dificilmente crescerá de forma saudável. A menina é definitivamente o elo mais fraco, o ser mais frágil de todo este macabro folhetim. Tem o seu destino ao sabor de duvidosos altruísmos e de uma fatídica burocracia.

Justiça em questão

A Magna Carta inglesa do século XIII – documento fundador do Direito moderno – estipulava que «a ninguém será vendida, negada ou adiada a justiça». Basta lermos este trecho para verificarmos como de então para cá evoluímos tão pouco.

As palavras dos outros

«Entre todos os males de que padece o nosso tempo, o maior e mais lamentável é o abuso da dor.»
Padre António Vieira

Gostei de ler

1. O apelo dinamarquês. De Eduardo Pitta, no Da Literatura.
2. O acessório não é o acessório! De Lutz Bruckelmann, no Quase em Português.
3. Correntes e fantasmas. Do Paulo Pinto Mascarenhas, na Atlântico.
4. Clima de medo. Do Carlos Lima, na Grande Loja do Queijo Limiano.
5. As pessoas têm de saber a verdade. Do Leonardo Ralha, no Papagaio Morto.
6. Faroleiro. De Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos.
7. Onde a tradição ainda é o que era. De Carlos Romão, n' A Cidade Surpreendente.
8. Blade Runner. De Miguel Morgado, n' O Cachimbo de Magritte.
9. Kiss Me Stupid. De Francisco Valente, n' O Acossado.
10. Babel. Da Bárbara Baldaia, n' O Insubmisso.
11. Ideias soltas sobre a blogosfera. Da Marta Romão, no Astro que Flameja.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O regresso do zézinho

Para todos os que acreditavam que esta seria uma campanha diferente, desenganem-se. Além desta imagem - só não a coloco aqui porque é do mais hardcore que há - que está no site da Plataforma do Não, o movimento já começou a distribuir zézinhos, pequenos bonecos que representam, nas palavras daqueles, as dez semanas. O boneco é um autêntica criança, com os dedos todos, as orelhas, olhos, cabeça proporcional ao corpo, etc. Está-se mesmo a ver onde isto vai dar.

A tensão subiu-me e de que maneira!

É assim a modos que impróprio para cardíacos: A FHM lançou um blogue só de, hmm...como dizer? É melhor verem por vós mesmos aqui. E não precisam de agradecer, é para isso que cá estou.

Nomeações para os Óscares 2006


Melhor Filme
Eleição presidencial
"Cooperação estratégica" Belém-São Bento
A eternização do processo Apito Dourado
O MIC de Manuel Alegre
A instituição do Dia do Cão, pelo PSD, na Assembleia da República

Melhor Realizador
Aníbal Cavaco Silva
Fernando Pinto Monteiro
Joe Berardo
José Sócrates
Marcelo Rebelo de Sousa

Melhor Actor Principal
Alberto João Jardim
Diogo Freitas do Amaral
Jorge Nuno Pinto da Costa
Manuel Alegre
Mário Soares

Melhor Actor Secundário
Francisco Louçã
Jerónimo de Sousa
José Ribeiro e Castro
Luís Marques Mendes
Manuel Maria Carrilho

Melhor Actriz Principal
Ana Gomes
Carolina Salgado
Maria José Morgado
Odete Santos
Paula Teixeira da Cruz

Melhor Actriz Secundária
Helena Roseta
Joana Amaral Dias
Maria de Belém Roseira
Maria de Lurdes Rodrigues
Maria José Nogueira Pinto

Melhor Filme Estrangeiro
O caso dos voos da CIA em Portugal
Os cartunes dinamarqueses que chocaram Freitas do Amaral
O braço de ferro entre Portugal e a Austrália a propósito de Timor
O jogging de Sócrates no "calçadão" do Rio de Janeiro
A alergia ao picante do casal Cavaco Silva na Índia

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Escolhas minhas, naturalmente: Hollywood não quer saber disto para nada. Vote quem quiser, quem puder e quem souber.

O estado do CDS (1)

Paulo Portas prepara-se para regressar à liderança do CDS. É esta a leitura óbvia das palavras sibilinas que o antecessor de Ribeiro e Castro deixou ontem no seu programa quinzenal da SIC-Notícias, O Estado da Arte.
“Tenho sobre o CDS uma opinião formada. Mas só a comunicarei depois do referendo do aborto. Quando falar, não falarei como comentador”, disse Portas, à conversa com Clara de Sousa. Tradução: quando falar, será como recandidato à liderança. Castro que se cuide: vem aí novo congresso extraordinário, destinado a destroná-lo. Portas só queria avançar em 2008, mas pelo rumo que as coisas levam arrisca-se nessa altura a já não encontrar partido algum, o que o força a antecipar o calendário. Portistas e castristas têm-se encarregado de estilhaçar um partido que noutros tempos foi respeitado e respeitável mas que está em vésperas de ser leiloado na praça pública.
“Qualquer palavra minha dita neste momento seria certamente desestabilizadora”, observou Portas. Tradução: o que disser, talvez logo na noite de 11 de Fevereiro, vai abalar a actual liderança do Caldas. Ribeiro e Castro tem três semanas para fazer as malas. Ou melhor: para não as desfazer, já que nunca chegou a despedir-se de Bruxelas. Uma atitude de visionário.

O estado do CDS (2)

Dizendo que não dizia, Portas acabou por dizer bastante. Em nenhuma matéria foi tão explícito no pré-combate a Ribeiro e Castro como nos elogios rasgados que deixou a Nuno Melo, sublinhando que este deputado agora em ruptura com o ainda presidente do CDS “foi um bom líder parlamentar”. Disse-o três vezes para que ninguém ficasse com a mínima dúvida, em claro desafio a Castro. Melo – insistiu Portas – “foi um líder parlamentar que várias vezes incomodou e algumas vezes irritou o primeiro-ministro”. Com o seu desempenho “prestou um bom serviço” ao partido e ao País.
Se o Caldas tivesse categoria para imitar Hollywood, Portas seria o mais sério candidato aos Óscares de Melhor Argumento Adaptado e Melhores Efeitos Especiais. Melo recebia a estatueta para Melhor Som. E Castro levava para casa um Óscar honorário, daqueles destinados a distinguir uma carreira que chega ao fim.

Hoje é sobre jornalistas IV

Agora que a procissão sai do adro a caminho do referendo, gostava de suplicar aos quatro ventos e ao quinto poder, a todos os seus agentes, um esforço suplementar de ISENÇÃO.
Ao contrário do que nos querem fazer querer as sumidades empoleiradas do politicamente correcto, há duas respostas possíveis à pergunta do dia 11 de Fevereiro. Há o SIM e há o NÃO. Ao contrário do que nos fazem querer os arautos da nova e rasteira inquisição, não há uma resposta BOA e uma resposta MÁ. Não há uma facção de HONESTOS, e outra de HIPÓCRITAS. Os INTELIGENTES e os ESTÚPIDOS, os CULTOS e IGNORANTES.
Admiro e valorizo de sobremaneira a profissão de jornalista. Antes de tudo esta pode e deve ser um nobre serviço. Mas se os profissionais que escolhem e editam as notícias, as fotografias, as manchetes e os protagonistas, não superarem EMPENHADAMENTE os seus preconceitos, estão a perverter a democracia, a trair a res pública, e a promover a BATOTA neste referendo. E com batota, sem jogo limpo, ninguém ganha, perdemos todos, perde Portugal.

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A nós as nossas garras

O Carlos Furtado, do bravíssimo Nortadas, emendou a mão. E com grande categoria. Vale a pena ler e ver a estátua que nos dedica - por acaso um dos monumentos da Invicta que mais aprecio...
Está reposta a verdade.

Tertúlia literária

Encontre o livro você mesmo.


Pink Martini - Sympathique

Momentos Kodak (33)

Não, hoje não é sexta-feira... É apenas Manuela Ferreira Leite a chegar a uma reunião de Conselho de Ministros na vila alentejana de Fronteira. Em 2002.
Foto: Rodrigo Cabrita

terça-feira, janeiro 23, 2007

Amor, versão 2007

Já me aconteceu outras vezes, volta hoje a acontecer. No restaurante onde janto, reparo numa mulher muito bonita. Mira de soslaio, com ar de infinito enfado, o companheiro que não tira os olhos do telemóvel. Enquanto ela contempla o prato, com visível falta de apetite, ele entretém-se com um gadget qualquer do aparelho, que não pára de buzinar. E assim passam a refeição: ele alheado, ela resignada àquela solidão a dois. São ambos jovens, presumíveis namorados. Ao ver uma falta de chama tão evidente naquela mesa interrogo-me porque se tornou tão démodée a arte do namoro, do galanteio, do prazer de partilhar pequenos momentos inesquecíveis. Um imenso cansaço apodera-se das relações humanas nesta sociedade em que o real cede lugar ao virtual. Namorar um aparelho up to date é que está a dar. E milhares de “bjs” por sms tornam-se mais excitantes do que beijar à moda antiga.
Penso nisto enquanto os vejo sair, já paga a conta. Ela segue em frente, irradiando elegância e tédio. Ele atrás, de olhos fitos no aparelho que não cessa de apitar. Um par perfeito dos nossos dias.

Colecção de crónicas (VIII)



Li a história num blogue de guerra, Blackfive.net, da autoria de um militar americano que assina blackfive. A necessidade de criar um blogue surgiu, segundo conta, após saber da morte em combate de um seu amigo, o major Mathew Schram, mortalmente ferido numa emboscada, no Iraque, quando comandava uma coluna de abastecimentos. A emboscada foi clássica: os insurrectos atacaram o primeiro veículo da coluna de oito camiões e conseguiram imobilizá-lo. O oficial estava no interior da coluna, num Humvee com maior flexibilidade. Agindo com rapidez, Schram ordenou um contra-ataque, para evitar que o último veículo também fosse imobilizado. A acção deu tempo à coluna para sair do local, mas o Humvee atraiu o fogo inimigo e acabou atingido. Schram morreu nesta acção.
O que levou Blackfive a lançar o seu blogue foi o facto de também ter caído na mesma emboscada um veículo onde viajava um jornalista americano, de uma conhecida revista. A lógica da acção dos insurrectos continuava a ser a de se imobilizar o último veículo da coluna. A destruição deste, agora um carro civil, era mais fácil. O jornalista teria morrido, se não fosse a corajosa decisão de Schram de avançar contra os insurrectos no seu Humvee. Blackfive tem a certeza de que o jornalista deve a sua vida ao sacrifício do major, no entanto o nome de Schram não surgiu em nenhuma das reportagens.
Para mim, com as devidas proporções de violência, esta é uma crónica difícil de escrever. Em várias incursões em “território Comanche”, estive em perigo relativo. E não posso deixar de pensar nos acasos que me levaram a essas situações e, ao mesmo tempo, nos riscos que algumas pessoas correram para me protegerem da minha própria estupidez.
Esqueci o nome de um taxista de Bissau, uma bisarma, que me defendeu (literalmente) no funeral de Ansumane Mané, onde uma multidão enraivecida, maioritariamente muçulmana, já nem fazia esforço para conter a sua hostilidade em relação a forasteiros, nomeadamente brancos. Às tantas, eu era o único europeu no local; estava no meio de uma turba imprevisível; arriscara demasiado. E, então, quando me começava a assustar com aquilo (era indescritível) reparei no corpanzil do rapaz, que afastava gente enfurecida da minha volta, largando os braços para os lados, criando um espaço vazio. Ele era mandinga e vi-o a discutir várias vezes, na sua língua, com tipos que me olhavam como quem olha para um frango a depenar...
Já contei aqui a história de outro dos meus anjos da guarda. Infelizmente, não guardei o nome dele em nenhum apontamento. A fronteira do Koweit parecia intransponível. Enfim, passavam colunas infindas de camiões americanos (as guerras, hoje, são ganhas pela logística), mas impedia-se a passagem de civis, excepto por um ponto no deserto, que exigia GPS. Um dia conseguimos, mas sem jipe e, de facto, era suicídio tentar permanecer ali. Eu é que não sabia. Estava numa cidade iraquiana da fronteira, chamada Safwan, e pensei em permanecer no hospital (uma espécie de centro de saúde, que esvaziava à noite) até ver a cara do médico com quem conversava. Mal perguntei se podíamos pernoitar ali, ele empalideceu. Percebi de imediato, pela sua expressão, que isso era uma loucura. Só mais tarde soube que, à noite, reinava o caos mais absoluto na cidade.
A terceira pessoa que me salvou e cujo nome nunca soube foi uma mulher franzina. Decorriam eleições na Guiné e houve um incidente na estrada, com a população muito excitada por não poder votar no bairro ali perto. Estava com o Leonardo Negrão e fomos ver. Mas, de súbito, a população ficou descontrolada e um rufião começou a tentar transformar aquela simples entrevista num desafio (como se eu fosse das autoridades). Num gesto inesperado, o rapaz tirou-me o chapéu da cabeça. Não reagi nem mostrei medo, mas a situação só não degenerou porque uma mulher de aparência frágil tirou o meu chapéu das mãos do rufião e, num gesto lento, puxando-me pelo ombro, fazendo-me inclinar, colocou-o na minha cabeça, como se me coroasse. E, a partir desse momento, tão belo tinha sido o gesto, só houve sorrisos à minha volta...

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Pontapés na gramática


Não sei se os adeptos de Ségolène Royal na blogosfera portuguesa sabem, mas a senhora voltou a fazer das suas. Numa visita "oficial" à China (o país ideal para a nova esquerda europeia, pelos vistos), a candidata socialista nas presidenciais francesas do fim do ano inventou uma nova palavra - "bravitude" -, o que tem gerado grande discussão no seu País. Leia-se este excerto da reportagem da RFI: "Pendant trois jours, une trentaine de journalistes français suivront de près la candidate, toujours enveloppée dans un grand manteau couleur neige, très photogénique. Au fil de son parcours, elle égrènera les proverbes chinois (choisis dans un recueil qu’elle garde dans son sac) et forgera même un néologisme, la «bravitude», qui fera couler beaucoup d’encre".
A gaffe podia ser coisa pouca, não tivessem os franceses (tal como nós, lembre-se Guterres e o PIB) uma grande predilecção por políticos gaffeurs. A tirada estará até ao nível das que Jacques Chirac veio produzindo ao longo dos anos (aliás, estão compiladas em livro) e deverão estar a deixar Nicolas Sarkozy bastante preocupado, pois poderá não estar à altura da sua adversária no pontapear da gramática francesa...

P.S. (1) - Lamento ter de voltar ao assunto da indumentária da candidata (que, como se vê pela peça jornalística 'linkada', é um tema muito em voga), só que reparei nesta fotografia da senhora que acho merecedora da vossa atenção. Então não é que Ségolène se faz apresentar em cerimónias políticas ao mais alto nível de bota alta e saia curta?..
P.S. (2) - Meus caros Carlos Manuel Castro e Luís Novaes Tito sugiro que leiam a Rititi para verem mesmo o que está a dar...
E, Carlos, registo que já começou a perceber as várias incongruências da candidata e concordo consigo num ponto: ainda nos fomos rindo à conta daquela "estória" da 'toillette'.

A quem possa interessar

As bolas azuis e brancas colocadas nas árvores da Avenida da Liberdade como decoração de Natal permanecem hoje, dia 23 de Janeiro, pendentes nos ramos, apenas mais pálidas e desfiadas. Estará a entidade responsável à espera que aquelas chinesices caiam de maduras?

Marcelo entra no jogo

Depois de avançar com um site para intervir na campanha para o referendo de 11 de Fevereiro, o Assim Não, Marcelo Rebelo de Sousa e os seus amigos blogonautas (alguns eu sei quem são) resolveram internacionalizar-se. Marcelo tem dois vídeos no You Tube: o novo, sob o título "Resposta a Francisco Louçã", e o primeiro, que lançou o tal "sítio" (como lhe chama o ex-líder do PSD), que se chama "As Razões do Assim Não". Ambos os vídeos foram também linkados e postados em dois dos blogues mais vistos do País online, ambos de direita. No blogue da Atlântico e no 31 da Armada.
Marcelo demonstra assim ser o primeiro político em Portugal a compreender o fenómeno e a saber usá-lo, com algumas ajudas é certo. Lá fora, Ségolène Royal gravou uma mensagem de Ano Novo para difusão na Internet e Hillary Clinton também não se esqueceu dos sites quando há dias se lançou nas primárias norte-americanas. É caso para dizer que Marcelo já percebeu seguramente onde está o futuro. Será que o professor irá passar a usar estes meios para, ciclicamente, poder ter intervenções certeiras na actualidade política para além do seu programa na RTP1, mesmo após o referendo?
Já agora, uma sugestão e uma pergunta aos colaboradores de Marcelo nestas andanças: 1) Em relação ao primeiro vídeo, era escusado o professor dizer a hora, os minutos e os segundos em que decorria a gravação. Dá ideia de um homevideo muito rudimentar; 2) Quem será a menina que entrevista Marcelo no segundo vídeo? Pelo visionamento não dá para perceber o nome, porque o comentador refere-se à sua pseudo-entrevistadora (isto porque se presume que não seja uma jornalista, porque só faz uma única pergunta) muito depressa. Em abono da credibilidade do vídeo, era bom que se apresentasse, porque senão as semelhanças com o vídeo de Ségolène passam a ser muitas. No da candidata presidencial francesa a câmara tremia para dar a ideia que era um vídeo amador (quando aquilo foi mais que pensado pelos spindoctors), no do potencial candidato presidencial português de 2011 ou 2016 pode parecer uma simulação de uma entrevista, o que é mau. Do primeiro para o segundo vídeo nota-se a evolução. Marcelo sente-se muito mais confortável no papel de entrevistado do que sozinho a dirigir-se à Nação. Mesmo que, no caso, se trate de uma pseudo-entrevista.

Estrelas de cinema (2)


DÉJÀ VU **
A ficção científica cruza-se com o policial usando a Nova Orleães pós-furacão Katrina como cenário. Ingredientes interessantes, tal como o desempenho de Denzel Washington. Pena que o argumento resvale para um amontoado de peripécias, em grau crescente de inverosimilhança, que retiram credibilidade à interessante questão que serve de premissa: e se uma máquina digital capaz de nos fazer recuar no tempo fosse capaz de impedir um brutal atentado terrorista e dar-nos a conhecer os mais ínfimos passos do seu autor? A duração excessiva desta película de Tony Scott, agravada por uma escusada pirotecnia de efeitos especiais, tão em voga no cinema americano, impede-a de ganhar asas. Déjà vu: já vimos disto noutro tempo e noutros locais.

A capa do dia (7)

O The Guardian mostra hoje na capa dois dados interessantes. A manchete - "Judges try to block rape trial reforms" - revela como há sempre resistências corporativas, mesmo quando o que está em causa - "Changes to rules on consent, expert witnesses, video evidence opposed" - é de elementar bom senso e se trata de um avanço considerável a favor da comunidade. Na coluna lateral, destaque ainda para uma sondagem que dá os conservadores à frente dos trabalhistas. Eis os resultados: Conservadores - 37%; Trabalhistas - 31%; Liberal-Democratas - 23%. A sondagem sugere que a actual imagem pública de Tony Blair está a prejudicar o valor do Labour e o jornal adianta que a tarefa que espera Gordon Brown (que também cai em termos pessoais) é muito difícil. Eu diria titânica.

A ler

1. "O Apelo Dinamarquês", por Eduardo Pitta.
2. "Boas Notícias", por Marta Romão.
3. "As razões de um 'sim' à IVG e resposta a alguns 'nãos'", por Vasco Rato.
4. "O Preço e o Valor", por Fernando Sobral.
5. "A Situação e os Colaboracionistas", por João Gonçalves.
6. "Um Homem Bom", por Luísa Rego.
7. "Avé Pierre! par Pedro Cem", 'postado' por Mendo Castro Henriques.